Valdemar Habitzreuter
Mais um atentado terrorista
nesta semana na França matando um casal de franceses por um fanático
muçulmano...
Supostamente as religiões
deveriam ser caminhos que homens e mulheres trilham para que o amor e a paz
prevaleçam entre os povos. É o que deveria ser. O objetivo, portanto, das
religiões é apresentar um modelo de perfeição que deve ser o paradigma de
orientação com o qual a humanidade possa atingir os ideais da paz ou, se
quiserem, a salvação. Dá-se o nome de Deus a este modelo - um Ser perfeitíssimo
de amor e paz, e sua existência é irrefutável, mesmo que a inteligência humana
não consiga reunir provas de sua existência.
Portanto, todo homem e mulher
devem ter este modelo na sua jornada da vida, todos a caminho visando o amor e
a paz.
O interessante é que Deus – a
absoluta perfeição – é um ser transcendente, colocado fora ou acima deste mundo
por ele criado e que os homens tornaram imundo pelas suas imperfeições. É preciso
reverter o estado de imundo, de imundície, e voltar a ser novamente mundo, isto
é, limpo, perfeito. Isto só através da religião que purifica os homens e os
torna novamente dignos deste mundo.
As religiões, portanto, têm a
incumbência de planejar esta via da perfeição. É aí que o bicho pega. Quem,
nestas religiões, tem a autoridade para mostrar aos homens o caminho que leva
ao numinoso, ao seio do Ser perfeito que está distante, não se sabe onde, e
incomunicável? Entra aí o papel de certos homens, os profetas.
Nas três grandes religiões:
judaísmo, cristianismo e islamismo, encontramos inúmeros desses homens profetas
que são tidos os elos entre Deus e os homens – os mensageiros de Deus. Deus
falava através dos profetas enviando mensagens para que homens e mulheres
seguissem normas no caminho da perfeição.
Para não entrar em delongas,
foquemo-nos no islamismo. Seu profeta maior foi Maomé. Maomé é considerado para
os adeptos do islamismo o que teria recebido as mensagens cabais para serem
tomadas em conta por todos os homens. Desde Adão, Abraão, Moisés, Jesus
(considerado profeta pelo islamismo) as mensagens divinas não tinham sido
transmitidas por completo. Isto só se realizou com Maomé.
É aí que se esconde o
fundamentalismo religioso. Queiram ou não os adeptos do islamismo, há aí um
suposto entendimento e sentimento de que o islã é o complemento das outras
religiões, portanto superior a qualquer outra. Maomé tem de ser seguido à
risca, pois foi o último profeta ao qual foi confiado a mensagem completa de
Deus mostrando o caminho a que a humanidade deve seguir.
E qual foi a mensagem recebida
por Maomé a que mais se aferram os radicais islâmicos? A de que o Islã deve ser
imposto ao mundo e morte aos infiéis que se renegam a seguir seus preceitos. É
o que supostamente Alá teria transmitido a Maomé: “... mate os idólatras onde
quer que você os encontre, e capture-os, e cerque-os, e prepare para eles para
todas as emboscadas...Lute contra aqueles que não creem em Deus, nem no dia do
Juízo, e nem proíbem o que foi proibido por Deus e Seu Mensageiro – esses
homens não praticam a religião da verdade...”
É um claro incentivo ao
terrorismo a que estamos presenciando em pleno século XXI como nos esporádicos
atentados e agora mais este ao casal de franceses nesta semana.
O papa Bento XVI alertara numa
conferência numa universidade alemã: a fé deve ser alicerçada na razão para não
incorrer em fanatismo e falsidades e o islamismo peca intrinsicamente pela
violência e por falta de racionalidade. Decorre daí de que setores radicais do
islamismo querem impor suas convicções religiosas irracionais a não-muçulmanos
através da sharia, a lei muçulmana que deve reger a conduta de todo homem.
Bento XVI teve se retratar perante o mundo muçulmano para não sofrer
consequências funestas.
Embora a Biblia judaico-cristã
esteja recheada de práticas violentas, eram elas práticas pontuais sem que elas
constituíssem uma norma teológica para que tais práticas se perpetuassem. No
Antigo Testamento, os cananeus foram dizimados pelos hebreus e ponto, ficou
como fato histórico. Na idade média, as cruzadas dizimaram os habitantes da Terra
Santa que os muçulmanos tentaram se apoderar. Foi um ato de defesa e nada mais.
Outro fato histórico e ponto final.
Mas na teologia muçulmana há
uma ideologização: pretende-se um Califado Universal, uma teocracia mundial,
tendo como carta magna o Alcorão e suas leis que devem ser observadas
rigorosamente por todas as nações. Estas leis são prescritivas e não
descritivas. A diferença é que a prescrição é coercitiva, isto é, obriga a
observar as leis, enquanto a descrição suscita apenas uma sugestão para seguir
o que está escrito.
Não há como barrar esta
ideologização muçulmana se não houver um esforço dos teólogos do Islã de
introduzir o elemento racional na mente desses grupos fundamentalistas que se
pautam pela mensagem de ódio aos infiéis de seu profeta Maomé. É lamentável que
religiões se deem ainda a prerrogativa de possuir a verdade absoluta.
Deixo uma pergunta no ar: O
que seria da humanidade sem religião alguma, se isso fosse possível? Melhor ou
pior?
Título e Texto: Valdemar Habitzreuter, 15-6-2016
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