Cesar Maia
1. A radicalidade das oposições políticas, partidárias, sindicais e
associativas é própria dos regimes parlamentaristas. Afinal, a sustentação da
maioria parlamentar é a condição para a continuidade do governo.
2. Isso cria uma sensação que desestabilizar essa maioria abre
espaço para novas composições com outras forças políticas, e mesmo para novas
eleições. Nesse sentido, mobilizar as demandas de setores diversos, confrontar
com o governo de maioria eventual em questões ideológicas, geram desgaste e
abrem espaço para concessões.
3. No limite, abre espaço para novas eleições. Essa alternância de
gabinetes – muito comum no século 20 nos regimes parlamentaristas – tornou-se
rara. As eleições nesses regimes ganharam perfil de eleições presidenciais. E,
em seguida, a instabilidade dos governos generalizou-se. E, com ela, as
concessões.
4. Algumas representações políticas regionais colocaram na ordem do
dia o separatismo. Vide Escócia e Catalunha. Esse é um extremo dessa
radicalidade. A discussão sobre a revisão das leis trabalhistas na França tem
parado Paris. E no dia 26 de junho, um plebiscito no Reino Unido decidirá sobre
a permanência ou não no Reino Unido. Na Espanha não há governo de maioria e pelas
pesquisas as eleições do próximo dia 26 não tendem a resolver esse grave
problema.
5. Essa é também expressão de demandas setoriais que se sentem
confortadas ou não com a presença do Reino Unido na União Europeia. Plebiscito
dia 24 próximo.
6. A crise múltipla brasileira – econômica, política, moral e como
consequência, social – está sendo enfrentada com a parlamentarização do
presidencialismo brasileiro. A arte política de Temer tem conduzido uma
orquestra com instrumentos dissonantes, mas ninguém tem dúvida da música que
está sendo orquestrada.
7. Essa parlamentarização da política brasileira espontaneamente
construiu – e constrói – uma oposição radicalizada pelas expectativas de
fragilização do governo, e das possibilidades de emplacar suas demandas. Já
vimos no caso da cultura. Agora da EBC. Pela lógica do parlamentarismo, será um
governo que terá que fazer concessões. Mas escolher bem a que setores essas
concessões devem ser feitas, para que a oposição que demanda governo – nos
próximos meses ou em 2018 não se fortaleça.
8. A radicalização que vemos não é episódica e apenas produto do
afastamento do PT do governo. Será permanente com a parlamentarização do
regime. E exigirá mais arte ainda de Temer num parlamento pulverizado.
Título e Texto: Cesar Maia, 16-6-2016
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