Caro Primeiro-Ministro,
Tenho 27 anos e desde que
acompanho a política só me lembro de cinco primeiros-ministros. Vi Guterres e Durão
a fugir do país após situações financeiras complicadas para Portugal. O
primeiro demitiu-se porque perdeu as autárquicas e não mais se recandidatou, o
segundo aproveitou a euforia do Europeu 2004 para sair sem ser notado. De
Santana Lopes não tenho grande memória porque o tempo que ele esteve no poder
não foi o suficiente para tirar conclusões, no entanto não mais me vou esquecer
daquele discurso da tomada de posse. Um verdadeiro desastre.
Finalmente acompanhei o
consulado Socrates. Confesso que estava expectante em relação ao seu mandato.
Nunca imaginei que conseguisse ficar 6 anos no poder e vencer por duas vezes as
eleições. A forma como triturou os líderes do PSD, até chegar ao confronto
consigo, foi notável. Agora tenho acompanhado a sua liderança e quero dizer que
noto diferenças muito importantes se compararmos com os quatro anos que
enunciei.
![]() |
Foto: Agência Lusa |
Digo-lhe já que gosto de duas
qualidades que o senhor tem demonstrado. São elas a coragem e a coerência.
Começamos pelo fim, a coerência. Ao contrário do que sucedia com o seu
antecessor, o senhor não é hoje uma coisa e outra amanhã. Felizmente o senhor
tem alertado que se trata de um caminho díficil e que vai ser duro. É de louvar
a sua honestidade pessoal e política, coisa rara nos dias que correm. Isto
leva-me à coragem. Ao ter aceitado conduzir o país nestas circunstâncias,
sabendo de antemão que não vai ser pêra doce, o senhor Primeiro-Ministro está a
dar a cara e isso é uma qualidade que poucos políticos têm. Pior do que ter
políticas erradas é esconder o problema, e isso nunca fez parte do discurso,
por isso é que o aplaudo. Outros estariam a pintar o país de cor-de-rosa. Neste
aspecto, dou razão também a Manuela Ferreira Leite aquando das eleições em
2009, mas o país preferiu continuar a viver acima das possibilidades.
Também sou liberal e a favor
de um Estado mínimo e mais iniciativa privada, sobretudo em áreas que o Estado
não tem necessidade de gastar dinheiro, porque os privados podem assegurar uma
melhor gestão e contribuir também de outra forma para a qualidade dos serviços
com algum investimento. Por isto é que não percebo aquela lenga-lenga que o
Estado tem de assegurar quase tudo aos seus cidadãos. Neste aspecto, incluo
duas questões: a cultura e o serviço público de televisão e rádio. Ora, quanto
mais investimento privado houver, melhor será a qualidade dos serviços. Sou
completamente contra a manutenção de serviços no Estado que dão prejuízo. Um
serviço que só dá prejuízo deve ser alvo de cortes de maneira a garantir um
funcionamento equilibrado. Até para garantir aos cidadãos um serviço de
qualidade. Tudo se resume a uma palavra: se não funciona é para cortar. Em
relação à Educação e Saúde tenho dois pontos de vista. Na Saúde o Estado devia
contribuir com participação superior a 50% com incidência especial nos mais
carenciados e idosos. No que toca à educação, as autarquias deveriam ter um
papel mais interventivo e fiscalizador de forma. Sei que mexer nestas duas
áreas vai gerar muita indignação, no entanto indignado estou eu que não quero
contribuir para uma saúde e educação sem controlo de gastos, bem como noutras
áreas que depende da intervenção do Estado. Saúdo o seu trabalho por estar a
fazer um corte radical com o passado. Com alguns vícios que duram neste país há
quase 20 anos. E aqui culpo tanto o PSD como PS, porque foram estes partidos
que estiveram no Governo e levaram o país a esta bancarrota. Tal como eu, há
muitos portugueses que estão consigo, apesar dos inúmeros protestos. As pessoas
estão fartas das mesmas práticas, dos mesmos círculos e de passar a vida a
pagar impostos ao Estado para que este meta o nariz onde num país civilizado
não era chamado.
Conte com o meu apoio para
ultrapassar esta fase e mandar a troika embora de Portugal. Se os indicadores
estiverem correctos e começarmos a crescer em 2014, é certo que em 2015 a
vitória está assegurada, até porque o PS com António José Seguro não vai a lado
nenhum. No entanto não queria acabar esta carta sem lhe colocar duas perguntas:
Vai escolher um bom candidato
para Lisboa ou deixará ganhar António Costa na capital para que este não lhe
venha a fazer sombra nas próximas eleições legislativas?
Se conseguirmos mandar a
troika embora e as eleições de 2015 forem livres, vai querer continuar o apoio
do CDS?
Título e Texto: Francisco Castelo Branco, Forte Apache, 03-12-2012
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Não publicamos comentários de anônimos/desconhecidos.
Por favor, se optar por "Anônimo", escreva o seu nome no final do comentário.
Não use CAIXA ALTA, (Não grite!), isto é, não escreva tudo em maiúsculas, escreva normalmente. Obrigado pela sua participação!
Volte sempre!
Abraços./-