Alberto Gonçalves
Na sua página do Twitter, a
dona Catarina Martins recomendou um artigo do Público intitulado "Não sou
Orlando, sou LGBT". O artigo, assinado por um "estudante" e
"activista" (leia-se um rapaz do BE), fala em "ataque
homo-bi-transfóbico" (caramba!) e termina a convocar as massas para uma
marcha em Lisboa. Ao citá-lo, a dona Catarina Martins repete o cliché de outros
grandes vultos da humanidade, incluindo a excelência que ocupa o cargo de
primeiro-ministro: a matança naquela cidade da Florida reduz-se a um acto de
homofobia, que segundo o dr. Costa "feriu de morte a Liberdade
[sic]".
Apesar de a escrever com
maiúscula, o dr. Costa tipicamente desconhece o significado da palavra. Liberdade
é justamente permitir a existência de opiniões ou sentimentos distintos dos
nossos, por patetas ou grotescos que os consideremos. A homofobia, enquanto
pavor da homossexualidade ou ódio a homossexuais, é uma opinião ou um
sentimento, matérias que só um espírito muito pouco livre pode achar
criminosas. Numa sociedade decente, um indivíduo deve gozar do pleno direito de
abominar gays, ciganos, brancos, banqueiros, esquimós, loiras, drogados, anões,
políticos ou benfiquistas. Não pode é pôr as suas "convicções"
(digamos) em prática a ponto de prejudicar alguém. Isso é que constitui um
crime. O resto é, se assim o entendermos, mera estupidez.
E estúpido também é acreditar
nas aflições de tantas almas perante os "ataques
homo-bi-transfóbicos". Sobretudo quando essas almas defendem em simultâneo
o exacto tipo de cultura que, em vez de ridicularizar a homofobia, incentiva-a.
E que, em vez de punir as atrocidades cometidas a pretexto, legitima-as. Toda a
versão "mediática" da discoteca Pulse ignora o elefante no meio da
sala - e que partiu a louça por culpa de Newton e da gravidade.
A fim de evitar a demência
terminal, convém reparar no elefante: Omar Mateen, o assassino, era muçulmano e
afirmou agir em nome do islão. Os países subjugados ao islão condenam e perseguem
legalmente os homossexuais. Os Estados Unidos, por exemplo, condenam e
perseguem legalmente as criaturas que agridem homossexuais. Não me lembro de
nenhuma ocasião em que, no "confronto de civilizações" ou no que lhe
quiserem chamar, a maioria dos nossos alegados inimigos da discriminação
estivesse do lado que costuma proteger as respectivas vítimas.
Será cisma minha, mas
desconfio um bocadinho do "activista" que, mal termina a marcha
contra a homofobia, corre a marchar pela Palestina (embora, concedo, sejam
raríssimos os tiroteios nos clubes gay de Gaza). Para não fugir demasiado do
imaginário, é uma figura tão credível quanto um entusiasta da Noite de Cristal
que se afirmasse amigo dos judeus. Usar quem morre para alimentar uma
"causa" sem nunca valorizar a causa confessa de quem mata é, no
mínimo, um acto de oportunismo velhaco. No máximo, é patrocinar a chacina.
Evidentemente, essa gente não é Orlando nem LGBT: é, como sempre foi, pela
força que representar a maior ameaça ao Ocidente.
E, conforme se constata pelos
alvos quotidianos dos terroristas islâmicos, organizados ou
"espontâneos", o Ocidente não se esgota nos perversos sodomitas.
Temos igualmente galdérias que exibem a pele na via pública, hereges que
assistem a concertos de rock, tarados que aguardam aviões em aeroportos,
infiéis que frequentam restaurantes, blasfemos que caminham pela rua, todos a
pedir para que um mártir os rebente. As fobias, ao que se vê, são inúmeras, e
se ousamos atribuir-lhes um padrão comum ganhamos mais uma: islamofóbicos.
As acusações de
"islamofobia" são a tentativa de simular escândalo face aos triviais,
e compreensíveis, receios do cidadão comum: lá por conter umas dúzias (ou uns
milhões, não importa) de extremistas, o islão - homessa - é essencialmente moderado.
Por mim, tenderia a crer piamente no islão moderado se este entregasse com
regularidade os seus radicais filhos à polícia ou, na falta de esquadra
próxima, os pendurasse no alto de um poste. A quantidade de desculpas prontas
ou pesares tardios com que trata psicopatas faz-me duvidar ligeiramente do
empenho do islão moderado em justificar a designação. É claro que muitos
muçulmanos não sonham com a explosão de transeuntes. Porém, já que se pretende
banir ou castigar opiniões, seria interessante questioná-los sobre o respeito
que dedicam às mulheres, a certos grupos étnicos, a determinadas religiões e,
se não for maçada, aos homossexuais. Aliás, eles respondem ainda que ninguém
lhes pergunte. Os "activistas" é que fingem não ouvir.
Título e Texto: Alberto Gonçalves, Diário de Notícias, 19-6-2016
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