Rui A.
Confesso ter uma enorme
repugnância pessoal pela figura pública de Pacheco Pereira [foto]. A privada não
conheço, nem me interessa conhecer. Mas o homem público realça todos os
defeitos de uma certa elite letrada portuguesa, presumida, arrogante e venal
quando convém, que gira uma vida inteira em torno das sinecuras do poder, e que
Eça de Queiroz muito bem caracterizou nos seus romances de costumes lisboetas,
em especial no célebre O Conde de Abranhos.
Se em torno dos muitos Alípios
Severos Abranhos que por aí andam há sempre um Z. Zagalo disponível para
exaltar as qualidades de S. Ex.ª, Pacheco teve o seu momento de maior
importância política quando foi o Zagalo de Cavaco Silva, nos tempos antigos de
glória do velho chefe. Por essa altura, Pacheco exaltava o mérito e as
qualidades infinitas de Aníbal, de quem poderia ter dito, como o seu antecessor
ficcional dissera de Alípio, «que todos conhecem o grande homem, eu conheço o
homem». Tamanha dedicação valeu a Pacheco uns lugares políticos de importância
mediana e, sobretudo, uma enorme expressão na comunicação social, com a qual
ele se antevia a eterna inteligência da direita indígena.
Mas as coisas não correram
conforme os planos de Pacheco e, saído Cavaco da liderança do PSD, logo as
coisas lhe começaram a correr mal. Primeiro, com um pontapé para cima, mais
propriamente para o Parlamento Europeu, que lhe foi dado por Durão Barroso, com
quem Pacheco nunca se meteu por puro receio. Depois, com uma sucessão de
líderes que não lhe deram a importância que ele se julga ter. Mais tarde, com o
desgosto de Manuela Ferreira Leite. E por fim, com Passos Coelho, a quem ele
vota um ódio visceral, que, verdadeiramente, nada tem a ver com as políticas
que este seguiu como chefe de governo, mas por lhe parecer inconcebível que um
tipo que ele considera estar imensamente abaixo de si o possa ter ultrapassado
e não lhe dar importância nenhuma.
O que repele na figura pública
de Pacheco Pereira não é, então, o que ele diz ou possa dizer sobre a política
nacional e os seus protagonistas. Muito menos sobre o PSD e Passos Coelho.
Pacheco sempre foi um tipo de esquerda muito radical, que apenas
temporariamente reprimiu as suas tendências naturais à autoridade do chefe
Cavaco, por razões de pura conveniência pessoal que nada tinham de ideológico.
Não é pois de estranhar que se encoste agora ao PS e ao Bloco e se arvore em
estratega da esquerda contra a «direita da austeridade» (o seu artigo de ontem,
no Público, «Brincar com o fogo», é, a esse respeito, uma peça interessante). O
que incomoda neste homem é não ter categoria para retirar consequências daquilo
que diz e que pensa. O que anda ele a fazer por um partido que, de um modo ou
de outro, estará sempre à sua direita e com o qual ele nunca teve outra
afinidade que não fosse de interesse pessoal? Por que não assume,
definitivamente, a sua condição natural de homem de esquerda, do PS ou do
Bloco, como outros outrora bem mais à direita do que ele, Freitas e Basílio,
por exemplo, fizeram? Porque, presume-se, Pacheco não ganharia nada com isso
(um simples lugar na administração de Serralves não lhe preenche o ego) e, por
outro lado, o seu excessivo fanatismo anti-PSD e anti-Passos tornou-o
desinteressante para o PS.
A grande ambição política de
Pacheco, com a qual ele ainda ambiciona relançar a sua vida política, resume-se
assim, a ser expulso do PSD. Aí, sim, Pacheco poderia servir para ser agitado
como uma bandeira do PS e da esquerda. Mas esse favor não lho fazem, e isso
azeda-lhe a vida, turva-lhe o espírito e aguça-lhe o ódio à humanidade. É isso
que faz deste homem inteligente um homem menor.
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