A continuada ausência de
alternativas exequíveis – daquelas que não criariam mais problemas, que os que
supostamente pretendem resolver – leva-me a “suspeitar” que, tal como para
Inglaterra de então, para o Portugal de agora, não existe outra alternativa. E
tal como para Inglaterra de então, o que inicialmente pode parecer o flagelo da
inevitabilidade, poderá acabar por revelar-se a benção da única alternativa. (O
Autor)
O artigo anterior fez-me pensar (credo!)… no seguinte.
Portugal, a meu ver, está a atravessar uma fase, em certa medida, comparável à
que a Inglaterra viveu na década de 70, que conheceu seu momento-pivot na
eleição de Margaret Thatcher, em
1979. Se lermos sobre Inglaterra na década que antecedeu esse momento, não
reconheceremos a nação económica, política e culturalmente pujante – ou a nação
relevante e influente – em que se tornou, ao longo das três décadas seguintes.
Leremos, sim, sobre uma nação em profunda convulsão; um país económica e socialmente deprimido. Não é por acaso que surge o movimento “punk” – caracterizado pela agressividade que emanava de letras, melodias e interpretações – como a mais conhecida contra-reacção à depressão social em que Inglaterra vivia. O primeiro grupo de imagens, ao fundo, ilustra bem este período, sendo que são narradas, curiosamente, por John Lydon (aka, Johnny “Rotten”), vocalista dos extintos Sex Pistols - a mais emblemática e famosa das bandas punk inglesas.
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Foto: Chris Collins, The Margaret Thatcher Foundation |
Leremos, sim, sobre uma nação em profunda convulsão; um país económica e socialmente deprimido. Não é por acaso que surge o movimento “punk” – caracterizado pela agressividade que emanava de letras, melodias e interpretações – como a mais conhecida contra-reacção à depressão social em que Inglaterra vivia. O primeiro grupo de imagens, ao fundo, ilustra bem este período, sendo que são narradas, curiosamente, por John Lydon (aka, Johnny “Rotten”), vocalista dos extintos Sex Pistols - a mais emblemática e famosa das bandas punk inglesas.
E nisto surge Thatcher, como a
mulher do momento. Num estilo que muitos hoje apelidariam de “autista” e
“ditador”, Thatcher arrancou o país das mãos dos poderosos interesses – entre
os maiores, os sindicatos dos mineiros e os da função pública – que tinham
levado o país a ajoelhar, quase literalmente, nos dejectos da sua própria
convulsão, naquele que ficaria conhecido como o “Inverno do Descontentamento”.
Esse Inverno de 1978-79, um particularmente rigoroso, conheceu greves com um
impacto tal que paralisaram o país, e deram ao mundo conhecidas imagens de
violência de rua e de pilhas de lixo, de vários metros de altura, na
hoje-turística Leicester Square – um autêntico festim para as inúmeras
ratazanas, emergidas da rede de esgotos públicos, que perfura o subsolo da
capital inglesa (visível no segundo grupo de imagens, ao fundo).
Foi a liderança irredutível de Thatcher – quem um jornalista soviético viria a batizar de “Dama de Ferro” – que arrancou este país do caos em que se encontrava. Intervenções como:
“To those waiting with bated breath for that favorite media catchphrase, the U-turn, I have only this to say, ‘You turn if you want; the lady’s not for turning.”[1]
ou “The problem with socialism is that you eventually run out of other people’s money.”[2] ficaram célebres.
Menos célebre, mas mais paradigmática e ainda atual, foi esta:
“I think we’ve been through
a period where too many people have been given to understand that if they have
a problem, it’s the government’s job to cope with it. ‘I have a problem, I’ll
get a grant.’ ‘I’m homeless, the government must house me.’ They’re casting
their problem on society. And, you know, there is no such thing as society.
There are individual men and women, and there are families. And no government
can do anything except through people, and people must look to themselves
first. It’s our duty to look after ourselves and then, also to look after our
neighbour. People have got the entitlements too much in mind, without the
obligations. There’s no such thing as entitlement, unless someone has
first met an obligation”[3]
Tudo isto é história; e o que
se seguiu, também. Thatcher, em quase três mandatos (três! não um!), endireitou
as finanças e a economia do país. Diga-se que o fez, provocando o mesmo
ultraje público que vemos no Portugal de hoje, mas com políticas cujo
“neo-liberalismo” fariam corar Vítor Gaspar. Esse foi o seu legado para os que
lhe seguiram – uma nova mentalidade, um novo país
Passado o relativamente-curto desastre político, que foi o governo de John Major, surgiu este jovem, uma estrela em ascensão no Partido Trabalhista, Tony Blair de seu nome, que se tornou, em 1997, no mais jovem primeiro-ministro britânico, em quase dois séculos. Se Thatcher endireitou um país moribundo, Blair, em dez anos e (quase) três mandatos, colocou-o na crista da onda de crescimento económico que varreu o planeta, ao mesmo tempo que o sentou, inequivocamente, à mesa das grandes negociações, elevando o seu estatuto a potência geopolítica global.
Passado o relativamente-curto desastre político, que foi o governo de John Major, surgiu este jovem, uma estrela em ascensão no Partido Trabalhista, Tony Blair de seu nome, que se tornou, em 1997, no mais jovem primeiro-ministro britânico, em quase dois séculos. Se Thatcher endireitou um país moribundo, Blair, em dez anos e (quase) três mandatos, colocou-o na crista da onda de crescimento económico que varreu o planeta, ao mesmo tempo que o sentou, inequivocamente, à mesa das grandes negociações, elevando o seu estatuto a potência geopolítica global.
Completamente diferentes em
estilos e substância, estas duas figuras têm em comum terem sido dois líderes,
dois monstros políticos como há muito não se via, e como não mais se viu, nesta
nossa Europa. Líderes cuja acção se caracterizou por ser assente numa fé
inabalável em princípios muito próprios – e com uma habilidade ímpar para não
capitular à agenda do poder partidário, a que estão sujeitos todos os
políticos, bem ou mal-intencionados. Líderes imperturbáveis por movimentos
populistas de facções que querem ver seus confortos imediatos, acima dos
interesses de médio prazo da nação. Ambos autores de decisões, no mínimo,
controversas. Entre elas, a guerra das Malvinas e
do Iraque, respectivamente.
Portanto, não pode dizer-se
que a sua acção esteja isenta de críticas. Principalmente quando somos todos
nós, em retrospectiva e do conforto da nossa bancada, os críticos em questão.
Ainda assim, considero que foram – mais pela atitude, que pelo mérito pleno de
suas opções – o exemplo que devia inspirar a nossa, pretensa, liderança
política. Até porque, a continuada ausência de alternativas exequíveis –
daquelas que não criariam mais problemas, que os que supostamente pretendem
resolver – leva-me a “suspeitar” que, tal como para Inglaterra de então, para o
Portugal de agora, não existe outra alternativa. E tal como para Inglaterra de
então, o que inicialmente pode parecer o flagelo da inevitabilidade, poderá
acabar por revelar-se a benção da única alternativa.
Porque uma imagem vale mais…
[1] “Para aqueles que esperam, de respiração suspensa,
pela mais favorita das frases mediáticas – o “volte-face” – tenho apenas uma
coisa a dizer: ‘Voltem-se vocês, se quiserem, que aqui a senhora, não está para
voltas!’”
[2] “O problema com o socialismo é que, mais cedo ou
mais tarde, o dinheiro dos outros acaba”
[3] “Penso que atravessámos um período onde foi dado a
entender a demasiada gente que, se tiverem um problema, é a função do governo
resolvê-lo. ‘Tenho um problema, arranjo um subsídio’, ‘Não tenho casa, o
governo tem de me hospedar’. Essas pessoas projectam os seus problemas na
sociedade. E, sabem, não existe tal coisa de ‘sociedade’. O que existe são
indivíduos – homens e mulheres – e famílias. E nenhum governo pode fazer coisa
alguma que não seja através das pessoas, sendo que têm primeiro de ser estas a
cuidar de si próprias. É nosso dever olharmos por nós próprios e, depois,
olharmos pelo nosso vizinho. As pessoas têm, em demasia, esta ideia de ‘direitos’
em mente, sem pensarem em ‘deveres’. Não existe tal coisa de ‘direito’, até que
a pessoa tenha cumprido, primeiro, com o seu ‘dever’”
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