Uma das características atuais da imprensa é o seu caráter global, principalmente
após o advento e extraordinário desenvolvimento da Internet e, dentro dela, das
redes sociais. Hoje os computadores e os dispositivos móveis competem com os
jornais e televisores em todo o mundo e, principalmente, na Venezuela, onde uma
sociedade esfomeada por informação sem censuras lança mão com uma frequência
cada vez maior da Rede Mundial para driblar o cerco informativo imposto pelo
regime de Nicolás Maduro aos venezuelanos.
Por causa disso, começam a
proliferar na Venezuela uma série de novos canais no ciberespaço e, só nos
últimos meses, já chegam perto de uma dezena deles, somando-se às plataformas
de multimídia dos jornais e ao uso das redes sociais para divulgar imagens e
notícias que começam a se tornar escassas nas transmissões das estações de
rádio e TVs tradicionais, a maior parte delas já estatizada e a quase
totalidade delas atemorizada de receber represálias por parte do regime.
“Hoje, sabe-se que mais de 700
meios de comunicação da Venezuela estão amplamente controlados pelo estado
comunista”, disse Eduardo Sapene, em Miami, ex-vice-presidente de notícias da Radio Caracas Televisión (RCTV), canal
que foi o mais antigo e tradicionalmente independente do país, até que o
defunto presidente Hugo Chávez o fechou em maio de 2007. “Tudo é válido”,
comentou o jornalista. “Quando não te dão acesso aos meios tradicionais, valem
até os sinais de fumaça para a comunicação. Por isso é que hoje em dia se usa
tanto a Internet, as redes sociais, e inclusive as chamadas telefônicas para
que se possa prosseguir informando o que ocorre no mundo e, principalmente, o
que acontece dentro de um país como a Venezuela ‘bolivariana’”.
A única ferramenta, por
enquanto disponível para se opor às pretensões do chavezismo de estabelecer uma
hegemonia espúria e ilegal nas comunicações na Venezuela é a Internet. Os
planos do regime atual, nesse sentido, já estão bem avançados. “Pelo menos no
espectro da TV, já não restam espaços para transmitir as vozes da dissidência,
da oposição, ou sequer do contraditório. As emissoras de rádio que ainda fazem
isso são muito poucas e transmitem de cidades ou estados governados pela
oposição”, salientou Sapene.
Em função do “cerco à
imprensa” imposto pelo chavezismo, um número cada vez maior de jornalistas
independentes começaram a explorar o máximo as ferramentas disponíveis na
Internet para tentar manter informados os venezuelanos. Entre esses está
Sapene, que esta semana está a colaborar de Miami com os preparativos da
cobertura das eleições municipais do próximo domingo para o canal digital GlobalVisión TV, cujo lançamento
inaugural está previsto para esse mesmo dia.
Mas a GlobalVisión TV é apenas o mais recente dos meios entre os canais
de TV pela Internet que começam a emergir vigorosamente após a recente
aquisição do outrora canal independente de notícias ‘Globovisión’ por parte de
empresários associados ao regime socialista de Maduro.
Outros canais ‘web’ que já
tentam ocupar há algum tempo o vácuo informativo no país incluem a DemocraciaTV, RunrunesTV, LaPatillaTV, ElvenezolanoTV, Noticias24TV e CaprilesTV,
canal criado há alguns meses pelo líder da oposição Henrique Capriles, em
resposta à perda do acesso às telas de TV causada pela venda da Globovisión.
A estas se somam as imagens
transmitidas pelos portais de notícias dos jornais El Nacional (ENTV) e El
Universal (EUTV), sendo este último um dos mais populares na
Venezuela. Miguel Bracho, diretor de Operações do DemocraciaTV, disse que o canal foi inaugurado há 14 dias com a
intenção de arrancar a mordaça comunicacional do chavezismo. “O cerco
informativo que existe hoje na Venezuela nos leva a fazer isto”, disse Bracho.
“A não divulgação de notícias, a censura oficial e a autocensura dos meios
geram a necessidade de se criar novas janelas para manter os venezuelanos informados”,
acrescentou. Ambas, Globalvisión TV e
DemocraciaTV, têm suas sedes em
Miami.
O plano concebido por Hugo
Chávez de hegemonia nas comunicações do país, e executado atualmente por
Maduro, tem levado o ‘regime bolivariano’ a controlar o conteúdo de todos os
canis de TV de sinal aberto e por cabo, além de uma gigantesca rede de estações
de rádio, mais de 72 jornais e numerosos portais de Internet controlados por
diferentes organismos do estado, segundo um estudo elaborado pela Universidade
Católica Andrés Bello.
O chavezismo tenta assim
amordaçar a mídia com o objetivo de ocultar as dimensões da crise de
governabilidade e econômica que atinge, com sinais de escassez aguda de
produtos de primeira necessidade e que está a gerar uma crescente impopularidade
do regime a níveis nunca antes vistos.
Mas o controle da mídia também
é um componente inerente ao modelo político que o chavezismo pretende impor à
Venezuela, disse de Miami Guillermo Lousteau Heguy, presidente do Instituto
Interamericano para a Democracia. “Eles necessitam justificar seu governo com
relatos que devem alimentar a farsa socialista através dos meios de
comunicação. A diferença com outras ditaduras mais ostensivas é a de que essas
outras silenciavam a mídia, ao passo que essa ditadura mais disfarçada que
ocorre na Venezuela não somente a silencia mas também monta sua própria
estrutura comunicacional, englobando uma enorme quantidade de meios”, explicou
Lousteau. Quanto mais o fazem, mais isolada a Venezuela vai se tornando do
resto do mundo, caminhando numa direção semelhante à adotada por Cuba e Coreia
do Norte.
O jornalismo independente
constitui um perigo constante para este tipo de regime porque ao desaparecer a
independência da mídia privada sucumbindo aos interesses do estado autoritário,
essa mídia global se converte na última trincheira da sociedade, a partir da
qual se pode denunciar excessos, violações de direitos, corrupção e desacertos
das políticas de qualquer regime totalitário.
No entanto, talvez mais nocivo
para eles seja a persistência da imprensa independente em fazer chegar aos
olhos e ouvidos da população, de um modo ou de outro, a contestação bem
fundamentada do que relata o regime, como o dinheiro do povo, o que é crucial
para ele impedir.
Por isso, o regime se dedica
tanto a combater o jornalismo independente, ainda bem que apenas dentro do
país, porque quanto à característica global da mídia moderna, ele não pode
fazer nada.
Título e Texto: Francisco Vianna, (da mídia
internacional), 05-12-2013
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