domingo, 22 de setembro de 2013

Rumos e sutilezas das indignações

Antonio Contente
Muitos são os rumos que momentos de indignação podem indicar. Como, no momento, uma das maiores a se abater sobre esta pobre República Federativa é a constatação, pela às vezes até sábia voz do povo, que o Supremo está a serviço dos mensaleiros, sobre isso poderemos navegar. Tenho vários amigos e amigas que ficaram literalmente derrubados com o voto do ministro Celso de Mello a acolher os embargos infringentes. Uma delas, com a agravante de estar no dia da votação acometida por forte gripe, diante do resultado que virou festa para os criminosos alcançou o fundo do poço. Não queria ver ninguém, com ninguém queria falar e até o pobre gato da filha, ao passear sobre o tapete da sala, levou três bicadas do mocassim da angustiada. Foi parar no veterinário com escoriações generalizadas.

Outras pessoas, mais pragmáticas, ficaram realmente chateadas, mas, conhecendo os meandros do poder, já se encontravam preparadas para a pizza cujo aroma há tempos tresandava pela Praça dos Três Poderes. E passaram a observar os acontecimentos para poder tricotar um tapetinho sobre a situação. Lendo alguns analistas que comentaram o evento, naturalmente haveria espaço para aqueles que detectaram ter Celso de Mello votado de acordo com o que determina a Lei. Como, porém, mesmo esta colocação acabou por ser divergente, caso realmente quisesse mandar para a cadeia os infratores, também dentro do que está escrito nos livros S. Excia. poderia ter votado “não”.

Porém, em toda essa história de mau cheiro, algo que me chamou a atenção foi o preâmbulo, longo e chatíssimo, do voto do ministro. Quando ele diz que o bom juiz é aquele que vota independente do que berre a chamada voz rouca das ruas ou os órgãos de informação, a mídia. Certamente se alongou sobre isso por saber que a Imprensa realmente independente (não as governistas cartas capital da vida) abominaria sua imensa peroração. E, de fato, não demorou em aparecer o contraditório, encontrado na obra autobiográfica do falecido ministro Saulo Ramos, que comandou ministério nos anos do presidente Sarney. Lá ele narra que no caso da candidatura do ex-presidente maranhense ao Senado, pelo Estado do Amapá, houve recursos ao Supremo. E que Mello declarou ter votado contra o antigo ocupante do Planalto apenas para contrariar a Folha de S. Paulo. Cobrado por Saulo, confirmou isso; levando o então ministro da Justiça a alvejá-lo com veemente “você é um juiz de merda”... 

Como, porém, essas coisas que começam a vir à tona agora parecem não atingir Celso de Mello, tão “rempli de soi même” como o novato Barroso, andei tentando achar, em todo o noticiário que li a repercutir o voto do homem que livrou os mensaleiros da cana, alguma coisa realmente capaz de fazê-lo cair em si pela ação desastrada no plenário do STF na fatídica tarde do dia 18 último. E fui achar algo em notinha quase escondida no imenso mar de informações, grandes e pequenas, que a Internet joga no ar. Era um mínimo telegrama enviado da pequena, porém charmosa e simpática Tatuí, não longe de Campinas, onde o ministro Mello nasceu. No despacho veio a revelação de que os moradores da cidade teriam ficado absolutamente chocados com o voto do seu mais ilustre filho. E como S. Excia. já havia declarado que após a aposentadoria, em breve, optaria por ir morar no seu chão da infância, os conterrâneos imediatamente após o encerramento da sessão no STF fizeram passeata pela bem cuidada praça central tatuiense. Onde, entre outras placas exibidas pelos manifestantes, estava uma, a pedir: “Ministro Mello, não venha não”. E esta outra, ao lado: “Fique com a turma de Brasília”.

Teatro "Procópio Ferreira" (Conservatório Dramático e Musical "Dr. Carlos de Campos" de Tatuí), 8 de maio de 2007, foto: Paulo Rogério
Como isso, todavia, não poderá impedir o direito de ir e vir do logo ex-ministro, estou inclinado a concluir que os moradores de Tatuí estavam a sugerir a ele que permaneça na Capital da República para se sentir mais em casa. Afinal, na inatividade muito bem remunerada à custa dos nossos impostos, poderá aproveitar os fins de semana para churrascadas com seus pares ministros Lewandowski, Toffoli, Zavascki, Barroso e Rosa Weber. Quem sabe com o comparecimento, vez ou outra, do próprio Dirceu mais o primeiro-ministro Lula e dona Marisa Letícia. Também, naturalmente, Delúbio, João Paulo Cunha e Genoino. A linda e pacata Tatuí merece, de fato, ser preservada.
Título e Texto: Antonio Contente, 22-9-2013
Via Eliana França Leme

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