sábado, 20 de novembro de 2010

O islão não pode trair tradição de tolerância

Uma cristã arrisca-se a ser enforcada no Paquistão por blasfémia. Asia Bibi, de 45 anos e com cinco filhos, terá respondido a um grupo de muçulmanas que a impediu de ir buscar água a um poço devido à sua crença que o cristianismo era a verdadeira religião. Foi o suficiente para ser agredida e denunciada à justiça como tendo ofendido o profeta. Um risco que pesa a toda a hora sobre os 3% de cristãos paquistaneses. Um risco que decorre de uma lei de 1986, quando o Paquistão era governado pelo general Zia Ul- -Haq, ditador que usou o islão para aumentar a popularidade.


Criado em 1947 como pátria para os muçulmanos da Índia, o Paquistão, mesmo na era de Zia, sempre respeitou a sua minoria cristã e as escolas católicas, prestigiadas, ainda hoje acolhem muitos filhos da elite muçulmana. O ex-presidente Pervez Musharraf estudou numa dessas escolas em Carachi, dependente do arcebispo da grande cidade portuária, hoje Evarist Pinto, nascido em Goa. Mas como em boa parte do mundo islâmico a tradicional tolerância com os cristãos (e judeus), por serem também monoteístas, transformou-se numa atitude de suspeita permanente, basta ver os casos recentes no Iraque e no Egipto e, como menos gravidade, na Argélia e Marrocos.
É chocante que enquanto a velha intolerância do mundo cristão se transformou com os séculos em aceitação e vontade de integração (pelo menos oficial), o mundo islâmico tenha caminhado exactamente no sentido contrário. O tribunal de Lahore, que terça-feira decidirá se a pena de Asia Bibi se mantém, dará uma indicação importante sobre se é um caminho definitivo ou se os muçulmanos, paquistaneses neste caso, são capazes de aceitar que concidadãos seus pertençam a outras fés.
Editorial, Diário de Notícias, 20-11-2010

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