Alberto Gonçalves
Numa época em que se reclama a abolição
dos tabus, ergue-se um tabu gigantesco: admitir a peculiar relação entre o
terrorismo contemporâneo e o islão
A matança numa discoteca de Orlando lançou a esquerda ocidental na
habitual busca de “explicações”.
Como o assassino nascera na
América, o problema é a sociedade em questão.
Como o assassino era homem e
heterossexual o problema é o “heteropatriarcado” (juro!).
Como o assassino era
inadpatado, o problema é a exclusão social causada pelo capitalismo.
Como o assassino comprara
armas, o problema é a facilidade de acesso às ditas.
Como o assassino batia na
esposa, o problema é a violência doméstica.
Como o assassino sofria de
distúrbios mentais, o problema é a falta de um sistema universal de saúde.
Como o assassino era
religioso, o problema é o fanatismo de todas as religiões.
Como as vítimas eram gays, o
problema é a homofobia.
Como o assassino detestava
mulheres e negros, o problema é a misoginia e o racismo.
Como assassinos similares
rebentaram com cartunistas, transeuntes, espectadores de concertos,
frequentadores de aeroportos, clientes de restaurantes e banhistas, o problema
passa por fobias diversas que urge estudar. Qualquer desculpa serve desde que
caiba na cartilha em vigor, idêntica ao programa da SIC E Se Fosse Consigo?.
Claro que o objetivo do
exercício consiste em desprezar a circunstância de Omar Matteen, o psicopata
desta história, não ser ateu, cristão, budista, judeu ou jeová, mas –
segurem-se bem – muçulmano. Numa época em que se reclama a abolição dos tabus,
ergue-se um tabu gigantesco: admitir a peculiar relação entre o terrorismo
contemporâneo e o islão. Por acaso, é possível que tanta cautela em não ofender
provoque um efeito contrário ao desejado.
Deve ser muito irritante para
os zelotas do profeta verem as suas reivindicações repetidamente
desvalorizadas. O senhor Omar ocupava o tempo em fóruns radicais online? O que importa é o peso da National Rifle Association.
O senhor Omar dizia-se
jihadista? Isso é tudo muito lindo, porém, o perigo é a nossa cultura machista.
O Estado Islâmico assumiu o
massacre? Conversa fiada: convém é repudiar o imperialismo dos EUA.
Enquanto as autoridades
analisam o crime e ponderam deter o “heteropatriarcado” para interrogatório, o
criminoso confessa-se aos berros à porta da esquadra – e ninguém lhe liga. Não
custa imaginar as cúpulas do Daesh próximas de uma crise nervosa.
Infelizmente, também não custa
imaginá-las a conspirar (ou a “inspirar”) os atentados que se seguem, os quais
contarão, deste lado, com a alucinada subserviência do costume.
A cada chacina, as “causas” do
dia a dia mostram o seu caráter oportunista: por mais que se finja defender os
homossexuais perseguidos ou as mulheres agredidas, o que realmente interessa é
acarinhar a crença que persegue aqueles e que agride aquelas.
Quem “luta” pelos direitos
humanos e aplaude sem reservas a construção de uma mesquita não engana.
Quem “sofre” pela
discriminação e marcha contra Israel não disfarça.
Descontados os ingénuos
terminais, é lícito reconhecer que, hoje, a esquerda não se limita a tolerar
excessivamente os excessos do islão: a esquerda (e alguma “direita” trafulha ou
confusa) é a sua embaixadora – às vezes oficial, conforme prova o finaciamento
iraniano ao Podemos espanhol.
Dado o ódio de ambos à
liberdade, não admira. Admirável é ainda não ser evidente que o sangue suja as
mãos de uns e outros.
Título e Texto: Alberto Gonçalves, Sábado, nº 633, 16 a 22 de junho de 2016
Digitação: JP
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