Duarte Marques
O congresso do Partido
Socialista foi uma espécie de “profissão de fé” da gerigonça, depois do
batismo político destes últimos seis meses, que confirma a esquerdização do
partido, afastando-se cada vez mais do PS de Soares e do europeísmo que sempre
o caracterizou.
António Costa consumou a união
de facto com o BE e com o PCP e rompeu o casamento com o projeto europeu.
Após este Congresso, o PS surge como um partido profundamente crítico da europa
que temos, renega o seu papel na construção europeia colocando-se
surpreendentemente mais longe de outros socialistas como Hollande ou Renzi,
para se sentar na mesma bancada de partidos como Syrisa, o Podemos, ou o
movimento 5 Estrelas. Após este fim de semana, o PS assume-se como
partido de protesto, com um líder tacticista e um programa de governo populista.
O Governo de esquerda recorre
agora à mais velha das "táticas políticas”, encontrando um inimigo
externo: a Europa, neoliberal e nas mãos da direita. Mas vamos então aos
factos e à desmistificação de alguns truques do primeiro-ministro:
Em primeiro lugar, a União
Europeia não é comandada nem pela direita nem pelo PPE. O Conselho
Europeu tem apenas 6 primeiros-ministros conservadores contra 8 socialistas
(do Partido Socialista Europeu), mais Alexis Tsipras da Grécia que é tudo menos
de centro ou direita, alguns liberais e outras coligações entre socialistas,
liberais e populistas. Já para não falar do líder do Parlamento Europeu,
Martins Shulz, socialista e que tem assento no Conselho Europeu. Ou seja, António
Costa mente ao dizer que a europa é liderada pela direita, hoje os socialistas
europeus têm capacidade e votos para alterar o rumo da europa. Senão a
mudam é porque não o desejam.
Aliás, as críticas de António
Costa à “direita europeia” são ainda mais ridículas quando é Jean
Claude Juncker, Presidente da Comissão e membro do PPE, que quer evitar sanções
a Portugal, e é o presidente do Eurogrupo, Jeroen Dijsselbloem, colega de
António Costa no Partido Socialista Europeu, que nos quer aplicar sanções.
O perigo, para Portugal, é que as medidas ou sanções são sempre propostas pela
Comissão, mas têm de ser aprovadas pelo Conselho, precisamente onde a
Esquerda tem maioria. Percebem agora porque digo que António Costa não diz
a verdade aos portugueses? Resumidamente, o órgão da UE que é contra as
sanções tem maioria de direita, o que é a favor das sanções a Portugal tem
maioria de esquerda. Está por isso nas mãos de António Costa convencer
os seus camaradas a não aplicar sanções a Portugal.
Importa salientar que fica
cada vez mais evidente que oprimeiro-ministro está mais preocupado em dizer
que rejeita as sanções e que estas se devem ao défice do governo anterior, do
que propriamente em evitar as sanções. Cabe na cabeça de alguém vir agora
desafiar o PSD para aprovar uma resolução nesse sentido quando o
ex-primeiro-ministro e a ex-ministra das Finanças já apresentaram a Bruxelas o
seu apoio ao governo nesta matéria? O que começa a ficar evidente, é queAntónio
Costa não está verdadeiramente empenhado em evitar as sanções, pois por um
lado esta tensão com a Europa é-lhe útil como justificação externa para
o descalabro das suas políticas económicas.
Por outro lado, todos sabemos
que as regras europeias têm sido sempre ajustadas ao nível de desempenho e à
capacidade dos Estados-Membros em levar a cabo as reformas previstas, com
exigência, mas também com compreensão. Ora, o risco das sanções agrava-se não
pelo défice de 3,2%, pois a Comissão sabe que em Portugal desceu de 11%
para 3% em quatro anos, mas sim porque não verifica qualquer
intenção do atual governo em prosseguir o esforço de consolidação e crescimento
que Portugal conheceu nos últimos quatro anos. É com essa
credibilidade que se evitam sanções.
SANEAMENTO NA CCDR NORTE,
POSSÍVEL CRIME DO GOVERNO E O VALOR DO “PASSE” DE RUI MOREIRA
A terminar, não podia deixar
referir o incidente criado na semana passada pelo Ministro do Planeamento com o
presidente da CCDR Norte, o Professor Emídio Gomes, que se recusou a
cumprir uma ordem do governo que constituía uma grave ilegalidade. Ou seja,
o Governo terá dado ordens à CCDR Norte para fazer um concurso “à medida” de um
conjunto de municípios retirando verbas já previstas para outros. Emídio Gomes
foi corajoso, foi sério, defendeu o interesse público perante a prepotência de
um governo que se considera o novo “Dono Disto Tudo”. Será que o Ministério
Público não irá investigar este caso?
Ou será que estamos perante um
novo queijo limiano? Será que o PS usou os fundos comunitários para garantir o
apoio a Rui Moreira? Por 17 milhões de euros o presidente da Câmara do
Porto acalma-se, não critica o governo e ainda se afasta do PSD. Rui
Moreira fez bem o seu papel, defendeu os interesses do Porto. No meio de
toda esta negociata o CDS, mais uma vez, volta a ser enganado por um queijo.
Foi tudo preparado a tempo do Congresso do PS, só a recusa de Emídio
Gomes impediu que Moreira se juntasse a Pacheco como estrelas do Congresso
socialista.
Num país normal, isto era
crime, tráfico de influências e abuso de poder. Em Portugal é genialidade,
capacidade de negociação e visão política.
Título e Texto (e Grifos): Duarte Marques, Expresso,
7-6-2016
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