quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Graças à internet, os venezuelanos conseguem driblar a censura de Maduro

Foto distribuída pela imprensa do Palácio de Miraflores onde se vê o presidente Nicolás Maduro, durante uma cerimônia de formatura de policiais pela "Universidade Experimental de Segurança", como parte dos planos do chavezismo de criar um estado policial. (EFE)
Francisco Vianna
Uma das características atuais da imprensa é o seu caráter global, principalmente após o advento e extraordinário desenvolvimento da Internet e, dentro dela, das redes sociais. Hoje os computadores e os dispositivos móveis competem com os jornais e televisores em todo o mundo e, principalmente, na Venezuela, onde uma sociedade esfomeada por informação sem censuras lança mão com uma frequência cada vez maior da Rede Mundial para driblar o cerco informativo imposto pelo regime de Nicolás Maduro aos venezuelanos.

Por causa disso, começam a proliferar na Venezuela uma série de novos canais no ciberespaço e, só nos últimos meses, já chegam perto de uma dezena deles, somando-se às plataformas de multimídia dos jornais e ao uso das redes sociais para divulgar imagens e notícias que começam a se tornar escassas nas transmissões das estações de rádio e TVs tradicionais, a maior parte delas já estatizada e a quase totalidade delas atemorizada de receber represálias por parte do regime.

“Hoje, sabe-se que mais de 700 meios de comunicação da Venezuela estão amplamente controlados pelo estado comunista”, disse Eduardo Sapene, em Miami, ex-vice-presidente de notícias da Radio Caracas Televisión (RCTV), canal que foi o mais antigo e tradicionalmente independente do país, até que o defunto presidente Hugo Chávez o fechou em maio de 2007. “Tudo é válido”, comentou o jornalista. “Quando não te dão acesso aos meios tradicionais, valem até os sinais de fumaça para a comunicação. Por isso é que hoje em dia se usa tanto a Internet, as redes sociais, e inclusive as chamadas telefônicas para que se possa prosseguir informando o que ocorre no mundo e, principalmente, o que acontece dentro de um país como a Venezuela ‘bolivariana’”.

A única ferramenta, por enquanto disponível para se opor às pretensões do chavezismo de estabelecer uma hegemonia espúria e ilegal nas comunicações na Venezuela é a Internet. Os planos do regime atual, nesse sentido, já estão bem avançados. “Pelo menos no espectro da TV, já não restam espaços para transmitir as vozes da dissidência, da oposição, ou sequer do contraditório. As emissoras de rádio que ainda fazem isso são muito poucas e transmitem de cidades ou estados governados pela oposição”, salientou Sapene.

Em função do “cerco à imprensa” imposto pelo chavezismo, um número cada vez maior de jornalistas independentes começaram a explorar o máximo as ferramentas disponíveis na Internet para tentar manter informados os venezuelanos. Entre esses está Sapene, que esta semana está a colaborar de Miami com os preparativos da cobertura das eleições municipais do próximo domingo para o canal digital GlobalVisión TV, cujo lançamento inaugural está previsto para esse mesmo dia.

Mas a GlobalVisión TV é apenas o mais recente dos meios entre os canais de TV pela Internet que começam a emergir vigorosamente após a recente aquisição do outrora canal independente de notícias ‘Globovisión’ por parte de empresários associados ao regime socialista de Maduro.

Outros canais ‘web’ que já tentam ocupar há algum tempo o vácuo informativo no país incluem a DemocraciaTV, RunrunesTV, LaPatillaTV, ElvenezolanoTV, Noticias24TV e CaprilesTV, canal criado há alguns meses pelo líder da oposição Henrique Capriles, em resposta à perda do acesso às telas de TV causada pela venda da Globovisión.

A estas se somam as imagens transmitidas pelos portais de notícias dos jornais El Nacional (ENTV) e El Universal (EUTV), sendo este último um dos mais populares na Venezuela. Miguel Bracho, diretor de Operações do DemocraciaTV, disse que o canal foi inaugurado há 14 dias com a intenção de arrancar a mordaça comunicacional do chavezismo. “O cerco informativo que existe hoje na Venezuela nos leva a fazer isto”, disse Bracho. “A não divulgação de notícias, a censura oficial e a autocensura dos meios geram a necessidade de se criar novas janelas para manter os venezuelanos informados”, acrescentou. Ambas, Globalvisión TV e DemocraciaTV, têm suas sedes em Miami.

O plano concebido por Hugo Chávez de hegemonia nas comunicações do país, e executado atualmente por Maduro, tem levado o ‘regime bolivariano’ a controlar o conteúdo de todos os canis de TV de sinal aberto e por cabo, além de uma gigantesca rede de estações de rádio, mais de 72 jornais e numerosos portais de Internet controlados por diferentes organismos do estado, segundo um estudo elaborado pela Universidade Católica Andrés Bello.

O chavezismo tenta assim amordaçar a mídia com o objetivo de ocultar as dimensões da crise de governabilidade e econômica que atinge, com sinais de escassez aguda de produtos de primeira necessidade e que está a gerar uma crescente impopularidade do regime a níveis nunca antes vistos.

Mas o controle da mídia também é um componente inerente ao modelo político que o chavezismo pretende impor à Venezuela, disse de Miami Guillermo Lousteau Heguy, presidente do Instituto Interamericano para a Democracia. “Eles necessitam justificar seu governo com relatos que devem alimentar a farsa socialista através dos meios de comunicação. A diferença com outras ditaduras mais ostensivas é a de que essas outras silenciavam a mídia, ao passo que essa ditadura mais disfarçada que ocorre na Venezuela não somente a silencia mas também monta sua própria estrutura comunicacional, englobando uma enorme quantidade de meios”, explicou Lousteau. Quanto mais o fazem, mais isolada a Venezuela vai se tornando do resto do mundo, caminhando numa direção semelhante à adotada por Cuba e Coreia do Norte. 

O jornalismo independente constitui um perigo constante para este tipo de regime porque ao desaparecer a independência da mídia privada sucumbindo aos interesses do estado autoritário, essa mídia global se converte na última trincheira da sociedade, a partir da qual se pode denunciar excessos, violações de direitos, corrupção e desacertos das políticas de qualquer regime totalitário.

No entanto, talvez mais nocivo para eles seja a persistência da imprensa independente em fazer chegar aos olhos e ouvidos da população, de um modo ou de outro, a contestação bem fundamentada do que relata o regime, como o dinheiro do povo, o que é crucial para ele impedir.

Por isso, o regime se dedica tanto a combater o jornalismo independente, ainda bem que apenas dentro do país, porque quanto à característica global da mídia moderna, ele não pode fazer nada.

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