quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Deixe de bravata, seja homem, ministro!

O texto abaixo é de Fritz Uzteri, publicado no Jornal do Brasil, em 05 de abril de 2004. Por considerá-lo super atual (e como!) "resgatei-o" hoje do tópico "Textos" da Comunidade (do Orkut) "Comissários/as Aposentados RG". Confira!

Fritz Utzeri escreve hoje no Jornal do Brasil um texto que me parece definitivo sobre essa invisível responsável pelos males do nosso Brasil...

Tarso Genro teve um momento de idiotice. Como membro da elite, não posso aceitar o discurso genérico e demagógico que responsabiliza ''as elites que corrompem este país há 500 anos'' pelas mazelas do Brasil. Por que me autodenomino elite? Certamente não é pelos mesmos motivos de Antonio Ermírio de Moraes, Lazaro Brandão, Milú Villela, Olavo Setúbal ou Antonio Furlan. Também não é pelas razões de José Mindlin, Ivo Pitanguy, Adib Jatene, Ariano Suassuna, Fernanda Montenegro, Chico Buarque de Holanda, Gilberto Gil, Caetano e o resto da Bahia (incluindo ACM... brrrr...). E, certamente nada tenho com a biografia de gente como Luiz Inácio, Vicentinho, João Pedro Stedile ou Ronaldo Caiado. Nem possuo o talento de Ronaldinho Gaúcho ou Rivaldo ou a chama divina de D. Paulo Arns, D. Tomas Balduíno, Leonardo Boff ou Frei Betto.
Vou ao Aurélio, abro na letra ''E'' e procuro... Eliseu... Elísio... Elite! Lá está: ''Elite: (do fr. elite). S. F. 1 - O que há de melhor numa sociedade ou num grupo. Nata, final flor, escol; 2 - Sociol. Minoria prestigiada e dominante no grupo, constituída de indivíduos mais aptos e/ou mais poderosos''.


O dicionário é claro, Tarso Genro não pode estar se referindo ao substantivo feminino. Sua ''denúncia'' exclui esse grupo de escol. Como admitir que o que há de melhor na sociedade possa ser a causa de 500 anos de desgraça e corrupção dessa sociedade? Não faz sentido. Resta o segundo bloco de definições, a definição sociológica. De quem o nosso ministro da Coordenação Política está falando? Vejamos: ''Minoria prestigiada e dominante no grupo, constituída de indivíduos mais aptos e/ou mais poderosos''. Não é tão positiva como a primeira definição, mas não julga. É neutra. Ser mais apto e poderoso não é bom ou mau. Por apto, numa democracia, entenda-se o político que foi eleito e provou ser mais apto ao submeter-se ao voto popular. Numa ditadura é quem tem mais bala na agulha. Há várias opções entre o bem a o mal nessa definição, mas, por esses critérios, o Executivo, a começar por Luiz Inácio e os ministros, estão incluídos na categoria das "elites".

Qual é o antônimo de elite? Para a sociologia, "elite" é usada como antônimo de "povo". Tarso Genro é "povo" ou elite? Volto ao dicionário e lá está o verbete "Povo". Leio: "Povo - (do latim populu) S. M. 1 - Conjunto de indivíduos que falam a mesma língua. Têm costumes e hábitos idênticos, afinidade de interesses, uma história e tradições comuns". Vamos em frente, "povo" também pode ser: "2 - Os habitantes de uma localidade ou região". Não tem nada a ver. Só no sexto item aparece algo que podemos encaixar na definição do ministro. Povo seria: "o conjunto de pessoas pertencentes às classes menos favorecidas, plebe".
Generalizar o termo "elites" e jogar sobre essa entidade abstrata, fantasmagórica, os malefícios do Brasil é discurso vazio, covarde e de extrema má-fé. Responsabiliza todos "os outros" e acaba não responsabilizando ninguém. Quem são essas elites? Ariano Suassuna, Chico Buarque, Fernanda Montenegro, Adib Jatene ou Frei Betto são responsáveis pelas mazelas do Brasil? Provavelmente o são, como eu sou, mas não pelos motivos insinuados pelo ministro. Nossa responsabilidade reside no fato de nos indignarmos com os malfeitos, mas não irmos além disso.
Enquanto reclamamos e sonhamos com um Brasil melhor, essas "elites" estão constantemente agarradas ao poder e destruindo o país. Desse segmento fazem parte muitos "companheiros" do governo que, pretensamente, "denuncia" e "luta" contra as "elites". Será que a política econômica e os responsáveis por ela são produto e membros da "plebe"? Meirelles, seus juros absurdos e seus grandes serviços prestados ao BankBoston e contra o Brasil são produtos do "conjunto das classes menos favorecidas"? Furlan e José de Alencar, sem qualquer juízo de valor, são o quê? Se o ministro quer falar sério é bom mudar de discurso. Decline os nomes dessas "elites" que vêm desgraçando o país há meio milênio, ministro. Abandone o discurso vazio. Seja homem, ministro!
PS - Por que me incluí entre as elites? Se escrevo e você me lê, isso já faz de mim um membro da elite, segundo o ministro, responsável pelas mazelas do país. Não tem problema. Jornalistas já estão acostumados a levar a culpa pelas más notícias e besteiras oficiais.
Fritz Utzeri

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