Helena Matos
Se os oito mais
ricos deixassem de ser tão ricos ou até se eles nunca tivessem sido ricos não
só os pobres não ganhariam nada com isso como seríamos todos mais pobres.
É um clássico: todos os anos temos aqueles dois a três dias em que somos
informados de que o dinheiro de meia dúzia de ricos é idêntico ao de vários
milhões de pobres.
Este ano a aritmética da riqueza versus pobreza informou-nos que as “Oito
pessoas mais ricas do mundo detêm a mesma riqueza que os 50% mais pobres”.
E logo começou o arrazoado da indignação, não tanto com o facto de haver pobres,
mas sobretudo com o facto de haver ricos. Muito particularmente parecia
evidente que os pobres são pobres porque existem ricos e, ainda mais ilusório,
que o desaparecimento dos ricos tornaria os pobres menos pobres. Nada mais
falso.
Comecemos por ver quem são esses ricos: Bill Gates, fundador da
Microsoft; Amancio Ortega, fundador e dono da Inditex (Zara); Warren Buffett
investidor e chefe executivo da Berkshire Hathaway; Carlos Slim, empresário
mexicano das telecomunicações; Jeff Bezos, fundador da Amazon; Mark Zuckerberg,
fundador do Facebook; Larry Ellison, diretor-executivo da Oracle; Michael
Bloomberg, ex-autarca de Nova Iorque e fundador da agência de notícias
financeiras Bloomberg. Ou seja, muitos destes homens são imensamente ricos não
porque tenham herdado as suas fortunas, mas sim porque tiveram uma abordagem
nova do seu negócio ou em alguns casos até porque inventaram o seu negócio.
Mais ainda, muitos deles são importantes financiadores de projetos de investigação
e solidariedade. Por fim, a sua atividade empresarial gerou empregos e produtos
que mudaram para melhor a vida de milhões de pessoas.
Era melhor que eles não tivessem enriquecido? Ficariam os pobres menos
pobres caso eles deixassem de ser ricos? Certamente que não. Mas nada disso
interessa nestas contas do vamos fazer de conta que acabamos com os pobres
dividindo o dinheiro dos ricos.
O que está em causa para muitas das organizações que se especializaram na
divulgação destas aritméticas, como é o caso da Oxfam, é que subjacente a tudo
isto está uma perspectiva política (legítima, mas política) que não pode ser
ignorada ou escamoteada: estas organizações não só têm grandes reservas à
iniciativa privada como, pelo contrário, defendem um grande intervencionismo
estatal e associam quase automaticamente gasto público e estatismo a combate à
desigualdade.
A essa presença do Estado na economia chama, por exemplo, a Oxfam
“economia humana”. Infelizmente o resultado dessa economia dita humana é quase
invariavelmente apenas mais pobreza e mais desigualdade entre os humanos, como
aconteceu na Venezuela, país até há pouco muito bem situado nestes relatórios e
dado como exemplo de sucesso no campo das políticas de combate à pobreza e à
desigualdade.
Dado o pouco escrutínio a tudo o que vem das ONGs e muito particularmente
aos relatórios onde ONGs e agências das Nações Unidas se cruzam, nunca os
produtores deste tipo de dados são confrontados quer com a falácia das suas
análises quer com as consequências das propostas que fazem. Por cá, ainda há
pouco tempo tivemos a visita de uma senhora apresentada como relatora da ONU
sobre “o direito a uma habitação condigna” para quem, nesta área, tudo se
resumia à construção de mais habitação social.
Na verdade, estas aritméticas dos ricos versus pobres replicam no seu
ódio às sociedades ocidentais e muito particularmente à iniciativa privada
aquelas pretéritas contas das despesas militares nos anos 70 em que todos os
dias éramos informados sobre o número de crianças que deixariam de morrer com
fome e doenças caso triunfasse o pacifismo e o dinheiro das armas fosse
transformado em vacinas e leite em pó. O único senão de todo esse magnífico
pensamento é que o desarmamento começaria invariavelmente pela NATO já que os
países do então Leste precisavam desse sinal de apaziguamento para em seguida o
repetirem! Como felizmente a experiência nunca foi feita nunca se chegou a
saber como reagiriam os países do bloco comunista a esse ímpeto pacifista do
decadente capitalismo. Mas a convicção da inferioridade moral das economias
livres manteve-se e com ele um discurso sobre a pobreza como um problema em
crescimento. Nada interessa que o número de pobres esteja a diminuir: hoje
contabilizam-se em situação de pobreza extrema 800 milhões de pessoas, ou seja
10,7 % da população mundial. Em 1990 essa percentagem era de 35%. E muito menos
se tem em conta que ser pobre no século XXI não é de modo algum o mesmo que ser
pobre no início do século XX.
De facto, se os oito mais ricos deixassem de ser tão ricos ou até se eles
nunca tivessem sido ricos não só os pobres não ganhariam nada com isso como
seríamos todos mais pobres.
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