domingo, 1 de maio de 2011

Faces de uma mesma moeda, ou: As formigas que querem trabalhar

Sindicalistas distribuem panfletos a clientes do Pingo Doce e Continente para não fazerem compras

Foto: jornal "i"

Delegados sindicais representativos de trabalhadores dos hipermercados Pingo Doce e Continente distribuiram hoje de manhã panfletos à porta de algumas daquelas superfícies comerciais a sensibilizar as pessoas para que não façam compras neste Dia Internacional do Trabalhador.

Luzia Neves Gomes, delegada sindical e trabalhadora do Pingo Doce da Amadora há 23 anos, declarou aos jornalistas que só a "ganância e o lucro" poderão explicar que estas superfícies comerciais abram as portas num dia tão simbólico e importante como é o 1º de Maio.

"É a ganância e o lucro. Não sei o que se passa", desabafou a delegada sindical, de 50 anos, que juntamente com outros elementos do Sindicato do Comércio, Escritórios de Serviços de Portugal (CESP), esteve hoje de manhã à porta do Pingo Doce da Venda Nova a distribuir panfletos às pessoas no sentido de não fazerem compras neste feriado.

"É o capitalismo selvagem a aproveitar a subordinação do poder político e a desregulação, para fazer ajustes de contas com a história, retroceder ao tempo em que os trabalhadores eram forçados a trabalhar 365 dias por ano", lê-se no panfleto do CESP que hoje foi distribuído às pessoas que se deslocaram às lojas do Pingo Doce e do Continente, em vários pontos do país.

"Hoje, não faça compras aqui", diz ainda o panfleto do CESP, que lembra que em Portugal só é feriado nacional depois do 25 de Abril de 1974 e que a atitude de abrir portas neste dia é um "grave ato de atentado aos direitos dos trabalhadores".

No Pingo Doce da Venda Nova, Paulo Alexandre justificou que foi às compras porque "necessitava" realmente de certas "coisas", mostrando-se compreensivo com o protesto dos trabalhadores que não aceitaram ir trabalhar hoje, apesar de, segundo alegam, ter havido pressões por parte dos superiores hierárquicos para que o fizessem.

Ana Pimpão revelou que foi comprar flores para a mãe (hoje também é Dia da Mãe), mas que acabou por fazer outras compras, incluindo alimentos, embora ache que "não é justo" para com os trabalhadores do setor que as pessoas continuem a ir às compras num dia destes.

"Contra mim estou a falar", disse, observando que se ninguém fizesse compras no 1º de Maio, os hipermercados Pingo Doce e Continente, os únicos que abriraram portas, não tinham outra opção senão fechar também.

No hipermercado do Continente em Alfragide, Jaime Torres, reformado, disse achar muito bem que haja quem trabalhe no 1º de Maio, observando que é "preciso trabalhar, porque senão vamos para a miséria".

Lembrou que "lá fora", no estrangeiro, também há pessoas a trabalhar neste dia, aproveitando a ocasião para criticar a última "ponte" na Páscoa, em que o país parou.

Orlando Pereira disse que lhe deu "jeito" poder fazer hoje as suas compras e que desconhecia existir um apelo sindical para que não se fizesse compras neste dia. Não deixou de expressar a solidariedade para quem queira gozar um dia de descanso a 01 de Maio.
Jornal "i", 01-05-2011

Eu fui ao Pingo Doce (de Massamá). Estava cheio de clientes. Estes, gastavam, entregavam dinheiro (ou o que o valia) aos trabalhadores que trabalhavam.
Peguei um folheto:

INFORMAÇÃO AOS NOSSOS CLIENTES 
Portugal precisa de trabalho e de sentido de responsabilidade

Num momento de especial gravidade da situação sócio-económica do País, o Pingo Doce tomou a decisão de, rompendo com uma tradição de encerramento das lojas no Dia do Trabalhador, abrir as suas portas neste 1º de Maio.

Na realidade, o dia 1 de Maio, a par do dia de Natal (os únicos dias feriados do ano em que o Pingo Doce tem, ao longo dos anos, vindo a encerrar as suas lojas), é diferente sobretudo pela carga simbólica que transporta e que a Companhia sempre respeitou, respeita e respeitará. Consideramos, no entanto, que nas circunstâncias que vivemos no nosso País há necessidades e valores que têm de falar mais alto.

Trabalhar no dia 1 de Maio de 2011 representará, para os colaboradores que entendam apresentar-se ao serviço, uma remuneração de mais 200%, que acrescem à renumeração de um dia normal de trabalho, e a concessão extraordinária de um dia de folga pelo dia trabalhado.

Esta é a nossa forma de reconhecer e premiar todos os nossos colaboradores que por necessidade, vontade, solidariedade e espírito de serviço e de compromisso com o Cliente, com o Pingo Doce e com Portugal entendam responder, com o seu trabalho, com o seu espírito de sacrifício e com o seu sentido de responsabilidade, à dura crise económica e social que o País atravessa.

Respeitamos, naturalmente, todos os colaboradores que decidam exercer, livremente, o seu direito à greve, sobre os quais não recairá nenhuma outra penalização que não a contabilização de uma falta justificada.

Respeitamos, mas não concordamos. Da mesma forma que respeitamos, mas não concordamos com o Sindicato dos Trabalhadores do Comércio, Escritórios e Serviços de Portugal (CESP) na convocação de uma greve num contexto em que a dureza da situação exige de todos mais trabalho e maior contribuição, e em que há mais de 600 mil pessoas desempregadas em Portugal.

Abrimos as nossas lojas acreditando que estaremos em condições de garantir os níveis de serviço a que habituamos os nossos Clientes. Sabemos, contudo, que poderão existir falhas, pelas quais queremos pedir, desde já, as nossas desculpas e para as quais contamos com a sua compreensão.

O Pingo Doce é uma Companhia de referência em Portugal, que emprega nas suas lojas cerca de 22 mil pessoas, entre as quais há muitos milhares que precisam muito de trabalhar e para as quais qualquer reforço extra no seu orçamento familiar, nas atuais circunstâncias, assume especial relevância.

É nossa firme convicção que no Portugal de hoje o direito à greve não se deve sobrepor ao direito ao trabalho e que a adversidade só será superada com espírito de sacrifício e sentido de responsabilidade.
A Direção Executiva do Pingo Doce


Digitação e edição: JP

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