Élisabeth Lévy
Em nome de uma utilização fraudulenta da
igualdade, nos impõem um espetáculo que sai do seu enquadramento esportivo para
se tornar um instrumento de reeducação das massas julgadas “sexistas”.
Nós fizemos a nossa parte.
Conscientes do nosso lugar na lista premiada dos países women friendly,
nós ligamos o nosso televisor para assistir aos jogos das Bleues (nome dado à
seleção francesa feminina de futebol, NdT) – “um ato militante”,
reconhecia um sociólogo no Libération.
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Élisabeth Lévy, foto: Hannah Assouline |
Infelizmente, apesar de toda a
propaganda entusiasta, a grande festa do futebol não aconteceu. Certamente, nos
lembraram exaustivamente que os jogos das “Bleues” tinham audiências
estratosféricas. Alguns, como em Valenciennes, suscitaram mesmo um verdadeiro
regozijo popular. Mas as ruas e os bistrôs permaneceram indiferentes à injunção
de entusiasmo.
Pessoalmente, a perspectiva de
ter doravante dose dupla de futebol, com dois Europeus, duas Copas do Mundo e tutti
quanti, não me diz nada, mas se mulheres e meninas querem jogar futebol,
até profissionalmente, elas devem ter a liberdade de o fazer. Todavia, essa
liberdade não pode significar a proclamação urbi et orbi que se trata de
um espetáculo fabuloso. Afirmação desmentida por inúmeros amantes de futebol,
assim como as arquibancadas e as tribunas dos estádios muitas vezes vazias,
apesar das bravatas da Fifa. Neste aspecto, o público – portanto, o mercado –
decide.
Neste caso, o programado
entusiasmo não tem a ver nem com o esporte, nem com o mercado. O futebol
feminino, de agora em diante, faz parte da panóplia das boas causas feministas,
e se tornam ocasiões para reeducar as massas e de as livrar dos seus
preconceitos sexistas. Aqueles que repugnam a ideia de ver mulheres se enfrentar
num campo de rugby não querem mandar as mulheres para as cozinhas? (Por isso,
repetimos, não se vê sob qual argumento proibir-se-ia as mulheres de jogarem
rugby.)
O chato aqui é que se trata de
uma utilização fraudulenta da igualdade. Efetivamente, o esporte não é a última
fronteira da igualdade, é um dos últimos refúgios da diferença dos sexos – enquanto
a reprodução ela mesmo está a um passo de sê-lo. Nenhuma PMA (Procriação Medicamente
Assistida) permitirá a campeãs de tênis ou de atletismo competirem com os homens
(do mesmo nível).
A prova que não se dispensa
tão facilmente esta divisão matricial da humanidade, muitos comentadores trocaram
de lado para explicar que o futebol das mulheres era melhor que o dos homens
porque elas não transformam o jogo em um confronto de testosterona... As
mulheres podem atualmente fazer o que entenderem, inclusive se transformar em
homens. A mais bela vitória do feminismo é, precisamente, o fato de que não precisam
fingir de homens para serem livres.
Título e Texto: Élisabeth
Levy, Diretora de Redação da revista mensal “Causeur”, na semanal “Valeurs
Actuelles”, nº 4308, de 20 a 26 de junho de 2019
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