José António Saraiva
Como dizia Jerónimo de Sousa, se o PCP
tivesse umas candidatas “mais engraçadinhas” teria tido mais votos.
Depois pediu desculpa por este
aparte, mas não sei porquê.
Estava cheio de razão.
De facto, o que pode explicar
o salto enorme dado pelo Bloco de Esquerda nas eleições de 2015, em que o
número de deputados cresceu quase 140%?
Estando praticamente morto em
consequência das divisões internas que levaram à saída de Rui Tavares, Ana
Drago, Daniel Oliveira, Joana Amaral Dias, etc., o BE ressuscitou, ultrapassou
o PCP e atingiu os 10,2% de votos.
Porquê?
Por ter mudado de ideias?
Não.
Por causa das tais candidatas
‘engraçadinhas’ que pôs na linha da frente.
E atenção: isso não foi obra do
acaso.
Catarina Martins já esclareceu
que se tratou de uma decisão pensada e consciente - a qual, aliás, se estendeu
às autarquias.
Este expediente político
constituiu, porém, um enorme embuste.
Durante o tempo em que Daniel
Oliveira, Luís Fazenda, Rui Tavares ou mesmo João Semedo falavam em nome do BE,
havia uma coerência entre a imagem e o conteúdo das propostas: todos pareciam
saídos da revolução bolchevique e portanto não enganavam ninguém.
Com Catarina Martins, Mariana
Mortágua e Marisa Matias deixou de ser assim.
Catarina moderou a
agressividade, Mortágua fala com doçura, Marisa parece sussurrar as palavras.
As pessoas foram levadas a
pensar que este BE era outro, que deixara de ser radical e abandonara o
extremismo do passado.
A proposta de se poder mudar
de sexo aos 16 anos, sem parecer médico e mesmo contra a vontade dos pais,
mostra a sua verdadeira face.
Aos 16 anos não se pode
conduzir um carro e pode tomar-se uma decisão tão extrema como mudar de sexo?
Sem parecer médico? Sem acordo dos pais?
A mudança de sexo é um ato
brutal, violentíssimo, com consequências psicológicas devastadoras.
E que frequentemente se revela
uma ilusão: pessoas que não se sentem bem na sua pele, e atribuem isso a um
‘erro da natureza’, verificam depois de mudar de sexo que os problemas
continuam e até se agravam.
Assim, uma decisão dessas
nunca poderá ser tomada na adolescência - ou seja, numa época da vida cheia de
dúvidas e perplexidades, em que o indivíduo está ainda à procura de um caminho
e de uma identidade.
Um partido que propõe uma
medida destas está preparado para propor muitas outras aberrações.
Os comunistas achavam, por
exemplo, que os filhos deveriam ser retirados aos pais e entregues ao Estado,
pois os pais não tinham capacidade para os educar nos ‘sãos princípios’ da nova
sociedade sem classes.
Para construírem o ‘homem
novo’, os comunistas precisavam de reduzir a escombros a família, as tradições,
os costumes, a religião, etc., pois só depois disso poderiam começar a erigir
algo de diferente.
O BE partilha da mesma ideia.
A legalização do aborto, a
liberalização das drogas, a autorização da eutanásia, a banalização da mudança
de sexo, etc., visam cortar todas as amarras, todas as regras, todos os
preconceitos, todas as crenças, todos os valores da sociedade tradicional,
rompendo com o passado.
E o ataque à economia de
mercado e à religião, sobretudo à Igreja Católica, na linha do comunismo
tradicional, completam o puzzle.
Por trás dos rostos angelicais
de Catarina Martins, Mariana Mortágua e Marisa Matias, esconde-se um modelo de
sociedade abominável.
O BE promete aos indivíduos
que serão mais livres, porque poderão fazer tudo o que quiserem: desde abortar
a mudar de sexo antes da idade adulta.
Só que, por outro lado, o BE
defende uma sociedade concentracionária, onde o indivíduo perde toda a
liberdade e o único poder é o Estado.
O BE quer uma banca
nacionalizada, quer uma escola exclusivamente pública, quer uma rede de saúde
também unicamente pública, quer que o Estado seja o principal investidor.
É certo que o BE não diz que
quer abolir a economia privada, mas também não precisa: quando os privados se
sentirem indesejados, desaparecem.
O poder público será o único a
sobreviver.
O BE vende a ideia de que quer
cidadãos mais livres, Catarina Martins e Mariana Mortágua vestem-se de
cordeiros, mas é tudo um disfarce, uma mentira.
O modelo do Bloco resume-se a
uma frase: tudo no Estado, nada fora do Estado; ora esta fórmula já produziu
noutras épocas e noutras paragens milhões de vítimas.
Sob uma aparência nova, o BE
tem uma agenda velha de 100 anos.
O Estado é dono de tudo, o
partido domina o Estado e a nomenklatura domina o partido.
É isto o que as caras
‘engraçadinhas’ têm para oferecer, além da eutanásia e da mudança de sexo.
E é de mãos dadas com esta
gente que o PS governa o país.
P.S. - Os concursos públicos
foram criados para acabar com o escândalo das nomeações partidárias. E os
mandatos dos gestores públicos foram implementados para os tornar independentes
dos ciclos políticos. Ora, sem explicações, este Governo começou a fazer tábua
rasa de uma coisa e outra. Demitiu o presidente do CCB, António Lamas, demitiu
o presidente da Compete, Vinhas da Silva, demitiu o diretor-geral das Artes,
Moura Carvalho, demitiu a direção da Segurança Social, presidida por Clara
Birrento, e nas últimas horas houve novas demissões a meio dos mandatos e mais
nomeações sem concurso público. Como é isto possível? Os concursos e os
mandatos foram criados para quê? O
Governo socialista mostra assim o seu amor à democracia.
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