Os ditos progressistas acham que um
católico contra o aborto não pode ser ministro do Supremo.... É mesmo?
Reinaldo Azevedo
Bem, conforme antevi aqui anteontem,
não demorou para Ives Gandra Martins Filho [foto], presidente do Tribunal Superior
Trabalho, virar um alvo das correntes de esquerda. Ele é um dos nomes que o
presidente Michel Temer leva em consideração para ocupar a vaga aberta no
Supremo com a morte de Teori Zavascki. A exemplo do pai, o filho é ligado ao
Opus Dei — nota: “o” Opus Dei, não “a” —, uma prelazia papal de corte
conservador. Bem, dizer o quê?
Católico e conservador? Tal perfil já
mobilizou a esquerda, que, ora vejam, passou a considerar que ele não pode ser
nomeado de jeito nenhum! Os vermelhos rejeitam ainda o nome de Alexandre de
Moraes, ministro da Justiça. No caso deste, alguns nichos da extrema direita
também arreganham os dentes porque, contra todas as evidências, o veem como
inimigo da Lava Jato, o que é mentira. Voltemos a Martins Filho.
Dizer o quê? Isso expõe o que essa
gente entende por democracia.
Vamos lá. Então se considera normal
que haja no Supremo ministros francamente favoráveis à descriminação do aborto,
como Roberto Barroso. Mas é inaceitável que haja um contrário? Atenção! A
Primeira Turma do Supremo, ao arrepio da lei, tomou a absurda decisão de
descriminar o aborto até o terceiro mês de gravidez. O relator da matéria foi
justamente Barroso.
Reportagem publicada na Folha de hoje
informa, referindo-se a um artigo do presidente do TST: “Martins Filho diz no
texto ser contra decisões do Supremo como o reconhecimento da união
homoafetiva, a liberação de células-tronco embrionárias para pesquisa e a
permissão para destruir embriões humanos em pesquisas. É também contrário ao
aborto, ao divórcio e à distribuição de pílulas anticoncepcionais em hospitais
públicos”.
Muito bem! E onde está o crime de
pensar o que pensa?
Não é só Barroso que chegou ao Supremo
levando uma militância. Quando indicado por Dilma, Edson Fachin era diretor de
um tal Instituto Brasileiro de Direito de Família (IBDFAM), que promove três
causas no tribunal. Prestem atenção:
1: o IBDFAM acha que a amante tem de
dividir com a mulher legítima a eventual pensão por morte do marido;
2: o
IBDFAM acha que cirurgias de esterilização devem dispensar a autorização dos
dois cônjuges;
3: o IBDFAM acha que transexuais que não se submeteram a
cirurgias têm o direito de usar o nome pelo qual são conhecidos, o chamado nome
social”.
Então parece razoável aos patrulheiros
que um presidente da República indique para o Supremo ministros com esse
pensamento, certo? E por que não com “o outro”?
Terei de fazer uma pergunta incômoda:
os críticos da indicação de Martins Filho ou de Alexandre de Moraes esperam o
quê? Que Michel Temer indique para o Supremo um esquerdista? Nos EUA, presidentes
democratas escolhem para a Suprema Corte nomes com viés de esquerda; já os
republicanos apostam nos que têm viés conservador. Não é essa a natureza do
jogo, desde que se aceite o primado da lei?
Vamos parar com essa patrulha
asquerosa e autoritária!
Um conservador, na democracia, busca,
acima de tudo, a conservação das instituições, não das iniquidades. E esse
pensamento está a fazer falta no Supremo.
Que o presidente Temer não se deixe
intimidar!
Título e Texto: Reinaldo Azevedo, VEJA,
25-1-2017
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