Percival Puggina
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Cena de ‘A Primeira Página’
(The Front Page, 1974), de Billy Wilder, com Walther Mathau e Jack Lemmon
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Há um jornalismo que acabou.
Fala com as paredes. Irresignado ante a falta de eco, cospe no vento. Cisca no
dicionário adjetivos que, de tão mascados, se tornaram rejeitos de lixo
orgânico, direto ao saco preto. O vocabulário com que o "politicamente
correto" se protegia entra num debate, hoje, murcho como maracujá. Quem
leva a sério o adjetivo "reacionário!", ou "conservador!",
ou "neoliberal!" (lembram dele?), ou ainda o "fascista!",
que os próprios comunistas gastaram mundo afora contra seus adversários antes
do tiro na nuca?
Durante décadas, esses
senhores foram os regentes das redações, onde desfilavam proféticos, iluminando
o mundo com olhares que se derramavam sobre uma nova humanidade e um novo
tempo. Eram os kaisers do quarto poder, ditando as normas técnicas para a engenharia
do brilhante futuro. Perder tempo com eles, agora, é como contemplar a alvorada
de um passado que se refuga. Xô! Quebraram o Brasil, acabaram com a Educação e
atacaram, um a um, os valores que sustentariam moralmente a nação.
A sociedade compreendeu, por
fim, que, tanto quanto ela precisa conservar valores que orientem as ações
humanas para o bem (conservadorismo), a economia precisa de liberdade
(liberalismo) para evoluir. Se observarmos atentamente, veremos que isso é tudo
que o velho jornalismo militante, mãos dadas com os camaradas do mundo
acadêmico, se dedicou a destruir; e que parcela importante do clero católico se
descuidou de preservar.
Tem duas razões fundamentais
para viver, esse jornalismo. A primeira é servir de memorial adulterado dos
"anos de chumbo". Vivem na nostalgia daquele período, misturando a
saudade da própria juventude com o tempo em que conseguiram articular um
discurso cuja consequência, em tese, rimava com a causa. A segunda é combater
liberais e conservadores, qualificando-os como fascistas. Mas, sem direito a
tiro na nuca, tudo fica menos produtivo. Fazer o quê? Mudar-se para Cuba ou
para a Coreia do Norte?
Não recordo, ao menos em
passado recente, de esforços retóricos tão velhacos, tão fraudulentos, quanto
os empregados nas últimas semanas por esse jornalismo para tentar convencer a
sociedade de que:
• os conservadores seriam
hipócritas bradando contra nudez e erotismo na arte;
• gravuras grotescas dedicadas
a sujos entreveros sexuais, se expostas em ambiente cultural, deveriam merecer
a mesma reverência de conhecidas obras-primas da arte universal;
• sentimentos e atitudes tão
diferentes entre si como repulsa, indignação e boicote seriam
"sinônimos" de censura;
• sexo não existiria, o que
existe é gênero e toda criança deveria começar a aprender isso no bercinho da
maternidade;
• as redes sociais seriam uma
terra de ninguém tomada pela direita raivosa.
Quem faz afirmações assim não
está a mudar de assunto. Está a corromper a razão, conforme mencionei em
recente vídeo. Há semanas repetem isso ao país e querem credibilidade?
Pretendem seguir influenciando a opinião pública? Subestimam a inteligência
daqueles com quem se comunicam! Foi ao servir nacionalmente esse cardápio de
falsidades que o velho jornalismo militante deu extraordinário alento aos bons
conservadores e aos bons liberais. Refiro-me aos conservadores que estimam a
liberdade e aos liberais que reconhecem a necessidade de preservar valores
morais.
A sociedade não se escandaliza
com nudez desde 22 de abril de 1500 e pouco se interessa pelo que acontece
atrás das portas, desde que seja vedado o acesso a crianças. Mas entendeu,
perfeitamente bem, ser isso que jogou o velho jornalismo militante na
pornomilitância.
O silêncio que cai sobre ele
vem por overdose de si mesmo.
Título e Texto: Percival Puggina (72), membro da Academia Rio-Grandense de Letras,
é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista
de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o
totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do
Brasil. Integrante do grupo Pensar+. Puggina.org,
18-10-2017
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