Paulo Polzonoff Jr.
Caro leitor,
Estava aqui pensando no que escrever hoje e por muito pouco não caí na besteira de ficar me lastimando, seja porque é difícil escrever humor, seja porque ninguém gosta de mim, seja porque está frio, seja porque acabei de pagar um DARF... ah, sei lá! Dependendo do dia, das marés, da lua, da conjunção dos astros e da fome, a gente sempre encontra algum motivo para se lamuriar, não é mesmo?
Aí vi imagens de cortar o
coração já dilacerado. Porque Alexandre de Moraes, sempre perverso, sempre
sádico e nunca, jamais, nevah-evah comprometido com qualquer coisa remotamente
parecida com Justiça, autorizou a prisão de duas centenas de pessoas, praticamente
todas idosas ou em vias de conseguir aquela plaquinha de estacionamento
preferencial. Eram manifestantes, baderneiros ou, a meu ver, vítimas do 8/1.
Gente que caiu na lábia de líderes mal-intencionados ou burros o suficiente
para insuflarem a ideia de que Lula é um presidente ilegítimo e jamais deveria
ter tomado posse - e que a força do povo faria diferença.
Mas o pior nem é isso. Digo,
para os presos talvez a prisão seja de fato o pior. Ainda mais na velhice. Para
nós que ainda podemos gozar de algo cada vez mais remotamente parecido com
liberdade, porém, o pior é constatar que corremos cada vez mais perigo. Porque
tem muita, muita, muita gente aplaudindo aquilo que novamente chamarei de
perversidade & sadismo – porque é mesmo.
Essa tal de “muita gente” acredita que houve de fato uma tentativa de golpe levada a cabo por revolucionários de bengala desarmados, ou melhor, munidos apenas da indignação por ver um ex-presidiário tomando posse como presidente depois de um processo eleitoral, digamos, pouquíssimo transparente. Por consequência, essa “muita gente” acredita que os participantes dessa tentativa de golpe merecem apodrecer nas masmorras do Estado.
“É só uma minoria!”, me diz
você, iludido como todo otimista (me identifico). Talvez, mas é uma minoria
ruidosa, munida de um senso muito deturpado de sucesso. E é essa suposta
minoria aí que alimenta o furor persecutório de um ministro completamente despreparado
para se livrar das armadilhas do próprio ego. Um ministro que já mostrou que é
incapaz de resistir à tentação do poder absoluto, com sua promessa infeliz de
perversidade, sadismo e injustiça. Um ministro para o qual os fins justificam,
sim, os meios – não tem nem o que discutir.
Há, contudo, outro aspecto que
vale mencionar aqui. Ainda que sejam minoria, os alexandretes exibem um desejo
de se submeter à autoridade, uma pulsão de escravidão que é, na melhor das
hipóteses, assustadora. Mas não chega a ser novidade. Vimos algo parecido
durante a pandemia. E é uma pena terem vulgarizado tanto as comparações com o
nazismo, mas o que a gente tem no Brasil hoje chega bastante perto daquilo.
Pelo líder caricato? Também. Mas sobretudo por aquela vontade de estar do lado
vencedor e de gritar “perdeu, mané!”, mesmo que essa vitória esteja sendo
construída sobre bases imorais e cruéis. Imorais porque cruéis, desprovidas de
qualquer racionalidade, bom senso e misericórdia.
Duvida? Então dê uma voltinha
pelas redes sociais. Procure pelas publicações da Gazeta do Povo que divulgam a
minha produção em texto ou vídeo, e veja com seus próprios olhos o denuncismo,
a vontade de aniquilar o “inimigo” e atente principalmente para o desejo de
estar do lado que pode até não ser o certo, mas é, por ora, o vencedor. O que
essas pessoas acreditam que lhe garantirá ganhos financeiros, emocionais e
sociais. Vai. Pode ir que eu te espero.
(...)
Não disse?
Fico por aqui, pedindo desde já perdão pelo tom lúgubre desta carta. É que tem dia que não dá para ignorar que há quem se confraternize na perversidade e zurre de prazer ao admirar o sofrimento alheio. Se serve de consolo, porém, deixo aqui minha certeza de que uma hora os ventos mudarão. E, quando isso acontecer, será a nossa vez de mostrar que somos melhores do que eles.
Um abraço do
Paulo
Título e Texto: Paulo
Polzonoff Jr., Gazeta do Povo, 7-6-2024, 11h34
Na foto acima, duas desgraças mal paridas, com as fuças de jumentas energúmenas esfomeadas em busca de uma "malmita" com arroz e ovo para não morrer de fome. O inferno, realmente, não é no purgatório. Fica em brazzzia.
ResponderExcluirAparecido Raimundo de Souza
de Vila Velha, no Espírito Santo