Aparecido Raimundo de Souza
No nosso tempo de grupo
escolar, ou mais precisamente no primário, nos cafundós de 1963, aos dez anos,
ficávamos felizes quando, antes de entrarmos para as salas de aulas, os
professores reuniam todas as turmas da manhã (horário que começava às sete
horas e encerrava ao meio dia em ponto, com meia hora de intervalo) no pátio,
para o hasteamento da Bandeira Nacional.
Empertigados, em posição de
sentido, parecíamos soldados formados em enormes tropas miliares tais e quais
víamos nas datas comemorativas do 7 de setembro. Não era permitido desviar as vistas para os
lados, rir, fazer piadas, gracinhas, ou errar uma estrofe que fosse do
inimitável e soberbo Hino Nacional.
Ai daqueles destrambelhados
que trocassem as margens plácidas por “margens prácidas”, ou um desce por um
“dece”. Com certeza, castigos na certa. Naqueles idos, senhoras e senhores,
prevaleciam as vozes dos professores. As suas figuras de educadores eram por
demais respeitadas. O que falavam se transformava em leis. Por esse motivo,
para alguns moleques, o ir e vir da escola, se constituía num encanto, para
outros, um inferno.
Uma série de castigos se
faziam presentes, se a criatura fizesse algo que não estivesse dentro dos
conformes. Por exemplo, promover algazarras na hora das chamadas. Brincar
durante os horários das aulas, ou quando algum professor estivesse explicando
uma matéria nova. Essas “maculações”, ou dito de outra forma, essas “punições”
variavam, dependendo do grau das desobediências.
Uma vez, ficamos a aula
inteira do professor Roberto (que lecionava artes) com as butucas fixas nas paredes,
porque escondemos as chaves do seu fusquinha e um coleguinha filho da puta nos
delatou. Nesse dia, o professor Roberto precisou interromper a aula, para
socorrer a esposa, que entrara em trabalho de parto do primeiro filho. De outra
feita, sem recreio, uma hora de joelhos sobre grãos de milho, por sermos pegos
em flagrante espiando as garotas pelos vitrôs que acessavam os banheiros
femininos.
Bons tempos! Momentos que não
voltam mais. Instantes saudosos que se perderam nas voragens do inexorável. Em
dias atuais, os mentores não passam de figuras cênicas. Não são respeitados,
pelo contrário, se levantarem a voz um pouco além do normal, apanham, são
espancados.
Os antigos “mestres” perderam
suas autoridades. O brilho eloquente das suas manifestações, em salas de aula,
escorreu pelo ralo. A razão de viverem em prol de uma causa, somada a vontade
de ensinarem, tudo se transformou, infelizmente, em vagas lembranças.
A imprensa (escrita, falada e
televisada) dá conta, todos os dias, dos maus tratos aos professores. Vivemos
um caos nas escolas, onde os alunos se transformaram em bandidos. Quantos
professores chegaram a óbito dentro de seus locais de trabalho?
No nosso ontem (voltando ao
Hino Nacional), ao ouvirmos, fosse onde fosse, nos colocávamos, imediatamente,
em posição de sentido. Fazia parte do nosso rito, da nossa honra, do nosso
patriotismo. Sobretudo, da nossa moral. Afinal de contas, senhoras e senhores,
aquelas estrofes cantavam com sentimento elevado, as belezas e os enfeitiços da
nossa terra.
Sessenta e três anos depois, kikiki,
o Hino pátrio virou, para nós, uma merda só.
Em face, evidentemente, desses quadros repletos de falcatruas que vemos
todos os dias espalhados por aí, notadamente no Epicentro Brasília. Hoje temos
um Brasil de vândalos, de pilantras, de sanguessugas da pior espécie. Atrelados
nessa certeza, ingerimos uma garrafa inteira de coragem.
Munidos dela, partimos para uma
entrevista com os autores do Hino Nacional. Pedimos, após longo papo,
autorização, por escrito, aos autores, para darmos uma ajeitadinha na letra,
adequando os versos à nossa realidade. Para as senhoras e os senhores, em
primeira mão, o nosso “INO IRRACIONAL”. Esperemos que apreciem.
“Inoh Irracional”
Música: Joaquim Suspensório
Duque Avenida.
Letra: Seu Chico Malnãoel da
Silva.
EM TEMPO: COMO DISSEMOS, AS
PEQUENAS E QUASE INVISÍVEIS MODIFICAÇÕES aqui introduzidas na letra (não na
música) do Hino Nacional, foram autorizadas, por escrito, por seus autores. Do
contrário, não teríamos como, nem nos assistiriam porquês, trazê-las ao
conhecimento do grande público. Esperemos, pois, que as pessoas gostem,
alertando que aceitamos outras opiniões, desde que estas não contrariem o bom
senso da obra em sua originalidade.
Ouviram do Ipiranga as margens
cheias de balas perdidas
De um povo de mãos atadas o
brado estressante,
E o sol da Sacanagem, em raios
amarelos
Brilhou no céu do inferno
neste instante.
Se o penhor da desigualdade
Conseguimos conquistar com
braços magros,
Em teu seio, ó Fragilidade
Desafia a nossa paciência até
a morte!
Ó Pátria americanizada,
Esfomeada,
Salve! Salve-se quem puder!
Brasil, um sonho morto, um
raio que os parta
De amor e de Fernandinhos Beira
Mar a terra enlouquece,
Se em teu formoso céu
tristonho e sujo,
A imagem da fome negra
resplandece.
Gigante pela própria incerteza
És belo, és forte impávido
Titanic,
E o teu futuro espelha tantas
mortes infantis
Terra esfomeada
Entre outras mil,
És tu, Brasil, o Pátria
despatriada!
Dos filhos deste solo és mãe
inútil
Pátria esfomeada
Brasil.
Deitado eternamente em berço
donde nascem pilantras
Ao som do mar e a luz de um
céu sem cores,
Fulguras, ó Brasil, florão de
Bush
Iluminado ao sol do eterno
FMI!
Do que a terra mais
empobrecida
Teus risonhos lindos campos têm
mais invasões do MST;
“Nossos bosques têm mais
bandoleiros e espiões”
“Nossa vida” no teu seio
tantos horrores.
Ó Pátria falida,
Esfomeada,
Salve! Salve-se quem puder!
Brasil, das falcatruas
eternas, sejas símbolo
Dos colarinhos brancos que
ostentas estrelado,
E diga o verde-louro José
desta flâmula
- Mais corrupção no futuro e viva
os Lalaus que atuaram no passado.
Mas, se ergue da justiça a
clava da propina
Verás que um deputado teu não
dorme sem uma puta,
Nem teme, quem te vigie a
própria sobrevivência,
Terra pisoteada
Entre outras mil
És tu, Brasil,
Ó Pátria despatriada
Dos filhos deste solo é mãe
inútil
Pátria esfomeada
Sacanearam tanto... Que
sumiu...
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MEUS TEXTOS, POR QUALQUER MOTIVO QUE SEJA VIEREM A SER RETIRADOS DO AR, OU MEUS
ESCRITOS APAGADOS E CENSURADOS, PELAS REDES SOCIAIS, O PRESENTE ARTIGO SERÁ
PANFLETADO E DISTRIBUIDO NAS SINALEIRAS, ALÉM DE INCLUI-LO EM MEU PRÓXIMO LIVRO
“LINHAS MALDITAS” VOLUME 3.
Título e Texto: Aparecido
Raimundo de Souza, jornalista, Rio de Janeiro, 25-1-2017
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Sinto saudade desse tempo também, onde imperava o respeito, mas hoje tudo, virou um desrespeito total, nossa pátria amada Brasil, hoje esta exatamente como vc descreve nessas palavras na versão do hino nacional, parabéns excelente texto Aparecido abrs. Carla
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