sábado, 18 de junho de 2016

Temer deve preparar-se para uma oposição a la europeia

Cesar Maia
               
1. A radicalidade das oposições políticas, partidárias, sindicais e associativas é própria dos regimes parlamentaristas. Afinal, a sustentação da maioria parlamentar é a condição para a continuidade do governo.
                   
2. Isso cria uma sensação que desestabilizar essa maioria abre espaço para novas composições com outras forças políticas, e mesmo para novas eleições. Nesse sentido, mobilizar as demandas de setores diversos, confrontar com o governo de maioria eventual em questões ideológicas, geram desgaste e abrem espaço para concessões.
                   
3. No limite, abre espaço para novas eleições. Essa alternância de gabinetes – muito comum no século 20 nos regimes parlamentaristas – tornou-se rara. As eleições nesses regimes ganharam perfil de eleições presidenciais. E, em seguida, a instabilidade dos governos generalizou-se. E, com ela, as concessões.
                   
4. Algumas representações políticas regionais colocaram na ordem do dia o separatismo. Vide Escócia e Catalunha. Esse é um extremo dessa radicalidade. A discussão sobre a revisão das leis trabalhistas na França tem parado Paris. E no dia 26 de junho, um plebiscito no Reino Unido decidirá sobre a permanência ou não no Reino Unido. Na Espanha não há governo de maioria e pelas pesquisas as eleições do próximo dia 26 não tendem a resolver esse grave problema.
              
5. Essa é também expressão de demandas setoriais que se sentem confortadas ou não com a presença do Reino Unido na União Europeia. Plebiscito dia 24 próximo.

6. A crise múltipla brasileira – econômica, política, moral e como consequência, social – está sendo enfrentada com a parlamentarização do presidencialismo brasileiro. A arte política de Temer tem conduzido uma orquestra com instrumentos dissonantes, mas ninguém tem dúvida da música que está sendo orquestrada.
                   
7. Essa parlamentarização da política brasileira espontaneamente construiu – e constrói – uma oposição radicalizada pelas expectativas de fragilização do governo, e das possibilidades de emplacar suas demandas. Já vimos no caso da cultura. Agora da EBC. Pela lógica do parlamentarismo, será um governo que terá que fazer concessões. Mas escolher bem a que setores essas concessões devem ser feitas, para que a oposição que demanda governo – nos próximos meses ou em 2018 não se fortaleça.
                   
8. A radicalização que vemos não é episódica e apenas produto do afastamento do PT do governo. Será permanente com a parlamentarização do regime. E exigirá mais arte ainda de Temer num parlamento pulverizado. 
Título e Texto: Cesar Maia, 16-6-2016

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