Luís Naves
A leitura de jornais antigos
mostra que há coisas em Portugal que mudaram pouco, sobretudo a forma como
olhamos para nós próprios. Nos anos 70, o que se escrevia nos jornais era
pomposo e pouco sólido, com frases maiores do que o significado que continham.
Nos momentos de maior crise, enfrentavam-se duas teses: a derrotada, que
pretendia moderação; e a vencedora, dos que sonhavam com rupturas mirabolantes
e revoluções imaginárias capazes de desafiar as leis da física. Ganharam sempre
os que gritavam mais alto e, no fim, veio também a pesada factura que os
culpados nunca aceitaram.
Os meios de comunicação de
hoje repetem temas que deviam ter desaparecido. Não se extinguiram o impulso
lírico e a tendência para cairmos numa espécie de regressão infantil, sempre
que enfrentamos um obstáculo aparentemente intransponível. As elites continuam
a olhar para o povo como uma amálgama incompreensível e analfabeta que ainda
anda de carroça puxada por mulas. De maneira teimosa, os dirigentes tendem a
não perceber que a sociedade mudou em todas as suas vertentes e que já não se
revê nesta pequena mentalidade sentimental que tenta tapar o Sol com a peneira
provinciana.
Distribuem-se afectos e
governa-se com optimismo, empurra-se com a barriga, ignoram-se as sombras,
adia-se o inevitável. Foi assim em todas as crises anteriores dos últimos 40
anos, quando os que acreditaram na própria ilusão nos conduziram a desastres
maiores, que a simples prudência podia ter evitado.
Título e Texto: Luís Naves, Fragmentário,
7-7-2016
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