Aparecido Raimundo de Souza
Observem, senhoras e senhores,
que coisa interessante. Até antes de ser preso, ou “banguzado” (em relação ao
presídio carioca estar situado no subúrbio de Bangu) em 16 de novembro de 2016,
o atual e ilustre secretário de governo de Campo dos Goytacazes, o ex-governador,
perdão, ex-“mamador inveterado” Anthony Garotinho, não tinha nenhum problema de
saúde.
Literalmente o moço era um
garotinho e, como tal, gozava (e como gozava!) de excelente bem-estar físico e
moral acima de quaisquer resquícios de nódoas ou manchinhas, ainda que do
tamanho de um grão de arroz.
Bebia champanhe e uísque dos
mais caros, enquanto a plebe, desmilinguida e jogada à esquerda, se fodia (ou
melhor, continua se fodendo?!) de verde e amarelo.
Bastou o juiz Sérgio Moro
determinar que o “figuraço” fosse engaiolado, apareceu logo um probleminha de
coração, uma questãozinha maquiada que precisou de um bando de doutores
“vigiar” o moço por meio de monitoramento cardíaco. Por causa disso, logo após
ser preso, Anthony “passou mal”, deixou de ser um menininho sapeca e precisou
ser internado.
Sem essa válvula de escape, do
internamento, o coraçãozinho do desavergonhado poderia parar de funcionar.
Percebam que uma galera com tecnologia de ponta entrou em cena num abrir e
piscar de olhos. Parecia até os bastidores das gravações das novelas da Rede
Globo, no PROJAC.
Até Deus, na ocasião desse
evento, nos lembramos como se fosse ontem, pediu a um querubim que lhe
aplicasse um beliscão no braço, para se certificar, efetivamente, de que não
estava tirando um cochilozinho.
Pois bem. Diante desse quadro
carnavalesco, uma equipe médica acima de qualquer suspeita apareceu do nada,
num passe de mágica. O ex-governador fez uma cena tão perfeita, que o Brasil
inteiro ficou com peninha dele. A isso, meus caros, se dá o nome de falcatrua,
armação e jogadas preestabelecidas.
Esses doutores, conhecidos
como doutores “lambe-sacos” estão de plantão para isso. Servem para atestar que
qualquer vagabundo envolvido em escândalos que precise de ajuda, seja socorrido
imediatamente. Foi o caso do Gurizinho, que poderia ter um piripaque e ir bater
com os costados no inferno.
É bem verdade que seria uma
perda muito grande para o mundo, essa figura querida e amada, pertencente à
nossa melhor nata social (pelo menos da região de Campos dos Goytacazes),
evangélico, bom pai de família, temente a Deus, “onesto”, trabalhador, ir
visitar Getúlio Vargas e Ulysses Guimarães na terra dos pés juntos um bocadinho
mais cedo.
Entre mortos e feridos, três
dias após ser trancafiada, a ministra Luciana Lóssio, do TSE (Temos Sempre
Esquemas), autorizou a transferência de Garotinho para um hospital particular
lhe concedendo prisão domiciliar. Depois dessas xaropadas todas, ninguém mais
falou de Garotinho. Ele desapareceu do mapa num escafedelhamento até agora
considerado hollywoodiano.
Percebam, senhoras e senhores,
que uma fadinha mágica entrou pela janela e fez a poeira baixar literalmente
para seu lado. Com isso a tal da “Operação Chequinho” voou ligeira para a casa
do caralho. E fim de papo.
Mudando o foco da palhaçada,
falta o Serginho Cabral, preso desde 17 de novembro em Bangu 8 (um dia após
Garotinho) armar golpe idêntico, para se livrar do ilustre doutor Marcelo
Bretas, vez que seu querido e dileto amigo, Anthoninho se deu bem e ficou lindo
na fita.
Diante desse teatro armado, o
ex-governador da Cidade Maravilhosa imediatamente se viu transferido. Fez
charminho, ficou com medo de ser morto no presídio. Em linhas gerais, jogou
barro na parede, meteu as mãos nos bolsos, comprou uns e outros, e a nossa
linda justiça de merda permitiu que ele mudasse de hospital.
No mexer das peças do
tabuleiro de xadrez, a posteriori, o malandro conseguiu prisão domiciliar.
Apostem, senhoras e senhores, se fosse um fodido da vida estaria morto, como o
pedreiro Amarildo. Alguém se lembra desse pobre coitado? Até hoje ninguém
descobriu seu paradeiro.
Então, nos enfurecemos e
perguntamos: que tipo de gente é esse tal de Garotinho? Um homem de verdade, um
crápula, um covarde?!
No mesmo seguimento,
esquecendo o ex-governador, questionamos boquiabertos e pasmados: que doença
esse desgraçado do Cabral poderia “arranjar” para ficar passeando de ambulância
para lá e para cá, cercado por forte esquema de segurança da polícia federal?!
Próstata, câncer, leucemia,
aids, hemorroidas? Ah! Está na moda o “aneurisma cerebral”. Deu certo com dona
Marisa. Com certeza, dará também com Eduardinho Cunha. Afinal, ele foi
presidente da Câmara e isso não é para qualquer boçal.
Pois bem. Garotinho armou e se
deu bem. Gostaríamos de sugerir a essa
gentalha que tem o rabo preso (que poderá vir a ser presa de uma hora para
outra) deixar, de prontidão, uma equipe médica “propinada”, a lavagem de granas
rápidas e por baixo dos panos, claro, para trazer à baila umas “doencinhas”
diferentes com a finalidade única de fazer o sujeito (ou sujeitos) na possível
mira do doutor Sérgio Moro, escapar das grades e não ter que dividir espaço com
outros facínoras babacas que nem sabem que a Petrobosta e a Lava gatos existem.
No Brasil, virou moda. A criatura escapole se esquiva e se deserta
dos estabelecimentos carcerários inventando incômodos e indisposições
inexistentes. Dá certo, dá Ibope, mais tempo, inclusive, nos jornais da noite.
Funciona perfeitamente bem. Ano passado, apenas para ilustrarmos, um político
se disfarçou de desembargador e saiu de um presídio de segurança máxima pela
porta da frente. Foi descoberto por acaso, quando assistia ao jogo do Palmeiras
disfarçado de vendedor de picolés.
Voltando ao que nos interessa
o esquema acima descrito, não prevalece para aqueles cidadãos de brio, vergonha
e decoro. Certamente, para os decentes, honrados, probos e íntegros, esses
“conchavos” caem por terra. Acreditamos que os pobretões, se tentarem, nem
chegarão a ser ouvidos. A raia miúda nunca teve vez. Não seria agora que
comemoraria a vitória.
Porém, para outros párias, a
tábua da salvação. Os “onestos” e demais pilantras que fazem parte desse rol
compuscófico (o mesmo que truncado, indecoroso e indecente) basta que atualizem
as suas respectivas Listas de Schindler... para não perderem a melhor parte do
filme.
O Brasil do outro Cabral, o
Pedro Álvares, há muito é conhecido internacionalmente como o “país do
carnaval” (não fazemos menção ao livro do escritor baiano Jorge Amado).
Referenciamos a uma terra canonizada pelos deuses. Um pedaço de chão imenso que
deveria se orgulhar de seus privilégios e, mais que isso, se envaidecer de seus
rebentos.
Vivemos num país abençoado. O
nome dele? Brasil. Cairia melhor, senhoras e senhores, Brasilinheiro. Aqui não
temos ciclones ou vendavais, tampouco maremotos, terremotos ou tornados. Não
existe literatura dando conta de tsunamis, não temos, enfim, nenhum tipo de
tragédia natural que ponha em risco a nossa querida e bucólica pátria amada.
Exceto, evidentemente, aquelas
calamidades provocadas pela corja de enganadores, de sacripantas que nos
assaltam traiçoeiramente de terno e gravata, a qualquer hora, do dia e da
noite, sem o uso de armas de fogo. De
onde, então, se originaria o estranho e desconhecido “Inheiro” para se atrelar
ao “onroso” Brasil?! Precisamos, de fato, responder? Ok! Do grande galinheiro
Brasília. Em suma, Brasil (mais) Inheiro, BRASILINHEIRO.
Infelizmente, nesse lindo
recanto, “originador ou criador das artimanhas e embustes eternos”, é notório
que vivemos e respiramos ventos com ares de poleiros imundos e malcheirosos, de
penosas ciscadeiras, de vermes peçonhentos, entre outros anelídeos
hermafroditas, que nem a ciência conhece direito.
Nada mais justo, pois, que
alguém do povo arranje ou cultive um cognome ou uma alcunha (igual a que
ventilamos num momento de pura inspiração poética) e que, de fato, nos coloque,
de vez, não no pináculo do sucesso, todavia, no buraco negro da perdição, da
ruína e da infelicidade.
Em nossa querida e amada
pátria, vivemos a eterna lei da vagabundagem, da insegurança, da podridão, da
falta de respeito aos zés-povinhos, aos zés-manés, zés-ninguém e outros zés
desconhecidos e anônimos que proliferam na periferia da desigualdade social,
que pululam à mingua, devorados pelos fios áridos da pobreza, que se
despedaçam, enfim, sem conhecerem o lado bom e humano (ou seria “umano”?) da
vida plena.
Tais fatos ocorrem hoje, nesta
hora, e jamais deixarão de acontecer, porque outros “Garotinhos, Cabrais e
Eduardos” virão num futuro próximo, como doenças supostamente imunizadas. Essas
desgraças aparecerão dos raios que os partam, para sugarem nosso sangue e
amalgamarem de impurezas o precioso ar que respiramos.
Contudo, mesmo diante dessa
hecatombe, tem gente por aí que acredita que “Garotinho, Cabralzinho e
Eduardinho” foram vítimas de armações ilimitadas. Teríamos uns “nomes” mais
sucintos, mais camaradas, mais abrangentes para essas putarias.
Bom seria que se propagasse
aos quatro cantos esses simpáticos “nomes”. Exemplificando. Que eles foram
malandros, espertos, velhacos, oportunistas e maquiavélicos. Daí se
entrelaçarem por fios irrompíveis. Se estivermos errados, daremos as mãos à
palmatória. Existe um velho axioma que leciona: “enquanto houver uma lâmpada
atarraxada num bocal, filho da puta nenhum se proporá a gastar um centavo
comprando velas”.
É por isso que São Jorge,
conhecido nos meios católicos como “fudião do saco roxo”, aparece montado no
lombo de um poderoso e possante curvilóculo (cavalo veloz dotado de força
descomunal, oriundo das paragens da Capadócia) dando cabo (como vemos nas
imagens e afrescos espalhados em igrejas e lojinhas de produtos evangélicos) de
um pobre e indefeso dragão que, para salvar a pele, solta chamas de fogo pela
boca e ventas.
Nesse balaio de gatos,
companheiros, o dia que viermos a ser privados do sublime direito de ir e vir
(partindo do princípio que a lei é igual para todos, kikiki) exigiremos que nos
arranjem um problema de bunda inchada, pau ansioso, AVC, pressão alta, dor de
cotovelo, qualquer merda que não nos deixe vendo o sol nascer quadrado.
Pugnaremos também por foro
privilegiado, refeições diferentes, chuveiro quente, computador, telefone
celular, uma mulherzinha para uma fodinha extra, segurança vinte e quatro horas
por agentes da polícia federal, mídia, rádio, jornal e televisão, visitas de
parentes e bons advogados.
Se formos, por qualquer
infelicidade, parar no complexo penitenciário de Gericó (não Jiló, porra,
Gericinó!), protestaremos não permanecendo um minuto sequer ao lado de presos
eternos, tampouco temporários. É certo que Garotinho (típico temporário) não
voltará para esse cadeião, ou qualquer outro.
De Cabralzinho (até agora no
rol dos eternos) ainda seria passível de boa convivência. Adoraríamos nos
especializar em como receber propina para fechar contratos públicos. Nesses paraísos
controlados por facções que nem o diabo descobre, o dinheiro fala mais alto e
compra todo mundo. Por certo lavaríamos muito dinheiro, se fôssemos donos do
Pão de Açúcar e do Corcovado.
Por derradeiro, senhoras e
senhores, não nos vejam, por favor, com olhos errados. Jamais nos prestamos a
ser melhores que ninguém. Somos, todavia, do bem. Vivemos do suor do trabalho.
Era tudo o que precisávamos deixar esclarecido.
AVISO AOS
NAVEGANTES:
PARA LER E PENSAR, SE O FACEBOOK, CÃO QUE FUMA OU OUTRO SITE QUE REPUBLICA
MEUS TEXTOS, POR QUALQUER MOTIVO QUE SEJA VIEREM A SER RETIRADOS DO AR, OU OS MEUS
ESCRITOS APAGADOS E CENSURADOS PELAS REDES SOCIAIS, O PRESENTE ARTIGO SERÁ
PANFLETADO E DISTRIBUÍDO NAS SINALEIRAS, ALÉM DE INCLUÍ-LO EM MEU PRÓXIMO LIVRO
“LINHAS MALDITAS” VOLUME 3.
Título e Texto: Aparecido Raimundo de Souza,
jornalista, de Vila Velha no Espírito Santo. 9-2-2017
Colunas anteriores:
Salvo melhor informação, quem assinou a ordem de prisão do ex-governador, Anthony Garotinho, foi o juiz da 100ª Zona Eleitoral de Campos dos Goytacazes, Glaucenir Silva de Oliveira.
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