José Mendonça da Cruz
Dois pequenos episódios para o
debate sobre se o Diário é realmente de Notícias e
se a opinião Público-ada tem a ver com os factos:
Por razões misteriosas DN e Público decidiram
combater o presidente eleito de um país democrático estrangeiro. Assim, todos
os dias apresentam historinhas sobre Donald Trump com que pensam
demonstrar o bom fundamento da sua irritação e nojo. Ontem e hoje foram mais
duas.
A primeira história tem a ver
com «dois oleodutos controversos» cuja construção Trump autorizou, os quais,
segundo os dois jornais, Obama vetara, e que agora vão prejudicar populações e
ambiente. Esta é a história.
Agora, a realidade que DN e Público ignoram
ou que, caso não ignorem, omitem deliberadamente: os dois oleodutos foram, de
facto, chumbados por Obama, mas foram-no contra a opinião do seu próprio
departamento de Estado e do estudo científico mandado fazer por este, segundo o
qual a construção das condutas teria impacto desprezível sobre solo, áreas
pantanosas, recursos aquíferos, vegetação, peixes, vida selvagem, e efeito de
gases de estufa. A construção dos oleodutos tinha ainda o apoio de sindicatos e
da maioria dos americanos (em sondagem), embora não de Obama e da
militância ambientalista. O primeiro ministro da Energia de Obama, Steven
Chu, explicou mesmo que «a decisão sobre a construção foi política e não
científica». Os dois oleodutos transportariam (transportarão) 1,4 milhões de
barris diariamente, de forma muito mais segura do que por camião ou comboio,
como atualmente.
Mas, claro, Obama é santo e os
nossos media seus profetas, pelo que contrariar a ciência, os
sindicatos, o próprio governo e a maioria da população só revela sabedoria e
visão.
A segunda história é sobre o
muro entre EUA e México. A julgar pelos media portugueses não
existe qualquer muro ao longo da fronteira entre México e EUA, é apenas a
perfídia trumpiana que pretende erigi-lo. Esta é a história.
Agora a realidade: a fronteiro
méxico-norte-americana tem 3094 km de comprimento. O muro completo separaria
(separará) o México dos estados americanos da Califórnia, Arizona, Novo
México e Texas. A extensão da fronteira com a Califórnia é de 220 km; a
vedação estende-se, hoje, ao longo de 185 km. A extensão da fronteira com
o Arizona é de 597 km; estão construídos 490 km de vedação ou muro. A fronteira
com o estado do Novo México tem 290 km; estão construídos 186 km; é no estado
do Texas que há menos muro construído (e mais policiamento): a fronteira
estende-se ao longo de 1980 km, estando construídos 184 km de muro.
Em Campo, Califórnia, EUA. Um
'vigilante' civil, das brigadas noturnas, procura pela presença de imigrantes
ilegais. Foto: Getty Images
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A parte do muro que separa
Sonora, no México, de Nogales, Arizona, EUA. Imagem: Getty Images
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Nogales, separada pelo muro.
Imagem: Getty Images
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Assim, e segundo os nossos
media, as centenas de quilómetros de muro construídos ou não existem
apesar de se verem, ou, caso existam, são de geração espontânea. É isto que
dizem aos seus leitores.
Eis, pois, em duas pequenas
historinhas, dois pequenos instantâneos sobre preguiça ou desinformação
(escolha que deixo ao gosto de cada um).
Eis, ainda, uma terceira
historinha: já sabemos que segundo os nossos media a oposição ao governo não
deve fazer oposição, e se os partidos apoiantes do governo não o apoiam a
culpa é da oposição. Na esteira deste credo, a Sic contou e mostrou-nos
que, hoje, na AR, PS, PCP, Bloco e Verdes zurziram o PSD devido às «contradições»
sobre a TSU. A Sic deixou-nos ouvir e ver governantes e deputados do PS,
do PCP, do Bloco e dos Verdes. Do PAN e do PSD é que não.
Donde, a crer na Sic, o PSD
entrou mudo e saiu calado. A menos que não tenha sido assim, e, então, deve-se
a «erro técnico» ou a critério editorial (de novo, escolha cada um).
Título e Texto: Jorge Mendonça da Cruz, Corta-fitas, 25-1-2017
Título e Texto: Jorge Mendonça da Cruz, Corta-fitas, 25-1-2017
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