Imprensa venezuelana sob fogo
e violência do governo comunista de Caracas
Francisco Vianna
Na maioria dos países
civilizados, quando alguma autoridade de alto escalão se sente ofendido ou
injuriado pela imprensa, recorre à justiça mediante uma ação de perdas e danos
morais e para exigir uma retratação pública ou provar nos tribunais as
denúncias feitas. Na Venezuela, sequestram a esposa do jornalista…
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Jornalistas venezuelanos em
passeata em Caracas denunciam as agressões que sofrem pessoalmente e as
perseguições aos seus jornais. Foto: Juan Barreto/AFP/Getty Images
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Foi o caso do diretor do
jornal La Noticia e ex-correspondente do canal de TV de notícias Globovisión,
Miguel Mundo, cuja esposa Alexandra, esteve sequestrada e submetida ao terror
de ser assassinada a qualquer momento pela revolução bolivariana, a título de
‘lição’, pelas matérias que escreveu demonstrando a corrupção do regime, numa
manhã de janeiro de 2012, no Estado de Cojedes. “Nessa manhã, quando recebi o
primeiro telefonema, me disseram que a tinham acusada e que dariam a mim uma
lição para deixar claro que não podia me meter com eles”, disse Mundo. Depois
de uma angustiante espera, veio o segundo telefonema. O marido jornalista ainda
tentou negociar, mas a voz do outro lado disse que já estava tudo pronto,
decidido, e que ela ia ser “eliminada”.
“Desesperado, não soube o que
fazer; não tinha a quem recorrer”, relatou Mundo.
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O presidente venezuelano,
Nicolás Maduro, pelego sindical e acostumado a todas as práticas de intimidação
e repressão, foto: EFE
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“O jornalismo na Venezuela se encontra submetido a um processo gradual de estrangulamento”, explicou Belsay Hennig, segunda vice-presidente da Associação de Jornalistas Venezuelanos no Exterior (APEVEX). Para ela, o governo aplica diferentes métodos que vão de demandas judiciais em tribunais controlados pelo regime chavezista à negação de outorgar divisas (dólares) para importar insumos, e até compra de meios de comunicação através de empresários “amigos”, explicou Henning.
A perseguição judicial à mídia
é um dos temas centrais do foro “O Socialismo do Século XXI e suas repercussões
à liberdade de imprensa”, evento organizado conjuntamente pela APEVEX e o
Centro de Iniciativas para a América Latina e Caribe (CLACI) do Miami Dade
College e que será realizado na manhã de sexta-feira no Campus Wolfson da casa
de estudos.
Mas, além de perseguir a
mídia, o regime persegue diretamente jornalistas. De acordo com a Associação
Civil Espaço Público, a Venezuela registrou em 2012 cerca de duzentas denúncias
de violências e práticas de ameaça e de intimidação cometidas contra repórteres
e jornalistas. Por sua vez, o Capítulo da Venezuela do Instituto de Imprensa e
Sociedade relatou 193 casos ao longo do ano em curso. Ambas as organizações
consideram que a perseguição á imprensa é uma ‘política de Estado’ na
Venezuela.
Muitas das denúncias relatam
agressões perpetradas contra jornalistas no exercício de sua profissão quando
estão nas ruas realizando alguma cobertura. Foi o caso da correspondente da
Globovisión no Estado Aragua, Carmen Elisa Pecorelli, quando cobria a visita de
uma comissão da Procuradoria Geral da República que investigava as mortes de
vários recém-nascidos num hospital da cidade de Maracay em fevereiro de 2012.
Segundo um informe da Comissão
Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), Pecorelli foi agredida por um grupo
violento de adeptos do chavezismo, que se identificaram como integrantes das
“Brigadas Integrais Comunitárias”, quando a jornalista cobria a notícia. E as
agressões, por vezes, envolvem o uso de armas de fogo, como ocorreu com uma
equipe do jornal da RCTV, canal de TV que após ser tirado do ar pelo chavezismo
em 2007 opera como um canal de sinal de Internet. De acordo com o relatório da
CIDH, a equipe foi encurralada sob a mira de armas de fogo por desconhecidos e
despojada de seus equipamentos enquanto cobria a publicação dos resultados das
eleições estudantis de duas escolas da Universidade Central de Venezuela em
janeiro de 2012.
Os jornalistas gravaram os
encapuçados vinculados ao chavezismo quando estes lançaram bombas de gás
lacrimogêneo à saída de um auditório, onde se anunciou o resultado da votação.
Antes de escapar, os agressores dispararam para o ar.
Porém, no caso de Mundo, não
se tratou de uma eventual agressão durante o exercício profissional. O
jornalista há meses já vinha sendo alvo de telefonemas ameaçadores e
intimidadores. “Eram ameaças. Diziam-me que parasse de criticar o ‘comandante’
[Hugo Chávez], que não continuasse a me meter com eles, que ‘vais aparecer com
moscas na boca’. Isto tendo começado em 2010, e sendo aumentado em 2011, até
que os covardes ao invés de me atingirem, acabaram sequestrando e aterrorizando
minha esposa indefesa”, relatou Mundo.
Mundo não deu a devida
importância a essas ameaças e continuou a reportar as práticas de corrupção no
Estado, em matérias que eram sequencialmente publicadas pelo seu jornal, e em
cadeias de TV e rádio da Globovisión e União Rádio até o dia em que sua esposa
foi sequestrada por quatro homens armados que vestiam roupas de flanela e
gorros vermelhos enquanto ela abastecia o carro depois de deixar os filhos na
creche.
Os sequestradores a obrigaram
a entrar em outro veículo, pequeno, e lhe golpeavam o dia todo, enquanto a
ameaçavam de morte, disse Mundo. “Por várias horas ficaram a dizer a ela que a
iam matar porque seu esposo era ‘muito imbecil’. Iam matá-la porque não respeitavam
o ‘comandante’ e a revolução. Diziam o tempo todo que se eu não parasse o que
estava a fazer iriam matar-nos a ambos e depois as crianças”, detalhou.
Mas ainda quando os agressores
disseram a Mundo por telefone, nessa tarde, que tinham decidido matar sua
esposa, os homens não chegaram a cumprir a ameaça. Era tudo prática do
terrorismo mais covarde e desumano. Enfim, a aterrorizada mulher foi solta numa
rodovia nos arrabaldes de San Carlos, a capital de Cojedes.
Após receber o telefonema de
sua esposa, isso já às 9 da noite, Mundo foi buscá-la e a levou para casa sob
uma mistura de emoções que variava da raiva e indignação a um dissonante
sentimento de alívio e de graças à Deus. A tragédia, depois de tudo, poderia
ter sido ainda maior.
E a tática de intimidação
funcionou. “Seis dias depois já estávamos nos EUA”, disse Mundo, que agora mora
em Miami.
Título e Texto: Francisco Vianna, (da mídia
internacional), 06-9-2013
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