A metáfora consiste no emprego
de palavras ou expressões convencionalmente identificadas com um dado domínio
de conhecimento para verbalizar experiências conceptuais de outro domínio.
Consideremos a expressão uma explosão de
alegria. Usa-se aí uma metáfora típica. O usuário fala de um sentimento –
alegria – mas para dizer o quanto ele é intenso e repentino, recorre a outro
domínio de conhecimento – o da reação de matérias sujeitas à combustão, de onde
traz a matéria-prima de sua metáfora: explosão.
A metáfora é um recurso de
expressão amplamente usado no discurso cotidiano, por mais que seja
tradicionalmente tratado como característico da linguagem da poesia. Os
exemplos da linguagem corrente lembrados na seção anterior – colher resultados, ruminar pensamentos, quebrar
o silêncio – são tipicamente metafóricos, haja vista a ocorrência desses
mesmos verbos em O lavrador colheu abacaxis, As vacas ruminam o alimento, Quebre esse coco para mim. Por sua
vez, substantivos, verbos e adjetivos basicamente relacionados ao universo
animal são correntemente transferidos – por força do processo metafórico – para
o universo dos seres humanos, suas características e atitudes: Esses políticos são velhas raposas, Aquela lesma levou duas horas para escrever um simples bilhete, Irritado o
motorista rosnou um palavrão,
Aplicou no paciente uma dose cavalar
de antibiótico.
O que se passa, contudo, com a
lexicalização de conceitos conhecida como metonímia?
Imaginemos que alguém pergunte ao porteiro do prédio onde mora: Seu Antônio, o correio já veio hoje?
Claro que a pessoa quer saber se a correspondência já tinha sido entregue
naquele dia. Ela sabe que o entregador de correspondência no domicílio do
destinatário, se chama carteiro, mas
ao referir-se a ele designa-o com a palavra referente à instituição pública que
presta o serviço. Correio e carteiro pertencem ao mesmo domínio
conceptual: serviço de mensagens postais.
O uso do termo que designa o
primeiro – correio – para identificar
o segundo – carteiro baseia-se na
proximidade ou contiguidade – e não uma semelhança – conceitual entre os dois.
Trata-se de um típico exemplo de metonímia. Enquanto a metáfora requer a
associação de dois domínios inteiros distintos, a metonímia opera a associação
entre elementos do mesmo domínio. Outros exemplos: Após a festa, guardou os cristais
de novo na caixa, O Brasil é
pentacampeão de futebol, Bota aí outra dose de purinha. Cristais designa copos, taças e cálices feitos de
cristal, Brasil nomeia o time de
futebol que representa o Brasil; purinha
rotula a bebida (= cachaça) por meio de uma das suas qualidades.
Texto: José Carlos de Azeredo, Gramática Houaiss da Língua Portuguesa
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