Paulo Polzonoff Jr.
Os analistas políticos, os
artistas e os intelectuais de esquerda ou da chamada “direita prudente e
sofisticada” não tiveram uma boa sexta-feira (14). Isso porque, logo que
acordaram, se depararam com a realidade esfregada em suas caras. A mesma realidade
que eles insistem em negar, talvez porque estejam com os olhos fixos na tela do
computador, à espera de likes.
Diante de uma recente pesquisa
do Datafolha mostrando uma expressiva recuperação na popularidade do presidente
Jair Bolsonaro, muitos deles correram para as redes sociais a fim de
demonstrarem enfaticamente sua indignação, quando não desconfiança. Afinal,
como é possível que um instituto de pesquisa sério divulgue números que, se não
destroem, corroem a narrativa cuidadosamente construída dentro do diretório
partidário ou sindicato?
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Foto: Alan Santos/PR |
Nordestinofobia
Uma vez aceita a tese de que
os números refletem mesmo a realidade, apesar da “sensação do internauta” de
que Jair Bolsonaro estava prestes a ser apeado do poder, resta aos analistas
políticos, intelectuais, artistas, YouTubers, esportistas e modelos que compõem
esse estranho grupo chamado de “formadores de opinião” discorrer sobre a causa
do fenômeno. Afinal, se o presidente genocida e fascista está sendo bem visto
pelo povo, é porque há alguma coisa de muito errada com esse povo, não é mesmo?
É uma postura arrogante que
recentemente contou com o endosso do ministro Alexandre de Moraes. Ao dizer que
“toda tirania deve ser afastada, inclusive a tirania da maioria que elege o
Executivo e o Congresso”, o ministro do STF deu uma banana para o princípio
básico da democracia, associando a decisão soberana do povo, essa abstração que
ele considera ser de pouco lustro e nenhum bom senso, a um atentado contra
todos os valores da civilização.
Sem a ousadia autoritária do
ministro, mas com o mesmo espírito iluminado, teve gente que, diante dos
números positivos para o presidente, correu para usar todos os chavões que até
ontem condenavam. Como a região Nordeste foi a que apresentou a maior redução
na taxa de rejeição a Bolsonaro, sobraram manifestações de nordestinofobia e
insinuações de que o sertanejo é antes de tudo um vendido.
Os analistas políticos que
resistiram à tentação de usar o determinismo geográfico para explicar a melhora
nos índices de popularidade de Jair Bolsonaro substituíram a visão benéfica,
quase idílica, do Programa Bolsa Família, até ontem visto como uma medida de um
altruísmo inquestionável, pela ojeriza ao óbvio assistencialismo populista da
Ajuda Emergencial dada aos mais afetados pela pandemia de Covid-19.
Ninguém aguenta mais
“O populismo funciona”,
espantou-se alguém na minha timeline. Outro comparou a Ajuda Emergencial a uma
porção diária de lavagem (!) que se dá aos porcos a fim de torná-los submissos
e obedientes. Houve ainda quem atribuísse a mudança na forma como as pessoas
veem Bolsonaro ao fim das quarentenas impostas pelos governadores. Um escritor,
provavelmente cansado de conviver com essa gente “tosca” que insiste em não ver
Jair Bolsonaro como um Hitler ou Anticristo, anunciou estar à procura de uma
residência literária na Cochinchina. E assim por diante.
Com raiva da realidade que
contradiz suas narrativas, tanto a extrema-esquerda quando a
direita-com-nota-de-rodapé são incapazes de calçar as proverbiais sandálias da
humildade e reconhecer que a maioria não é tirânica e tampouco se vê como refém
de três lobos-guarás. Que, talvez, o aumento na popularidade ou diminuição na
rejeição a Jair Bolsonaro (copo meio cheio ou meio vazio, ao gosto do freguês)
se deva justamente à hostilidade fomentada pelos formadores de opinião sempre
tão indignados.
Ninguém aguenta mais lockdown,
isolamento social, medidas restritivas ou o que quer que seja.
Ninguém aguenta mais o
populismo cheio de frufru dessa gente que diz que as pessoas deixarão de ler
por causa de imposto sobre o livro, que defende a volta da contribuição
sindical, que diz que entregador de comida tem que ter carteira assinada.
Ninguém aguenta mais essa
história de que a democracia está em risco, buá, buá.
Ninguém aguenta mais ser
cotidianamente xingado de racista, homofóbico, misógino e fascista.
Ninguém aguenta mais o
vitimismo e a pretensão daqueles que estufam o peito para se autoiludir com
essa história de “somos 70%”.
[Se você gostou deste texto, mas
gostou muito mesmo, considere divulgá-lo em suas redes sociais. Agora, se você
não gostou, se odiou com toda a força do seu ser, considere também. Obrigado.]
Título e Texto: Paulo
Polzonoff Jr., Gazeta
do Povo, 14-8-2020, 14h11
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