Rui A.
Hoje foi preso Eike Batista.
Lembro-me de o ver idolatrado por quase todo o Brasil, quando era um dos homens
mais poderosos do seu país e do mundo. Eike já era rico antes de ser
multimilionário, como ficou, pelo menos na aparência, durante os anos de Lula
da Silva. Embora a sua história de ascensão e queda não esteja ainda bem
explicada, parece provado que Eike beneficiou de vantagens políticas que as
suas relações muito próximas do poder permitiram alcançar e que caiu quando
esses poderosos o deixaram de ser. A sua entrada no mundo do pré-sal, que ditou
a sua glória e ruína, terá sido conseguida com cumplicidades políticas e em
troca de favores milionários. Mas muito há ainda para explicar. Caído em
desgraça, há que dizer que Eike se portou com uma inusual dignidade em momentos
que são certamente de extrema dureza para si e para os seus, o que é de louvar
e admirar. Eike Batista não é, certamente, um criminoso de delito comum.
Há, por estes dias e pelo
Brasil, quem esteja muito feliz com a «limpeza» que a «Lava-Jato» está a operar
no país, operação que está a decapitar verdadeiramente a elite política e
financeira que o dirigiu nos últimos anos. Afiança-se que o Brasil que sairá
disto será muito melhor do que aquele que estava. Eu não estou muito certo que
venha a ser assim.
O problema da «Lava-Jato» não
é nem da operação, muito menos de mandar criminosos e corruptos para a cadeia.
É que parece que quase ninguém escapará ao seu crivo rigoroso, o que diz mais
do próprio país do que de quem vai preso. É que algo de profundamente errado
aconteceu no Brasil dos últimos trinta anos para que aqueles que hoje o
governam sejam praticamente todos corruptos. Se é verdade que os anos do
lulismo elevaram à normalidade o velho coronelismo brasileiro, aquela sensação
de que o país é património pessoal de quem o governa, também não duvido que o
lulismo é um filho, e um filho bastardo, desse sistema, que não inaugurou e que
duvido venha a terminar com a sua derrocada. Um sistema destes, ainda que muito
agravado recentemente, tem certamente razões na História que não se apagam, nem
mudam com facilidade, nem à força das grades das prisões. Se é que alguma vez
mudará.
E sobre o dia seguinte há uma
preocupação evidente: quem é que substituirá as centenas, ou milhares, de
líderes e dirigentes políticos afectados pela «Lava-Jato»? Sendo certo que as
elites dirigentes não se criam por geração espontânea e que não há um escol de
virtuosos a aguardar que o poder os chame e lhes seja confiado, a nova classe
dirigente federal e estadual terá de vir, forçosamente, de quem anda na
política local. O que faz antever o pior.
Título e Texto: Rui A., Blasfémias,
30-1-2017
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