quinta-feira, 9 de junho de 2016

A esquerda que afinal domina a UE e o “passe” de Rui Moreira

Duarte Marques
O congresso do Partido Socialista foi uma espécie de “profissão de fé” da gerigonça, depois do batismo político destes últimos seis meses, que confirma a esquerdização do partido, afastando-se cada vez mais do PS de Soares e do europeísmo que sempre o caracterizou.

António Costa consumou a união de facto com o BE e com o PCP e rompeu o casamento com o projeto europeu. Após este Congresso, o PS surge como um partido profundamente crítico da europa que temos, renega o seu papel na construção europeia colocando-se surpreendentemente mais longe de outros socialistas como Hollande ou Renzi, para se sentar na mesma bancada de partidos como Syrisa, o Podemos, ou o movimento 5 Estrelas. Após este fim de semana, o PS assume-se como partido de protesto, com um líder tacticista e um programa de governo populista.

O Governo de esquerda recorre agora à mais velha das "táticas políticas”, encontrando um inimigo externo: a Europa, neoliberal e nas mãos da direita. Mas vamos então aos factos e à desmistificação de alguns truques do primeiro-ministro:

Em primeiro lugar, a União Europeia não é comandada nem pela direita nem pelo PPE. O Conselho Europeu tem apenas 6 primeiros-ministros conservadores contra 8 socialistas  (do Partido Socialista Europeu), mais Alexis Tsipras da Grécia que é tudo menos de centro ou direita, alguns liberais e outras coligações entre socialistas, liberais e populistas. Já para não falar do líder do Parlamento Europeu, Martins Shulz, socialista e que tem assento no Conselho Europeu. Ou seja, António Costa mente ao dizer que a europa é liderada pela direita, hoje os socialistas europeus têm capacidade e votos para alterar o rumo da europa. Senão a mudam é porque não o desejam.

Aliás, as críticas de António Costa à “direita europeia” são ainda mais ridículas quando é Jean Claude Juncker, Presidente da Comissão e membro do PPE, que quer evitar sanções a Portugal, e é o presidente do Eurogrupo, Jeroen Dijsselbloem, colega de António Costa no Partido Socialista Europeu, que nos quer aplicar sanções. O perigo, para Portugal, é que as medidas ou sanções são sempre propostas pela Comissão, mas têm de ser aprovadas pelo Conselho, precisamente onde a Esquerda tem maioria. Percebem agora porque digo que António Costa não diz a verdade aos portugueses? Resumidamente, o órgão da UE que é contra as sanções tem maioria de direita, o que é a favor das sanções a Portugal tem maioria de esquerda. Está por isso nas mãos de António Costa convencer os seus camaradas a não aplicar sanções a Portugal.

Importa salientar que fica cada vez mais evidente que oprimeiro-ministro está mais preocupado em dizer que rejeita as sanções e que estas se devem ao défice do governo anterior, do que propriamente em evitar as sanções. Cabe na cabeça de alguém vir agora desafiar o PSD para aprovar uma resolução nesse sentido quando o ex-primeiro-ministro e a ex-ministra das Finanças já apresentaram a Bruxelas o seu apoio ao governo nesta matéria? O que começa a ficar evidente, é queAntónio Costa não está verdadeiramente empenhado em evitar as sanções, pois por um lado esta tensão com a Europa é-lhe útil como justificação externa para o descalabro das suas políticas económicas.

Por outro lado, todos sabemos que as regras europeias têm sido sempre ajustadas ao nível de desempenho e à capacidade dos Estados-Membros em levar a cabo as reformas previstas, com exigência, mas também com compreensão. Ora, o risco das sanções agrava-se não pelo défice de 3,2%, pois a Comissão sabe que em Portugal desceu de 11% para 3% em quatro anos, mas sim porque não verifica qualquer intenção do atual governo em prosseguir o esforço de consolidação e crescimento que Portugal conheceu nos últimos quatro anos. É com essa credibilidade que se evitam sanções.

SANEAMENTO NA CCDR NORTE, POSSÍVEL CRIME DO GOVERNO E O VALOR DO “PASSE” DE RUI MOREIRA
A terminar, não podia deixar referir o incidente criado na semana passada pelo Ministro do Planeamento com o presidente da CCDR Norte, o Professor Emídio Gomes, que se recusou a cumprir uma ordem do governo que constituía uma grave ilegalidade. Ou seja, o Governo terá dado ordens à CCDR Norte para fazer um concurso “à medida” de um conjunto de municípios retirando verbas já previstas para outros. Emídio Gomes foi corajoso, foi sério, defendeu o interesse público perante a prepotência de um governo que se considera o novo “Dono Disto Tudo”. Será que o Ministério Público não irá investigar este caso?

Ou será que estamos perante um novo queijo limiano? Será que o PS usou os fundos comunitários para garantir o apoio a Rui Moreira? Por 17 milhões de euros o presidente da Câmara do Porto acalma-se, não critica o governo e ainda se afasta do PSDRui Moreira fez bem o seu papel, defendeu os interesses do Porto. No meio de toda esta negociata o CDS, mais uma vez, volta a ser enganado por um queijo. Foi tudo preparado a tempo do Congresso do PS, só a recusa de Emídio Gomes impediu que Moreira se juntasse a Pacheco como estrelas do Congresso socialista.

Num país normal, isto era crime, tráfico de influências e abuso de poder. Em Portugal é genialidade, capacidade de negociação e visão política. 
Título e Texto (e Grifos): Duarte Marques, Expresso, 7-6-2016

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