Alguns colegas do black bloc indiciado por ter ajudado a jogar o artefato que matou o cinegrafista Santiago Andrade foram visitá-lo na delegacia, e houve confusão com alguns cinegrafistas presentes no local. Aquela tal de Sininho (nome adequado para quem sofre da Síndrome de Peter Pan e se acha eternamente adolescente) os acusou de “carniceiros”, e um amigo avisou, em tom de de ameaça: “Você será o próximo”.
Nisso, coberto de razão, o
cinegrafista deu com a câmera na cabeça do vagabundo, e partiu para cima dele.
Sozinho, sem seu bando de 40 ou 50 comparsas, no mano a mano, restou ao black
bloc sem máscara recuar, buscar abrigo atrás das moças que o acompanhavam. Veja
as imagens:
Tudo isso nos remete à análise
que Gustave Le Bon fez sobre a psicologia das massas no final do século 19. O
estudo exerceu forte influência em Freud. Eis um resumo das conclusões:
Uma massa é como um selvagem;
não está preparada para admitir que algo possa ficar entre seu desejo e a
realização deste desejo. Ela forma um único ser e fica sujeita à lei de unidade
mental das massas. No caso de tudo pertencer ao campo dos sentimentos, o mais
eminente dos homens dificilmente supera o padrão dos indivíduos mais
ordinários. Eles não podem nunca realizar atos que demandem elevado grau de
inteligência. Em massas, é a estupidez, não a inteligência, que é acumulada. O
sentimento de responsabilidade que sempre controla os indivíduos desaparece
completamente. Todo sentimento e ato são contagiosos. O homem desce diversos
degraus na escada da civilização. Isoladamente, ele pode ser um indivíduo; na
massa, ele é um bárbaro, isto é, uma criatura agindo por instinto.
Ou seja, uma criança mimada
com uma bazuca na mão, assim é uma massa de autômatos. Seus desejos se
confundem com direitos, e ai de quem estiver no meio como obstáculo. As emoções
turvam a razão. O mais inteligente dos indivíduos age como o mais idiota, pois
não há inteligência no bando monolítico.
Slogans e frases de efeito
substituem reflexões e pensamentos críticos. A responsabilidade, sempre
individual, desaparece, dando lugar à sensação de invencibilidade. A euforia é
contagiosa e mesmo o mais covarde do bando assume ares de virilidade jamais
vistos. O ser humano cede espaço para o bárbaro, o animal que reage por puro
instinto.
Eis a psicologia das massas de
Le Bon. Cai como uma luva para explicar o que temos visto nessas
“manifestações” de vagabundos mascarados. Retire o sujeito do bando e retire
sua máscara, o que resta é um indivíduo, com suas fraquezas e medos, suas
inseguranças e receios, sua covardia.
* O post scriptum que
afirmava que o cinegrafista bateu pouco foi retirado após mais reflexão e
críticas construtivas de alguns leitores. Não é meu perfil endossar violência
de tipo algum, e foi escrito no calor da revolta. O correto seria o
cinegrafista dar voz de prisão ali mesmo, em frente à delegacia, e usar o vídeo
gravado para comprovar a ameaça de morte que recebeu do “valentão”. Essa seria
a postura mais adequada.
Título e Texto: Rodrigo Constantino, 11-02-2014
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