Cesar Maia
1. Na saída da reunião, em
1985, entre Tancredo Neves – presidente eleito – e Lula, presidente do PT, a
imprensa reuniu todas as câmeras e gravadores à espera da decisão do PT.
Afinal, o PT se somaria à frente democrática pela eleição de Tancredo no
Congresso ou não?
2. Finalmente, Lula saiu e,
cercado pela imprensa, deu as explicações. Disse que pediu 2 coisas a Tancredo:
o aumento do salário mínimo e o controle dos Fundos de Pensão das Empresas
Estatais. A primeira era apenas fogo-de-artifício, com uma inflação daquele
tamanho. Mas a segunda era para valer. A Veja destacou com foto as declarações
de Lula e o que havia pedido a Tancredo Neves pelo – para – o PT.
3. Afinal, o PT treinou no
exterior por anos o presidente do sindicato dos bancários de S. Paulo, Luis
Gushiken. Na Constituinte, coube a Gushiken a liderança das teses do PT que
envolviam os Fundos de Pensão das Estatais. Com Lula eleito em 2002, coube a
Gushiken o comando desses Fundos de Pensão, independente de onde estivesse,
câmara, ministério e presidente de entidade para-estatal. Gushiken faleceu em
2013.
4. O Globo, neste domingo
(21), traz ampla matéria sobre a manipulação daqueles Fundos com imensos
prejuízos que somam uns R$ 30 bilhões de reais e sublinha o papel destacado de
Gushiken. Esse sempre foi o projeto de poder do PT e se Tancredo Neves tivesse aceitado,
o PT teria dado a ele os seus votos. Esse era o preço!
5.1. (GLOBO, 21) Quando chegou
ao Planalto, em 2003, Lula estava decidido a ampliar esse canal de influência
sobre o setor privado, pela via da multiplicação da presença dos fundos de
pensão estatais e do BNDES no quadro societário das empresas. Havia um projeto,
desenhado desde os primórdios do PT e da Central Única dos Trabalhadores, por
iniciativa de Luiz Gushiken, então presidente do Sindicato dos Bancários de São
Paulo.
5.2. Ajudou a escrever o
primeiro estatuto, presidiu o PT, elegeu-se deputado federal três vezes e se
tornou um dos mais influentes assessores de Lula. Foram os negócios nada
ortodoxos entre fundos estatais e empresas privadas durante o governo Collor,
em 1991, que levaram Gushiken e dois diretores do sindicato paulistano, Ricardo
Berzoini e Sérgio Rosa, a abrir o debate dentro do PT sobre o potencial
político dos fundos de pensão — até então percebidos como meros instrumentos
governamentais de cooptação de sindicalistas.
5.3. No ano seguinte, a cúpula
político-sindical do PT elegeu bancários para diretorias da Previ e da Funcef,
derrotando a velha guarda da Confederação dos Trabalhadores nas Empresas de
Crédito. O grupo avançou com a eleição de Berzoini à presidência do sindicato paulistano,
com Sérgio Rosa e João Vaccari Neto na diretoria. Meses depois, esse trio teve
a ideia de entrar no ramo imobiliário com apoio financeiro dos fundos de
previdência: nascia a Bancoop, cooperativa habitacional, hoje alvo de múltiplos
processos por suposto desvio de dinheiro para campanhas do PT e calote em mais
de dois mil clientes. Gushiken decidiu não disputar o quarto mandato de
deputado federal pelo PT, em 1998. Berzoini ficou com a vaga. Elegeu-se, mas
fez questão de continuar na direção da Bancoop até a campanha presidencial de
Lula, em 2002.
5.4. Na sede da CUT, Gushiken
instalou um curso para formação de sindicalistas em Previdência Complementar.
Sinalizava o rumo nas apostilas: “No Brasil, o fundo de pensão como fonte de
poder ou como potente agente de negociação nunca foi objeto de discussão nos
sindicatos (...) Existe a possibilidade, não remota, de que este monumental
volume de recursos, oriundos do sacrifício de milhões de trabalhadores, venha a
se transformar num gigantesco pesadelo para estes mesmos trabalhadores”.
Título e Texto: Cesar Maia, 22-2-2016
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