Carina Bratt
EM UM MUNDO conturbado, repleto de luz e sombras, existe uma aglomeração que percorre por estradas que deveriam ser evitadas, ou seja, as vias das famosas ‘dores insanas’, mazelas e pragas que insistem em caminhar ao nosso lado. Essas pessoas sem rumo certo, vão sofrer mais sentindo cada espinho da jornada a ser empreendida. Essas almas, acreditem, estão atreladas, obviamente, na mesma enxurrada, como eu disse na ‘parte um do meu texto de domingo passado, ou mais precisamente em 23 de fevereiro.’ Essa multidão de desvalidos também está no patamar das estrelas, porém, em vez de brilharem intensamente no céu, se escondem nas profundezas da escuridão, lutando quase no perder das forças, para encontrar uma fagulha de esperança.
Seguindo ainda o pensamento de Peter Geoffrey Hall em seu livro ‘Cidades do amanhã’ ‘o sofrimento que as pessoas carregam não faz barulho, é silencioso, porém se mostra imensamente profundo, mas despistado. É uma dor que não se vê, mas que se sente em cada batida do coração e em cada suspiro de cansaço. São almas que enfrentam tempestades internas, onde os relâmpagos são memórias dolorosas e os trovões, os ecos de suas próprias incertezas.’’ Essas criaturas muitas vezes se encontram à margem da sociedade, moradores de rua, crianças famintas, não porque desejam, mas porque são incompreendidas ou vistas com olhos sem piedade. Seus corpos sofridos carregam histórias que não podem ser contadas em palavras, e seus sorrisos são sombras de uma alegria que um dia conheceram.
No entanto, há uma força inerente nessas pessoas que sofrem. É a persistência de continuar, mesmo quando a estrada parece interminável. É a esperança de que, em algum lugar, exista um porto seguro, um lugar onde possam ser acolhidas e compreendidas. É a fé de que cada dor tem um propósito, cada lágrima, um aprendizado. E aqui entram as ‘Soluções comunitárias.’ O sofrimento, embora cruel, também é um mestre. Ele molda o caráter, fortalece o espírito e ensina a importância da compaixão e do amor ao próximo. As pessoas que padecem, apesar de suas cicatrizes, possuem uma sabedoria própria, única, uma riqueza escondida que só aqueles que enfrentaram a escuridão conseguem alcançar.
Que possamos através das propostas dessas ‘Soluções comunitárias’, olhar com mais atenção e carinho para esses seres humanos, oferecendo-lhes não apenas simpatia, mas empatia genuína. Que objetivemos, mesmo lado, ser a luz em seus caminhos, ajudando-as a encontrar a paz que tanto merecem. Os seres humanos (geralmente os sem teto, os sem algo para colocar na barriga), são as criaturas que passam diariamente pelo sofrimento, que enfrentam uma jornada singular, onde cada passo é uma lição, e cada desafio é uma oportunidade de crescimento. O sofrimento não é apenas um estado de dor, mas também uma espécie de elo para a descoberta interior e para o fortalecimento do espírito.
‘No silêncio da noite’, conforme explica Fred Elboni, em seu livro ‘O que os olhos não veem, mas o coração sente’ ensina que ‘quando a escuridão parece mais densa, essas pessoas marginalizadas ou abandonadas pela boa sorte, ou da vontade de viver, encontram momentos de reflexão profunda. É nessas horas que a dor se transforma em introspecção, e as perguntas mais difíceis emergem: "Por que estou aqui? Qual é o propósito desta dor? O que posso aprender com isso?" Essas questões são como lanternas que iluminam os cantos mais escondidos da alma, revelando verdades que, de outra forma, permaneceriam ocultas.””
Tiago Brunet, em seu livro ‘Especialistas em pessoas’ bate na tecla que ‘o sofrimento, embora muitas vezes solitário, também pode ser um ponto de conexão. Aqueles que sofrem desenvolvem uma sensibilidade especial para perceber a dor nos outros. Isso cria laços de empatia e compreensão que transcendem palavras. É como se essas almas falassem uma língua secreta, compreendendo a profundidade de uma lágrima não derramada ou o peso de um sorriso forçado’. Além disso, no dizer de Jeff Speck (citado na primeira parte do meu texto de domingo passado) ‘levando em conta que, quando muitas pessoas se unem em uma comunidade séria, cheia de propósitos honestos e onde prevalece a consciência da ajuda mútua, o sofrimento de cada um, em particular, pode ser uma força transformadora. E completa:
‘Muitos encontram em suas próprias dores a inspiração para ajudar os outros. Elas se tornam faróis de esperança, mostrando que, mesmo nas adversidades, é possível encontrar força e propósito. Suas histórias de superação inspiram e confortam, lembrando a todos que a dor é passageira, mas o carinho, a dignidade, um bom conselho dado na hora certa, se fazem eternos e imorredouros”. Interessante observar que as pessoas carentes podem ser encontradas em todos os lugares ao nosso redor. Elas podem ser pessoas próximas a nós: amigos, familiares, colegas de trabalho ou até mesmo vizinhos. Muitas vezes, alguém pode estar passando por um sofrimento profundo sem que percebamos. Uma conversa atenta ou um gesto de comprazimento podem fazer toda a diferença.
Ou os mais comuns, os de todos os dias, ou seja, nessa fase abrupta e infernizante do carnaval. É comum, toparmos com desconhecidos. Às vezes, encontramos pessoas na rua, na farmácia, no supermercado, na padaria, no transporte público ou em qualquer outro lugar que carregam suas próprias batalhas invisíveis. Nessas horas, um simples sorriso ou uma palavra de apoio podem ser um alívio em um dia difícil. Todos nós temos dias difíceis, dias de tristezas, de angustias, de sofrimentos... tal ato de solidariedade amigas da ‘Grande Família Cão que Fuma’ vale também para todas as pessoas. Conhecidas ou desconhecidas. Aquele nosso vizinho que perdeu o pai, ou a esposa, o porteiro do prédio que está com o filho doente, a vizinha menor de idade, filha da faxineira, que está gravida e o pai preso.
Enfim, essas histórias e legados muitas vezes nos ensinam sobre amor próprio, superação e o mais importante: compaixão. No geral, cada uma dessas figuras inseridas ou não em nosso dia a dia, carregam consigo lições e experiências únicas que nos lembram da importância da empatia e do apoio mútuo. Em última análise, o sofrimento é uma parte universal da condição humana e, ao reconhecer e apoiar essas almas em agonia, todos crescemos e nos tornamos mais fortes. Em face do exposto, volto a bater na tecla das ‘Soluções comunitárias’. Repetindo o que vi, de perto, na cidade de Patrocínio, em Minas Gerais. As pessoas se unem diariamente, como uma família coesa, para resolver problemas de vizinhos. Certamente o mundo seria muito melhor, destravado desse que agora vemos se desfazendo em pedaços.
Espero que tenham gostado do meu texto, com as observações citadas de Peter Geoffrei Hall, em ‘Cidades do amanhã’, Fredi Elboni, ‘O que os olhos não veem, mas o coração sente’, Tiago Brunet em ‘Especialistas em pessoas’ e Jeff Spek em ‘Cidade caminhável.’ Meu carinho especial ao senhor Mamede e sua esposa dona Santinha e os filhos Silmara e Erica e toda a enorme e bem-disposta galara (20 pessoas, ao todo) da comunidade ‘Vida e Esperança Sempre Alerta’ que nos recebeu e nos recepcionou carinhosamente na bucólica e magnânima cidade de Patrocínio, nas Minas Gerais.
Título e Texto: Carina Bratt, de Vila Velha no
Espírito Santo, 2-3-2025
Nossa velha multidão reinventada – Parte 1
Dois esquisitões em busca do mesmo fim
Destroçadas? Não totalmente. Sempre há uma válvula de escape
Ainda hoje, tantos anos depois, me contam as flores que o afago que emanava dele, elaborou o amor Homenagem valiosa
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