quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

[Aparecido rasga o verbo] Galinhas de penas encrespadas

Aparecido Raimundo de Souza


Observem, senhoras e senhores, que coisa interessante. Até antes de ser preso, ou “banguzado” (em relação ao presídio carioca estar situado no subúrbio de Bangu) em 16 de novembro de 2016, o atual e ilustre secretário de governo de Campo dos Goytacazes, o ex-governador, perdão, ex-“mamador inveterado” Anthony Garotinho, não tinha nenhum problema de saúde.

Literalmente o moço era um garotinho e, como tal, gozava (e como gozava!) de excelente bem-estar físico e moral acima de quaisquer resquícios de nódoas ou manchinhas, ainda que do tamanho de um grão de arroz.

Bebia champanhe e uísque dos mais caros, enquanto a plebe, desmilinguida e jogada à esquerda, se fodia (ou melhor, continua se fodendo?!) de verde e amarelo.

Bastou o juiz Sérgio Moro determinar que o “figuraço” fosse engaiolado, apareceu logo um probleminha de coração, uma questãozinha maquiada que precisou de um bando de doutores “vigiar” o moço por meio de monitoramento cardíaco. Por causa disso, logo após ser preso, Anthony “passou mal”, deixou de ser um menininho sapeca e precisou ser internado.

Sem essa válvula de escape, do internamento, o coraçãozinho do desavergonhado poderia parar de funcionar. Percebam que uma galera com tecnologia de ponta entrou em cena num abrir e piscar de olhos. Parecia até os bastidores das gravações das novelas da Rede Globo, no PROJAC.

Até Deus, na ocasião desse evento, nos lembramos como se fosse ontem, pediu a um querubim que lhe aplicasse um beliscão no braço, para se certificar, efetivamente, de que não estava tirando um cochilozinho.


Pois bem. Diante desse quadro carnavalesco, uma equipe médica acima de qualquer suspeita apareceu do nada, num passe de mágica. O ex-governador fez uma cena tão perfeita, que o Brasil inteiro ficou com peninha dele. A isso, meus caros, se dá o nome de falcatrua, armação e jogadas preestabelecidas.

Esses doutores, conhecidos como doutores “lambe-sacos” estão de plantão para isso. Servem para atestar que qualquer vagabundo envolvido em escândalos que precise de ajuda, seja socorrido imediatamente. Foi o caso do Gurizinho, que poderia ter um piripaque e ir bater com os costados no inferno.

É bem verdade que seria uma perda muito grande para o mundo, essa figura querida e amada, pertencente à nossa melhor nata social (pelo menos da região de Campos dos Goytacazes), evangélico, bom pai de família, temente a Deus, “onesto”, trabalhador, ir visitar Getúlio Vargas e Ulysses Guimarães na terra dos pés juntos um bocadinho mais cedo.

Entre mortos e feridos, três dias após ser trancafiada, a ministra Luciana Lóssio, do TSE (Temos Sempre Esquemas), autorizou a transferência de Garotinho para um hospital particular lhe concedendo prisão domiciliar. Depois dessas xaropadas todas, ninguém mais falou de Garotinho. Ele desapareceu do mapa num escafedelhamento até agora considerado hollywoodiano.

Percebam, senhoras e senhores, que uma fadinha mágica entrou pela janela e fez a poeira baixar literalmente para seu lado. Com isso a tal da “Operação Chequinho” voou ligeira para a casa do caralho. E fim de papo.

Mudando o foco da palhaçada, falta o Serginho Cabral, preso desde 17 de novembro em Bangu 8 (um dia após Garotinho) armar golpe idêntico, para se livrar do ilustre doutor Marcelo Bretas, vez que seu querido e dileto amigo, Anthoninho se deu bem e ficou lindo na fita.

Diante desse teatro armado, o ex-governador da Cidade Maravilhosa imediatamente se viu transferido. Fez charminho, ficou com medo de ser morto no presídio. Em linhas gerais, jogou barro na parede, meteu as mãos nos bolsos, comprou uns e outros, e a nossa linda justiça de merda permitiu que ele mudasse de hospital.

No mexer das peças do tabuleiro de xadrez, a posteriori, o malandro conseguiu prisão domiciliar. Apostem, senhoras e senhores, se fosse um fodido da vida estaria morto, como o pedreiro Amarildo. Alguém se lembra desse pobre coitado? Até hoje ninguém descobriu seu paradeiro.

Então, nos enfurecemos e perguntamos: que tipo de gente é esse tal de Garotinho? Um homem de verdade, um crápula, um covarde?!

No mesmo seguimento, esquecendo o ex-governador, questionamos boquiabertos e pasmados: que doença esse desgraçado do Cabral poderia “arranjar” para ficar passeando de ambulância para lá e para cá, cercado por forte esquema de segurança da polícia federal?!

Próstata, câncer, leucemia, aids, hemorroidas? Ah! Está na moda o “aneurisma cerebral”. Deu certo com dona Marisa. Com certeza, dará também com Eduardinho Cunha. Afinal, ele foi presidente da Câmara e isso não é para qualquer boçal.

Pois bem. Garotinho armou e se deu bem.  Gostaríamos de sugerir a essa gentalha que tem o rabo preso (que poderá vir a ser presa de uma hora para outra) deixar, de prontidão, uma equipe médica “propinada”, a lavagem de granas rápidas e por baixo dos panos, claro, para trazer à baila umas “doencinhas” diferentes com a finalidade única de fazer o sujeito (ou sujeitos) na possível mira do doutor Sérgio Moro, escapar das grades e não ter que dividir espaço com outros facínoras babacas que nem sabem que a Petrobosta e a Lava gatos existem.

No Brasil, virou moda.  A criatura escapole se esquiva e se deserta dos estabelecimentos carcerários inventando incômodos e indisposições inexistentes. Dá certo, dá Ibope, mais tempo, inclusive, nos jornais da noite. Funciona perfeitamente bem. Ano passado, apenas para ilustrarmos, um político se disfarçou de desembargador e saiu de um presídio de segurança máxima pela porta da frente. Foi descoberto por acaso, quando assistia ao jogo do Palmeiras disfarçado de vendedor de picolés.

Voltando ao que nos interessa o esquema acima descrito, não prevalece para aqueles cidadãos de brio, vergonha e decoro. Certamente, para os decentes, honrados, probos e íntegros, esses “conchavos” caem por terra. Acreditamos que os pobretões, se tentarem, nem chegarão a ser ouvidos. A raia miúda nunca teve vez. Não seria agora que comemoraria a vitória. 

Porém, para outros párias, a tábua da salvação. Os “onestos” e demais pilantras que fazem parte desse rol compuscófico (o mesmo que truncado, indecoroso e indecente) basta que atualizem as suas respectivas Listas de Schindler... para não perderem a melhor parte do filme.

O Brasil do outro Cabral, o Pedro Álvares, há muito é conhecido internacionalmente como o “país do carnaval” (não fazemos menção ao livro do escritor baiano Jorge Amado). Referenciamos a uma terra canonizada pelos deuses. Um pedaço de chão imenso que deveria se orgulhar de seus privilégios e, mais que isso, se envaidecer de seus rebentos.

Vivemos num país abençoado. O nome dele? Brasil. Cairia melhor, senhoras e senhores, Brasilinheiro. Aqui não temos ciclones ou vendavais, tampouco maremotos, terremotos ou tornados. Não existe literatura dando conta de tsunamis, não temos, enfim, nenhum tipo de tragédia natural que ponha em risco a nossa querida e bucólica pátria amada.

Exceto, evidentemente, aquelas calamidades provocadas pela corja de enganadores, de sacripantas que nos assaltam traiçoeiramente de terno e gravata, a qualquer hora, do dia e da noite, sem o uso de armas de fogo.  De onde, então, se originaria o estranho e desconhecido “Inheiro” para se atrelar ao “onroso” Brasil?! Precisamos, de fato, responder? Ok! Do grande galinheiro Brasília. Em suma, Brasil (mais) Inheiro, BRASILINHEIRO.

Infelizmente, nesse lindo recanto, “originador ou criador das artimanhas e embustes eternos”, é notório que vivemos e respiramos ventos com ares de poleiros imundos e malcheirosos, de penosas ciscadeiras, de vermes peçonhentos, entre outros anelídeos hermafroditas, que nem a ciência conhece direito.

Nada mais justo, pois, que alguém do povo arranje ou cultive um cognome ou uma alcunha (igual a que ventilamos num momento de pura inspiração poética) e que, de fato, nos coloque, de vez, não no pináculo do sucesso, todavia, no buraco negro da perdição, da ruína e da infelicidade.

Em nossa querida e amada pátria, vivemos a eterna lei da vagabundagem, da insegurança, da podridão, da falta de respeito aos zés-povinhos, aos zés-manés, zés-ninguém e outros zés desconhecidos e anônimos que proliferam na periferia da desigualdade social, que pululam à mingua, devorados pelos fios áridos da pobreza, que se despedaçam, enfim, sem conhecerem o lado bom e humano (ou seria “umano”?) da vida plena.

Tais fatos ocorrem hoje, nesta hora, e jamais deixarão de acontecer, porque outros “Garotinhos, Cabrais e Eduardos” virão num futuro próximo, como doenças supostamente imunizadas. Essas desgraças aparecerão dos raios que os partam, para sugarem nosso sangue e amalgamarem de impurezas o precioso ar que respiramos.

Contudo, mesmo diante dessa hecatombe, tem gente por aí que acredita que “Garotinho, Cabralzinho e Eduardinho” foram vítimas de armações ilimitadas. Teríamos uns “nomes” mais sucintos, mais camaradas, mais abrangentes para essas putarias.

Bom seria que se propagasse aos quatro cantos esses simpáticos “nomes”. Exemplificando. Que eles foram malandros, espertos, velhacos, oportunistas e maquiavélicos. Daí se entrelaçarem por fios irrompíveis. Se estivermos errados, daremos as mãos à palmatória. Existe um velho axioma que leciona: “enquanto houver uma lâmpada atarraxada num bocal, filho da puta nenhum se proporá a gastar um centavo comprando velas”.

É por isso que São Jorge, conhecido nos meios católicos como “fudião do saco roxo”, aparece montado no lombo de um poderoso e possante curvilóculo (cavalo veloz dotado de força descomunal, oriundo das paragens da Capadócia) dando cabo (como vemos nas imagens e afrescos espalhados em igrejas e lojinhas de produtos evangélicos) de um pobre e indefeso dragão que, para salvar a pele, solta chamas de fogo pela boca e ventas.

Nesse balaio de gatos, companheiros, o dia que viermos a ser privados do sublime direito de ir e vir (partindo do princípio que a lei é igual para todos, kikiki) exigiremos que nos arranjem um problema de bunda inchada, pau ansioso, AVC, pressão alta, dor de cotovelo, qualquer merda que não nos deixe vendo o sol nascer quadrado.

Pugnaremos também por foro privilegiado, refeições diferentes, chuveiro quente, computador, telefone celular, uma mulherzinha para uma fodinha extra, segurança vinte e quatro horas por agentes da polícia federal, mídia, rádio, jornal e televisão, visitas de parentes e bons advogados.

Se formos, por qualquer infelicidade, parar no complexo penitenciário de Gericó (não Jiló, porra, Gericinó!), protestaremos não permanecendo um minuto sequer ao lado de presos eternos, tampouco temporários. É certo que Garotinho (típico temporário) não voltará para esse cadeião, ou qualquer outro.

De Cabralzinho (até agora no rol dos eternos) ainda seria passível de boa convivência. Adoraríamos nos especializar em como receber propina para fechar contratos públicos. Nesses paraísos controlados por facções que nem o diabo descobre, o dinheiro fala mais alto e compra todo mundo. Por certo lavaríamos muito dinheiro, se fôssemos donos do Pão de Açúcar e do Corcovado. 

Por derradeiro, senhoras e senhores, não nos vejam, por favor, com olhos errados. Jamais nos prestamos a ser melhores que ninguém. Somos, todavia, do bem. Vivemos do suor do trabalho. Era tudo o que precisávamos deixar esclarecido.

AVISO AOS NAVEGANTES:
PARA LER E PENSAR, SE O FACEBOOK, CÃO QUE FUMA OU OUTRO SITE QUE REPUBLICA MEUS TEXTOS, POR QUALQUER MOTIVO QUE SEJA VIEREM A SER RETIRADOS DO AR, OU OS MEUS ESCRITOS APAGADOS E CENSURADOS PELAS REDES SOCIAIS, O PRESENTE ARTIGO SERÁ PANFLETADO E DISTRIBUÍDO NAS SINALEIRAS, ALÉM DE INCLUÍ-LO EM MEU PRÓXIMO LIVRO “LINHAS MALDITAS” VOLUME 3.
Título e Texto: Aparecido Raimundo de Souza, jornalista, de Vila Velha no Espírito Santo. 9-2-2017

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Um comentário:

  1. Salvo melhor informação, quem assinou a ordem de prisão do ex-governador, Anthony Garotinho, foi o juiz da 100ª Zona Eleitoral de Campos dos Goytacazes, Glaucenir Silva de Oliveira.

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