terça-feira, 21 de junho de 2016

A dicotomia bem e mal...

Valdemar Habitzreuter
A filosofia não dá conta do porquê da existência do mal. Referimo-me ao mal moral. Seria tão mais aprazível se existisse somente o bem, neste caso, a humanidade estaria vivenciando o paraíso na terra.

No entanto, há filósofos, talvez a maioria deles, que se ocuparam deste tema. Platão, por exemplo, nos fala de um mundo inteligível que ele chama de mundo das ideias onde não há a possibilidade da existência do mal. Em contrapartida existe também o mundo sensível onde há a possiblidade da ocorrência do mal. Por quê? No mundo sensível as coisas não passam de cópias imperfeitas das ideias do mundo platônico, inclusive o homem de carne e osso, seja o João, o José ou outro nome que se queira dar a este homem concreto.

Sendo o homem uma cópia imperfeita da ideia perfeita de homem, ele está sujeito a imperfeições e consequentemente, cometer ações más. Comete-as porque se esqueceu de sua origem, de seu estado de outrora no mundo ideal, trancafiado que agora está numa caverna onde o mundo sensível, corruptível e ilusório o prende.

O que fazer para que reconquiste seu status no mundo das ideias? Em primeiro lugar, perceber que está acorrentado em falsas opiniões. Em segundo lugar, transpor essas opiniões e deixar-se banhar pela luz do intelecto e contemplar a realidade incorruptível do mundo das ideias, ipso facto recordar-se-á de onde veio.

O caminho de volta se dá, pois, via conhecimento onde a ilusão, as sombras – o mal – vai dando lugar à luz – o bem  – do mundo das ideias. Portanto, existe o mal por causa da ignorância do homem que o prende ao mundo sensível com suas garras potentes de apegar-se à felicidade passageira e ilusória.

Ou talvez precisemos lembrar de Kant que diz que o mal está radicado no homem. É preciso, para erradica-lo, pautar nossas ações por um modelo de perfeição absoluta que, no caso seria Deus, mesmo que este Deus possa não existir, mas que represente um alvo a atingir: obrigar-se a trilhar o caminho do dever e aperfeiçoar-se moralmente, embora estejamos infinitamente distantes do modelo absolutamente perfeito.

Ou que tal verificar Nietzsche que nos convida a menosprezar a dicotomia platônica, adotada também pelo cristianismo (aliás, o cristianismo está recheada da filosofia platônica), isto é: o mundo inteligível (o céu cristão) representa o bem e o mundo sensível (os tentáculos do mundo), o mal.

Nietzsche é um ferrenho crítico dessa filosofia e oferece uma filosofia do homem forte, do super-homem, que despreza os valores morais do cristianismo que torna o homem um fracassado, propondo sua filosofia de estabelecer-se acima ou além do bem e do mal.

Para ele o bem e o mal não são parâmetros de valor para encarar a vida. É preciso aboli-los e proceder a uma transvoloracão, surgindo assim uma outra humanidade, a além-humanidade, representada pelo super-homem.

Outro filósofo, Henri Bergson, também apregoa uma filosofia em que o ser do homem, numa perspectiva espiritual, é uma condensação maior ou menor de seu espírito. A condensação maior constitui-se de matéria, de seu corpo; a condensação menor representa o espírito como tal, sua alma. Cabe ao homem espiritualizar seu ser e ultrapassar sua condição humana e gozar as delícias da alma a que os místicos têm o privilégio de experimentar.

Como vemos, não há uma explicação cabal, filosoficamente falando, do problema da dicotomia bem e mal. O mal como ausência do bem de Santo Agostinho tampouco abole essa dicotomia.

Spinoza afirma que o mal não existe, mas condiciona esta afirmação ao conhecimento intelectualis Dei, ou seja, se olharmos da perspectiva de Deus.

Talvez seja melhor conviver com as duas forças em que o mal seja um meio para saber distinguir que o bem vale mais à pena praticar... 
Título e Texto: Valdemar Habitzreuter, 21-6-2016

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