Valdemar Habitzreuter
A filosofia não dá conta do
porquê da existência do mal. Referimo-me ao mal moral. Seria tão mais aprazível
se existisse somente o bem, neste caso, a humanidade estaria vivenciando o
paraíso na terra.
No entanto, há filósofos,
talvez a maioria deles, que se ocuparam deste tema. Platão, por exemplo, nos
fala de um mundo inteligível que ele chama de mundo das ideias onde não há a
possibilidade da existência do mal. Em contrapartida existe também o mundo
sensível onde há a possiblidade da ocorrência do mal. Por quê? No mundo
sensível as coisas não passam de cópias imperfeitas das ideias do mundo
platônico, inclusive o homem de carne e osso, seja o João, o José ou outro nome
que se queira dar a este homem concreto.
Sendo o homem uma cópia
imperfeita da ideia perfeita de homem, ele está sujeito a imperfeições e
consequentemente, cometer ações más. Comete-as porque se esqueceu de sua
origem, de seu estado de outrora no mundo ideal, trancafiado que agora está
numa caverna onde o mundo sensível, corruptível e ilusório o prende.
O que fazer para que
reconquiste seu status no mundo das ideias? Em primeiro lugar, perceber que
está acorrentado em falsas opiniões. Em segundo lugar, transpor essas opiniões
e deixar-se banhar pela luz do intelecto e contemplar a realidade incorruptível
do mundo das ideias, ipso facto
recordar-se-á de onde veio.
O caminho de volta se dá,
pois, via conhecimento onde a ilusão, as sombras – o mal – vai dando lugar à
luz – o bem – do mundo das ideias.
Portanto, existe o mal por causa da ignorância do homem que o prende ao mundo
sensível com suas garras potentes de apegar-se à felicidade passageira e
ilusória.
Ou talvez precisemos lembrar
de Kant que diz que o mal está radicado no homem. É preciso, para erradica-lo,
pautar nossas ações por um modelo de perfeição absoluta que, no caso seria
Deus, mesmo que este Deus possa não existir, mas que represente um alvo a
atingir: obrigar-se a trilhar o caminho do dever e aperfeiçoar-se moralmente,
embora estejamos infinitamente distantes do modelo absolutamente perfeito.
Ou que tal verificar Nietzsche
que nos convida a menosprezar a dicotomia platônica, adotada também pelo
cristianismo (aliás, o cristianismo está recheada da filosofia platônica), isto
é: o mundo inteligível (o céu cristão) representa o bem e o mundo sensível (os
tentáculos do mundo), o mal.
Nietzsche é um ferrenho
crítico dessa filosofia e oferece uma filosofia do homem forte, do super-homem,
que despreza os valores morais do cristianismo que torna o homem um fracassado,
propondo sua filosofia de estabelecer-se acima ou além do bem e do mal.
Para ele o bem e o mal não são
parâmetros de valor para encarar a vida. É preciso aboli-los e proceder a uma
transvoloracão, surgindo assim uma outra humanidade, a além-humanidade,
representada pelo super-homem.
Outro filósofo, Henri Bergson,
também apregoa uma filosofia em que o ser do homem, numa perspectiva
espiritual, é uma condensação maior ou menor de seu espírito. A condensação
maior constitui-se de matéria, de seu corpo; a condensação menor representa o
espírito como tal, sua alma. Cabe ao homem espiritualizar seu ser e ultrapassar
sua condição humana e gozar as delícias da alma a que os místicos têm o
privilégio de experimentar.
Como vemos, não há uma
explicação cabal, filosoficamente falando, do problema da dicotomia bem e mal.
O mal como ausência do bem de Santo Agostinho tampouco abole essa dicotomia.
Spinoza afirma que o mal não
existe, mas condiciona esta afirmação ao conhecimento intelectualis Dei, ou
seja, se olharmos da perspectiva de Deus.
Talvez seja melhor conviver
com as duas forças em que o mal seja um meio para saber distinguir que o bem
vale mais à pena praticar...
Título e Texto: Valdemar Habitzreuter, 21-6-2016
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