Estudo mostra que a violência
de gênero contra a mulher é um flagelo na Argentina
Francisco Vianna
A violência contra a mulher na
Argentina tem-se convertido num flagelo social que, segundo estatísticas
oficiais, uma mulher é assassinada a cada 35 horas, e a erradicação dessa
anomalia exige mais recursos e mudanças educativas. É o que concluíram os
especialistas reunidos na “Semana da Mulher”, que se encerrou na quarta-feira, ontem,
em Buenos Aires. “A cada 35 horas é assassinada uma mulher na Argentina por
violência de gênero”, denunciou Ada Beatriz Rico, diretora do Observatório de
ginecídios “Adriana Marisel Zambrano”, que contabilizou 1 236 mortes perpetradas
por tal crime nos últimos cinco anos, com 255 delas ocorridas em 2012.
De acordo com Alda Rico, algo
em torno de quatro milhões de meninas e mulheres – mais ou menos 10 por cento
da população total do país – sofre algum tipo de violência, embora tenha
lamentado de que não se trate de cifras oficiais – amplamente desacreditadas na
Argentina por escamoteio e falsificação do neofascismo peronista no poder – mas,
sim, de dados obtidos da mídia e de instituições sociais não-governamentais. “É
necessário saber qual é a realidade para que se possam traçar políticas
efetivas de prevenção e alocar recursos para pô-las a funcionar”, denunciou a
ativista de direitos humanos.
A presidente argentina,
Cristina Fernández de Kirchner, veio a público na terça-feira passada para
anunciar a habilitação de um número telefônico para receber as queixas de
qualquer vítima de violência contra a mulher, mesmo sabendo que na maioria dos
casos essa providência muito pouco adianta. Mesmo assim o telefone indicado
recebeu já quase cinco mil denúncias em seis meses de vigência, com muito pouco
tendo sido apurado em retorno.
Os números são impressionantes, mais ainda porque um enorme contingente de mulheres agredidas não se atreve a denunciar seus agressores logo após tais crimes tenham sido perpetrados, haja vista a pequena quantidade de casos apurados e responsabilizados criminalmente o que impede que haja um respaldo familiar e institucional ao programa.
Os números são impressionantes, mais ainda porque um enorme contingente de mulheres agredidas não se atreve a denunciar seus agressores logo após tais crimes tenham sido perpetrados, haja vista a pequena quantidade de casos apurados e responsabilizados criminalmente o que impede que haja um respaldo familiar e institucional ao programa.
“A supremacia masculina na
sociedade está edificada pelos episódios de dominação coercitiva das mulheres e
isso dá uma espécie de aval a alguns homens para se sentirem à vontade para
cometer suas ações violentas contra as mulheres na Argentina”, explicou a
psicóloga e especialista em “teoria do gênero”, Irene Fridman. Ela adverte que
o padrão cultural do país afeta também as mulheres maltratadas, que muitas
vezes dependem economicamente daquele com quem vive e se relaciona intimamente
e do qual é sempre uma vítima em potencial e, por isso vivem aterrorizadas,
criando vínculos muito complexos “e paralisantes” com seus pares, o que as
torna muito difícil e improvável que consigam sair desse “círculo de
violência”.
“Para mudar essa situação,
falta iniciar uma longa batalha cultural que obrigatoriamente tem início nos
bancos escolares, nas igrejas, e nas instituições sociais, com especial ênfase
na transmissão e valorização de valores culturais judaico-cristãos típicos da
cultura argentina que abranjam as relações sociais, sexuais e familiares de
homens em mulheres desde a idade mais tenra até a conclusão, no mínimo, do
segundo grau da escolaridade oficial de humanidades”, disse Fridman.
É preciso mais do que nunca de
uma educação que valoriza a igualdade de valor entre as pessoas e não
necessariamente uma igualdade de comportamento entre elas, desde o jardim da
infância.
E o problema não é apenas
argentino. A deputada, presidente da Comissão legislativa da Mulher, Infância,
Adolescência e Juventude, fez ver que, apesar dos avanços, resta ainda muito
trabalho a ser feito para por fim a esse problema social. Nada menos do que
cinco dos 12 países do mundo com as maiores taxas de violência contra a mulher
estão na América latina, conforme o estudo “Ginecídio, um problema global”,
cujo ranque é encabeçado por El Salvador, com 12 assassinatos de mulheres por
cada cem mil habitantes.
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