Muitos são os rumos que
momentos de indignação podem indicar. Como, no momento, uma das maiores a se
abater sobre esta pobre República Federativa é a constatação, pela às vezes até
sábia voz do povo, que o Supremo está a serviço dos mensaleiros, sobre isso
poderemos navegar. Tenho vários amigos e amigas que ficaram literalmente
derrubados com o voto do ministro Celso de Mello a acolher os embargos
infringentes. Uma delas, com a agravante de estar no dia da votação acometida
por forte gripe, diante do resultado que virou festa para os criminosos
alcançou o fundo do poço. Não queria ver ninguém, com ninguém queria falar e
até o pobre gato da filha, ao passear sobre o tapete da sala, levou três
bicadas do mocassim da angustiada. Foi parar no veterinário com escoriações
generalizadas.
Outras pessoas, mais
pragmáticas, ficaram realmente chateadas, mas, conhecendo os meandros do poder,
já se encontravam preparadas para a pizza cujo aroma há tempos tresandava pela
Praça dos Três Poderes. E passaram a observar os acontecimentos para poder
tricotar um tapetinho sobre a situação. Lendo alguns analistas que comentaram o
evento, naturalmente haveria espaço para aqueles que detectaram ter Celso de
Mello votado de acordo com o que determina a Lei. Como, porém, mesmo esta colocação
acabou por ser divergente, caso realmente quisesse mandar para a cadeia os
infratores, também dentro do que está escrito nos livros S. Excia. poderia ter
votado “não”.
Porém, em toda essa história
de mau cheiro, algo que me chamou a atenção foi o preâmbulo, longo e
chatíssimo, do voto do ministro. Quando ele diz que o bom juiz é aquele que
vota independente do que berre a chamada voz rouca das ruas ou os órgãos de
informação, a mídia. Certamente se alongou sobre isso por saber que a Imprensa
realmente independente (não as governistas cartas capital da vida) abominaria
sua imensa peroração. E, de fato, não demorou em aparecer o contraditório,
encontrado na obra autobiográfica do falecido ministro Saulo Ramos, que
comandou ministério nos anos do presidente Sarney. Lá ele narra que no caso da
candidatura do ex-presidente maranhense ao Senado, pelo Estado do Amapá, houve
recursos ao Supremo. E que Mello declarou ter votado contra o antigo ocupante
do Planalto apenas para contrariar a Folha de S. Paulo. Cobrado por Saulo,
confirmou isso; levando o então ministro da Justiça a alvejá-lo com veemente
“você é um juiz de merda”...
Como, porém, essas coisas que
começam a vir à tona agora parecem não atingir Celso de Mello, tão “rempli de
soi même” como o novato Barroso, andei tentando achar, em todo o noticiário que
li a repercutir o voto do homem que livrou os mensaleiros da cana, alguma coisa
realmente capaz de fazê-lo cair em si pela ação desastrada no plenário do STF
na fatídica tarde do dia 18 último. E fui achar algo em notinha quase escondida
no imenso mar de informações, grandes e pequenas, que a Internet joga no ar.
Era um mínimo telegrama enviado da pequena, porém charmosa e simpática Tatuí,
não longe de Campinas, onde o ministro Mello nasceu. No despacho veio a
revelação de que os moradores da cidade teriam ficado absolutamente chocados
com o voto do seu mais ilustre filho. E como S. Excia. já havia declarado que
após a aposentadoria, em breve, optaria por ir morar no seu chão da infância,
os conterrâneos imediatamente após o encerramento da sessão no STF fizeram
passeata pela bem cuidada praça central tatuiense. Onde, entre outras placas
exibidas pelos manifestantes, estava uma, a pedir: “Ministro Mello, não venha
não”. E esta outra, ao lado: “Fique com a turma de Brasília”.
Como isso, todavia, não poderá
impedir o direito de ir e vir do logo ex-ministro, estou inclinado a concluir
que os moradores de Tatuí estavam a sugerir a ele que permaneça na Capital da
República para se sentir mais em casa. Afinal, na inatividade muito bem
remunerada à custa dos nossos impostos, poderá aproveitar os fins de semana
para churrascadas com seus pares ministros Lewandowski, Toffoli, Zavascki,
Barroso e Rosa Weber. Quem sabe com o comparecimento, vez ou outra, do próprio
Dirceu mais o primeiro-ministro Lula e dona Marisa Letícia. Também,
naturalmente, Delúbio, João Paulo Cunha e Genoino. A linda e pacata Tatuí
merece, de fato, ser preservada.
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Teatro "Procópio
Ferreira" (Conservatório Dramático e Musical "Dr. Carlos de
Campos" de Tatuí), 8 de maio de 2007, foto: Paulo Rogério
|
Título e Texto: Antonio Contente, 22-9-2013
Via Eliana França Leme
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