terça-feira, 17 de maio de 2011

Como uma manchete induz o leitor: "Passos casa com África mas imigrantes não gostam"

Deu no jornal "i", 17 de maio, matéria assinada por Sónia Cerdeira e Luís Claro. E eu grifei. E depois comento.

O Obama de Massamá. Passos casa com África mas imigrantes não gostam

Uma boa parte da comunidade africana não se interessa em eleições. "Nem sequer se vão recensear", diz CNE

A imagem é do jornal "i"
Sou o mais africano de todos os candidatos." As palavras de Passos Coelho, no domingo, durante um encontro com imigrantes na Amadora, não caíram bem junto da comunidade africana em Portugal.(?)

"Mas é africano porquê? Porque a mulher é africana? Porque tem uma filha africana? ''Casei com África''... Isso é uma hipocrisia, um paternalismo. Foi um mau princípio de conversa que Passos teve com a imigração", afirmou ao i Timóteo Macedo, presidente da Associação Solidariedade Imigrante. "Esta atitude tem sido a da sociedade portuguesa em relação às comunidades mais excluídas, uma atitude de feridas mal saradas do colonialismo que não tratam os cidadãos como iguais a si, porque se tratassem não tinham de dizer que a mulher nasceu em tal sítio", completa.

A opinião é partilhada por Celeste Correia, deputada do PS e presidente da Assembleia-Geral da Associação Cabo-verdiana: "É vergonhoso que um político que pretende ser primeiro-ministro use a cor da mulher e a antecedentes da família para tentar captar votos na comunidade portuguesa de origem africana e dizer que por causa disso tem uma sensibilidade diferente."

Mas o entendimento de Passos Coelho é outro. "Podem ter a certeza de que tenho uma sensibilidade muito especial para tudo o que são os problemas destas comunidades. A minha raiz pessoal está muito ligada a África, também. Praticamente posso dizer que casei com África", afirmou. Mas o apelo do líder do PSD ao voto dos imigrantes não é válido para todos. Segundo a legislação eleitoral portuguesa, os imigrantes não podem votar para as eleições legislativas, com a excepção de "cidadãos brasileiros com estatuto especial de igualdade e direitos políticos", que são cerca de mil no país, o que sucede devido a acordos de reciprocidade.

E há outro motivo para esta declaração ter impacto reduzido no resultado das eleições. "Em Portugal, tradicionalmente as comunidades de imigrantes não se envolvem nos actos eleitorais", diz ao i João Quelhas, da Associação Portuguesa de Marketing Político, lembrando que "a grande maioria dos imigrantes ou não estão recenseados ou excluem-se de participar". O especialista diz que, ao contrário do que acontece em países como os Estados Unidos ou França, os imigrantes têm "uma expressão eleitoral muito reduzida" e "concentram a sua militância em algumas associações". O que, no entender do especialista em marketing político, deveria "merecer a atenção da Comissão Nacional de Eleições (CNE) ou de outra organização desse género, mas isso não tem acontecido". O porta-voz da CNE, Nuno Godinho de Matos, diz que "é um facto que o recenseamento dos imigrantes é muito diminuto e a maioria dos recenseados são brasileiros". Os portugueses de origem familiar africana, confirma o porta-voz da CNE, mesmo quando podem votar não o fazem. "Nem sequer se vão recensear", diz.

Mudar legislação? Timóteo Macedo, que é também dirigente do Bloco de Esquerda, queixa-se da falta de direitos dos imigrantes: "Mais de 90% dos cidadãos que vivem em Portugal e estão regularizados não podem votar. Não são só bons para trabalhar e pagar impostos também deviam ter direito a escolher." Para isso é preciso que a Constituição Portuguesa seja alterada. António Vitorino, socialista e ex-comissário europeu para os Assuntos Internos e Justiça, defendeu ontem que a participação dos imigrantes na política portuguesa está "aquém do desejável". "Há muito para fazer em relação à participação política e mudar a Constituição é um início", afirmou, durante a conferência "Políticas de Imigração e Direitos Humanos", na Universidade King''s College de Londres. Vitorino lamentou ainda a timidez dos partidos nas propostas sobre o direito ao voto aos imigrantes. "Há um contraste entre a multiculturalidade e a cor que se vê nas ruas de Lisboa e [a que se vê] no parlamento", constatou.

Passos Coelho parece querer dar um passo no sentido de permitir aos imigrantes o direito ao voto. Um dos presentes no encontro de domingo propôs a criação de um círculo eleitoral para os imigrantes, mas o presidente do PSD discordou: "Sabe porquê? Porque isso seria verdadeiramente discriminatório. Temos de dar a possibilidade aos imigrantes de poderem votar também." A fórmula ficou, no entanto, por definir.

Para Celeste Correia, as declarações de Passos Coelho "podem ter um resultado perverso". "É uma caça desesperada ao voto. Estive hoje numa acção do Observatório da Imigração, na Gulbenkian, e comentava-se nos corredores que Passos foi muito infeliz, falei com guineenses e cabo-verdianos que me disseram que não gostaram", afirma. Já para João Quelhas, a declaração do líder do PSD pretende, sobretudo ,"transmitir uma afinidade".

"Obama de Massamá" Passos Coelho é conhecido dentro do PSD por Obama de Massamá, por ter escolhido os subúrbios da capital para morar e por ter casado com Laura Ferreira, nascida na Guiné-Bissau, segundo dá conta a sua biografia autorizada "Passos Coelho. Um homem invulgar", da jornalista Felícia Cabrita. Barack Obama foi o primeiro presidente norte-americano de raízes africanas a ser eleito. As suas origens foram muito faladas ao longo da campanha eleitoral e, já depois de eleito, o presidente dos EUA teve mesmo de apresentar a certidão de nascimento para provar que tinha nascido em solo americano.

Leu? É claro que você, estimadíssimo leitor, com a perspicácia que o caracteriza, sacou bem mais do que eu, certo?
Quem fala em "representação" dos imigrantes africanos? Amicíssimos pessoais e políticos do Sr. Pedro Passos Coelho, né?
E sobre os comentários nos corredores, hein? Você acredita que os guineenses e os cabo-verdianos deixaram de dormir por causa das infelizes (!!??) declarações de Passos Coelho?
E tem mais, penso até que PPC quando fez essas "infelizes" declarações o fez por simpatia genuína pela África. Por várias razões. A mesma simpatia que tem este escriba pela África pois lá passou os primeiros 21 anos da sua vida! Ponto.

Você também costuma ver cornos em sapos?
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Um comentário:

  1. "Imigrantes não gostam". Quem são esses 'imigrantes' que não gostaram (não gostam e nunca gostarão) das palavras de Passos Coelho? Ora, uma deputada do PS e um raivoso do Bloco de Esquerda!
    Vão catar coquinhos jornalistas de aluguel!

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