sexta-feira, 27 de maio de 2011

Mesquinhez (ou: Sordidez)

“Pessoas normais falam sobre coisas, pessoas inteligentes falam sobre ideias, pessoas mesquinhas falam sobre outras pessoas.” Esta frase, atribuída a Platão, corre nas redes sociais e reúne um consenso razoável. Eu também concordo.
Na verdade, tenho saudades do tempo em que se discutiam ideias. Ideias pensadas, escritas, lidas, faladas, ouvidas, argumentadas, criticadas, mas sempre ideias com alguma coerência e projectadas no futuro. Até tenho saudades das campanhas eleitorais em que se propunham ideias sem protagonistas.
Nesta campanha eleitoral só se discutem pessoas. Como se dizia noutros tempos, caiu-se na falácia dos argumentos ad-hominem. Já nem os partidos interessam, os programas muito menos, as ideias são coisas avulsas. Aliás, já todos esqueceram a crise do sub-prime e a queda do Lehman Brothers. Ninguém repara que a Europa é incompetente para travar o ataque especulativo à sua moeda e que a Grécia, aqui ao lado, se está a transformar na pedra que afundará o sonho de uma comunidade europeia.
Com tanto ruído na paróquia, ninguém já consegue olhar para fora. Tudo se resume a saber quem foi o paroquiano que nos afundou e qual a pessoa que nos vai salvar. A salvação até está escrita e assinada, mas aguarda por calendas. O que entretanto se vê é o espectáculo dos vizinhos desentendidos na catalogação de santos e vilões. No fundo, só falam de pessoas. Se concordamos com a máxima de Platão, deixaram a inteligência de lado para abraçar a mesquinhez. (Ou a sordidez)
J. L. Pio Abreu, Destak, 26-05-2011

Escultura de Antonio Berni, "A Sordidez"; The Museum Of Fine Arts, Houston (MFAH); Photo:  Art Knowledge News

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