Francisco Machado
Nas cercanias da cidade
de Ronda Alta (RS), no acostamento de uma estrada, aproximadamente 1000 famílias
de sem-terra encontravam-se acampadas.
Certo dia, nos idos de 1980,
elas receberam a visita do Coronel Sebastião Curió. Este militar
perguntou-lhes: gostariam de ir para o norte do Mato Grosso? Era terra
promissora no centro-oeste do Brasil, ainda não desbravada.
A proposta era tentadora: o
governo bancava a mudança em caminhão, oferecia grátis aos interessados viagem
de ônibus, concedia 200 hectares para o plantio e cada família receberia,
durante 18 meses, um salário mínimo.
Assim, ambas as partes
ganhavam: os sem-terra sairiam das condições inumanas e degradantes do
acampamento. O governo colonizaria o interior do país, trazendo
desenvolvimento, prosperidade e desinflaria a agitação agrária nascente no
agrupamento que se transformaria no MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem
Terra).
Com a desaprovação do líder do
acampamento, João Pedro Stedile, Aquilino Sirtoli [foto], de Tapejara, foi uma das 205
famílias que aceitaram a benéfica e vantajosa proposta.
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Foto: Alan Marques/Folhapress |
Hoje, com 70 anos, Aquilino
relembra as agruras que passou no acampamento: “A gente era da roça,
morávamos num barranco de beira de estrada. Era como pegar uma favela e trazer
para cá”, diz Aquilino, com seu inseparável chimarrão. “O
governo juntou nossos caquinhos, botou num caminhão e viemos. Chegamos aqui era
só terra e mosquito, a única coisa que havia era um batalhão do Exército”, acrescenta.
No início foi
difícil. — “Eu pensei em voltar, mas a Jurema me impediu. Ela me
disse: ‘Você não dizia que ia vir mesmo sem mim? Agora, nós vamos ficar’. E
graças a Deus nós ficamos” — afirma ele.
Após cinco meses morando
debaixo de uma lona, ele conseguiu construir sua primeira casa de madeira.
Enfrentou também dificuldades com o plantio. O Instituto Nacional para
Colonização e Reforma Agrária (Incra), proibia que se plantasse soja.
— “Queriam que a gente
cultivasse só frutas e hortaliças para subsistência, diziam que assim era a
reforma agrária”, afirma.
Enfrentando toda espécie de
problemas, Aquilino não desistiu. No Banco do Brasil pegou seu primeiro empréstimo.
Não conseguiu pagá-lo. Ficou com o crédito bloqueado. Perseverou e em 1985
conseguiu comprar um trator, acrescentando que levou mais cinco anos para sair
do sufoco.
Em 1990, no Mato Grosso,
com o boom da soja, Aquilino conseguiu prosperar. Comprou mais terras. Aumentou
a produção. Plantou soja e milho. Emprega hoje, quatro famílias. Tem três
filhos trabalhando na terra. Ele diz ter uma admiração enorme pelos militares
que o levaram para o Centro-Oeste.
Ele não concorda com as
táticas empregadas pelo MST, movimento de cujo embrião ele, de uma certa forma,
participou.
— “O MST é das piores
coisas que existem. Invadir as terras dos outros, queimar as coisas, fazer
maldade, isso não funciona”, declarou o Sr. Aquilino,
acrescentando: “Eu nunca me envolvi com política. Eu só queria plantar”.
Aquilino e sua família moram
hoje em Lucas do Rio Verde, cidade que enriqueceu com as culturas do milho e da
soja, que cresce em ritmo extraordinário. Com 65 mil habitantes, dobrou de
tamanho nos últimos 10 anos. Das 205 famílias pioneiras, 150 já tinham voltado
para o Sul nos primeiros dois anos.
Hoje o ex-sem-terra, Aquilino
Sirtoli, é dono de fazenda com dois mil hectares (10 vezes o lote original) no
Mato Grosso e proprietário de confortável casa no centro de Lucas do Rio Verde
(350 km de Cuiabá).
O leitor não concorda, depois
desse exemplo, que é melhor ensinar a pescar do que dar o peixe? Deus
Nosso Senhor deu ao homem inteligência, saúde e outros dons, que, como
sementes, devemos cultivar e fazer prosperar. Assim procedeu o Sr. Aquilino, o
ex-sem-terra e hoje próspero fazendeiro.
Título e Texto: Francisco Machado, ABIM,
1-6-2019
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