sábado, 1 de fevereiro de 2014

É urgente um programa cautelar para o comentário político

Luís Naves

Na política portuguesa torna-se penoso o espectáculo diário de ex-dirigentes a fazerem afirmações que não resistem a cinco segundos de reflexão. Paulo Gorjão refere o caso de Rui Rio e a sua imagem do barquinho a remos perdido na tempestade. No mesmo dia desta declaração, Manuela Ferreira Leite defendia na TVI o programa cautelar e “demonstrava” como este seria muito mais barato do que a saída à irlandesa.

Assim, temos as contas já feitas, embora ninguém saiba ao certo o que é o programa cautelar.

Conhecemos a ideia geral de um seguro equivalente a 10% do PIB, empréstimo sujeito a condições desconhecidas (de certeza, pouco suaves). O cautelar não está previsto nos Tratados Europeus e, portanto, tem de ser ratificado por todos os Estados-membros. Mesmo que seja negociado e aprovado em Conselho Europeu, não está garantido, pois a Finlândia ou a Estónia (ou outro parceiro) podem decidir chumbar. Também não se sabe se o FMI participa. Aliás, não se sabe nada disto pela simples razão das negociações não terem ainda começado.

A Irlanda preferiu sair do programa de ajustamento sem ajuda externa precisamente por não conhecer todos os elementos de um eventual programa cautelar. Na altura, o ministro das Finanças irlandês reconheceu que havia certa confusão nas intenções dos credores e, pela leitura das suas afirmações, fiquei com a sensação de que os irlandeses foram amavelmente convidados a prescindir de mais auxílio. E a Irlanda está longe de parecer um barquinho a remos no meio da tempestade, sendo certo que ainda não chegaram os testes decisivos sobre a banca.

Em resumo, a política nacional voa baixinho. Parece triste ver estes ex-dirigentes sem informação privilegiada a fazerem afirmações peremptórias sobre assuntos indefinidos. A possibilidade de Portugal imitar a Irlanda deve parecer-lhes um autêntico pesadelo, pois afasta-os mais um bocado do poder.
Título e Texto: Luís Naves, Fragmentário, 01-02-2014

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