Rodrigo Constantino
Acabei de ver agora a
entrevista com o filósofo Luiz Felipe Pondé no Roda Viva, da TV Cultura. Como
alguém que admira muito sua posição filosófica, não perde uma coluna da Folha
às segundas-feiras, já leu quase todos os seus livros e está lendo agora o mais
novo, só posso dizer que houve certo desapontamento com seu desempenho.
Principalmente no primeiro bloco.
Duas respostas, na largada,
incomodaram-me, apesar de entender e respeitar seu ponto de vista. A primeira
foi sobre o projeto de lei Escola Sem Partido. Acho que Pondé bateu num
espantalho ao mencionar a palavra “censura” (até tu, Brutus?).
A pergunta foi capciosa pois
já colocou o projeto como algo de evangélico na premissa, o que não é. Os
evangélicos podem ter endossado a iniciativa, de olho na “educação sexual” que
a esquerda pretende impor, com baboseiras medonhas como a “ideologia de
gênero”. Mas ninguém quer considerar crime o professor emitir uma opinião, e
sim resguardar o direito constitucional de não ser doutrinado, que os alunos já
têm.
O próprio Pondé reconhece que
há fundamento na intenção do movimento e da lei, mas discorda de sua aplicação.
É um ponto de vista legítimo, claro, mas quando ele diz que gostaria que o
professor falasse mais em Burke, Oakeshott e Tocqueville, em vez de só Marx, é
exatamente isso que a lei deseja: mais pluralidade, direito ao contraditório,
fim dos abusos do proselitismo sob o pretexto da “liberdade de expressão”, que
jamais foi infinita dentro da sala de aula e nem deveria.
O outro escorregão brabo de
Pondé foi afirmar que, se forçado a escolher entre Jean Wyllys e Jair
Bolsonaro, provavelmente ficaria com o primeiro, apesar do PSOL ser uma
porcaria. Pondé se diz um liberal-conservador, defendendo o liberalismo na
economia e na moral, e o conservadorismo na política (ou seja, contra utopias,
um “mundo melhor” e a política substituindo as religiões). Com base nisso, não
dá para escolher Jean Wyllys, ainda mais quando sabemos que a agenda
“progressista” que ele representa é um dos maiores males do mundo moderno. Uma
baita bola fora!
Atacar a “extrema-direita” foi
algo que Pondé fez mais à frente também, quando falou do “multiculturalismo”.
Uma vez mais, não só entendo seu ponto, como tendo até a concordar com ele em
linhas gerais: é a covardia da esquerda multiculturalista que está jogando a
Europa no colo da direita nacionalista e xenófoba. O crescimento dessa direita
estilo Le Pen, a escolha pelo Brexit no Reino Unido, até mesmo o fenômeno Trump
são todos reações a essa pusilanimidade dos “progressistas”, que acham que o
mundo é uma universidade e que tudo será resolvido no “diálogo” (sendo que ele
morreu justo nas universidades).
Mas fiquei com a impressão de
que o filósofo precisava bater igualmente em Trump e na esquerda, para talvez
bancar o “isentão”, algo que definitivamente não é de seu feitio. Posso estar
sendo injusto, mas senti um leve toque karnal na entrevista.
Ficou parecendo que ele queria fazer média com a patrulha. Para quem
escreveu Filosofia para Corajosos, que estou lendo e apreciando
bastante, talvez tenha faltado justamente mais coragem.
Não vou crucificá-lo, pois
todos precisamos sobreviver e um pouco de trégua no meio universitário deve ser
bem-vindo para quem já apanha tanto e compra tantas brigas. Mas achei que Pondé
poderia ter sido mais enfático em algumas respostas ao condenar o câncer do
politicamente correto no mundo atual, daqueles “inteligentinhos” que ele tanto
ironiza nas colunas.
À exceção desses deslizes, o
restante foi muito bom, com sua visão sobre Deus e religião e o ataque aos
ateus militantes chatos, as críticas ao mundo fechado da academia, a breguice
de acreditar tanto em si mesmo, a sátira ao embuste das palestras
“motivacionais” e outras tiradas engraçadas de quem adota a visão trágica da
filosofia. Pondé sempre merece ser lido ou escutado com atenção, mesmo quando
larga derrapando. Não deixem de ver a entrevista na íntegra:
Título, Imagem e Texto: Rodrigo Constantino, 9-8-2016
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