quinta-feira, 7 de julho de 2016

Coisas que não mudam

Luís Naves
A leitura de jornais antigos mostra que há coisas em Portugal que mudaram pouco, sobretudo a forma como olhamos para nós próprios. Nos anos 70, o que se escrevia nos jornais era pomposo e pouco sólido, com frases maiores do que o significado que continham. Nos momentos de maior crise, enfrentavam-se duas teses: a derrotada, que pretendia moderação; e a vencedora, dos que sonhavam com rupturas mirabolantes e revoluções imaginárias capazes de desafiar as leis da física. Ganharam sempre os que gritavam mais alto e, no fim, veio também a pesada factura que os culpados nunca aceitaram.

Os meios de comunicação de hoje repetem temas que deviam ter desaparecido. Não se extinguiram o impulso lírico e a tendência para cairmos numa espécie de regressão infantil, sempre que enfrentamos um obstáculo aparentemente intransponível. As elites continuam a olhar para o povo como uma amálgama incompreensível e analfabeta que ainda anda de carroça puxada por mulas. De maneira teimosa, os dirigentes tendem a não perceber que a sociedade mudou em todas as suas vertentes e que já não se revê nesta pequena mentalidade sentimental que tenta tapar o Sol com a peneira provinciana.

Distribuem-se afectos e governa-se com optimismo, empurra-se com a barriga, ignoram-se as sombras, adia-se o inevitável. Foi assim em todas as crises anteriores dos últimos 40 anos, quando os que acreditaram na própria ilusão nos conduziram a desastres maiores, que a simples prudência podia ter evitado. 
Título e Texto: Luís Naves, Fragmentário, 7-7-2016

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