quinta-feira, 19 de maio de 2011

O 'Mein Kampf" de Sócrates (o José), ou, 'Delenda Passos Coelho est!'

“O êxito na conquista da alma popular consegue-se quando, à medida que travamos a batalha política a favor dos nossos próprios fins, destruímos também aqueles que se nos opõe.”
Adolf Hitler, A Minha Luta

Primeira edição do "Mein Kampf" em alemão, julho de 1925. Exposição do Museu Histórico Alemão em Berlim.
Vi isso acontecer no Brasil. Agora vejo em Portugal na atual campanha eleitoral para as legislativas. Como o PT no Brasil, aqui, o PS – que vem governando este pequeno país há seis anos – busca menos divulgar as suas propostas (até porque não as tem – a não ser, é claro, a continuidade "disto aqui" que os portugueses estão a viver atualmente), mas mais destruir o oponente: o PSD. Poderia ser qualquer outro partido, de esquerda, direita, centro, de lado, (pois TODOS eles reprovaram um tal de PEC IV, causando por conseguinte a queda do atual governo) mas é este que é preciso derrubar. Porque é o único com chances de vitória e, mais importante, fundamental até, quando ganhar cuspirá o PS do governo por muitos e muitos anos. E o PS sabe disso! Já o disse neste post "Este é o Sócrates (o José)/Inovação retórica: inventar para desmentir"
O senhor engenheiro me faz lembrar um político brasileiro, do Estado das Minas Gerais, José Maria Alckmin, que dizia  mais ou menos isto: se o adversário não tem defeitos, crie-os!

A "moderna e arrebatadora campanha eleitoral do PS" nos faz lembrar Catão, O Velho (ou Censor) que sempre terminava os seus discursos, fosse qual fosse a temática, pela sentença: Delenda Cartagho est! O senhor engenheiro e acólitos adaptaram esta famosa frase.


Às vezes as pessoas querem ouvir mentiras
A contrainformação tornou-se uma prática comum: quando não podem abafar os escândalos, os operacionais do poder criam contra escândalos, como os bombeiros criam contrafogos.

Na campanha para as últimas eleições legislativas, a líder do PSD, Manuela Ferreira Leite, tentou basicamente passar duas mensagens:

1 – Que o país estava falido e que todas as promessas que Sócrates fazia, desde o crescimento económico às grandes obras públicas, não passavam de mentiras;
2 – Que havia na sociedade portuguesa uma ‘asfixia democrática’.

Ambas as afirmações eram verdadeiras. O país estava de facto falido, como se constatou a seguir: tudo o que Manuela Ferreira Leite disse a este propósito veio a revelar-se certeiro. O Governo foi desistindo das grandes obras, uma após outra, e o país entrou quase em bancarrota, com o Estado a ter dificuldade em cumprir as suas obrigações e os bancos a viverem situações aflitivas, para lá do descontrolo do défice, da escalada do desemprego e de tudo o mais que se sabe. Todos conhecemos este filme.
Quanto à ‘asfixia democrática’, ela ficou bem ilustrada pelo caso Face Oculta. Percebeu-se que o Governo tinha – e continua a ter – um plano para condicionar os órgãos de informação. E que nas empresas, um pouco por toda a parte, existem ‘homens de mão’ para cumprir instruções emanadas ‘de cima’. Nunca como hoje as ramificações do poder foram tão grandes e formaram uma teia tão eficaz e operacional.

Em todos os departamentos do Estado, em todas as empresas públicas, foram colocados boys prontos a fazer o que for preciso.

Há pessoas que são perseguidas, outras coagidas, outras ainda intimidadas. A contrainformação tornou-se uma prática comum. Quando não podem abafar os escândalos, os operacionais ao serviço do poder criam ‘contra escândalos’, tal como os bombeiros criam contrafogos: lançam campanhas contra os adversários para ‘equilibrar’ as acusações de que o Governo é alvo.

Depois do Freeport, onde o nome de Sócrates apareceu envolvido, surgiu o escândalo do BPN – sugerindo-se que era tudo a mesma coisa. Se os amigos de Sócrates apareciam ligados a um caso obscuro, os amigos de Cavaco estavam ligados a outro.

Com a ‘asfixia democrática’ denunciada por Ferreira Leite passou-se o mesmo: apareceu logo o escândalo das escutas, em que aparecia envolvido o assessor de imprensa de Cavaco, Fernando Lima. Também aqui um escândalo ‘anulava’ o outro: se havia acusações de controlo da comunicação social de um lado, havia tentativas de intoxicação do outro.

Mais recentemente, perante a generalização da ideia de que Sócrates mente de forma recorrente, arranjou-se maneira de dizer que Passos Coelho também é mentiroso.

Analisemos um caso que tem tanto de sórdido como de exemplar.
Há oito semanas, Sócrates pediu a Passos Coelho para ir discretamente a S. Bento, onde lhe daria conta do PEC IV.

Dado o carácter reservado do encontro, nem o PSD nem a presidência do Conselho de Ministros o divulgaram – e, nas declarações públicas que fez sobre o tema, Passos referiu-se a um contacto com o primeiro-ministro, sem especificar as circunstâncias em que ocorrera. Ficou a ideia de que se tratara de uma conversa telefónica.

Tudo não passaria daqui se não se desse o caso de, 15 dias após aqueles factos, aparecer num jornal a notícia de que Sócrates e Passos, afinal, se tinham encontrado em S. Bento. E, no dia seguinte – como por acaso... –, vários responsáveis socialistas vieram chamar a atenção para a notícia e acusar Passos Coelho de ter mentido.

Parecia impossível mas era verdade: o Governo combinara com o líder da oposição um encontro discreto, este cumprira o combinado e não divulgara a reunião – mas uns dias depois um assessor governamental plantaria a notícia na imprensa e logo a seguir viriam uns dirigentes socialistas chamar a atenção para ela e acusar o líder da oposição de ter ocultado a verdade ao país. Maquiavélico e exemplar!

E qual é o objectivo disto? É criar a ideia de que os políticos são todos iguais. Se Sócrates mente, Passos também mente. Se Sócrates tem amigos trapaceiros, Cavaco também os tem. Se Sócrates foi citado em negócios escuros, Cavaco também tem de explicar como comprou as ações do BPN. Se o Governo tenta condicionar a imprensa, a Presidência da República procura instrumentalizá-la.

A técnica é esta. Usam-se jornais, rádios, televisões para difundir esta contrapropaganda. Em todos os painéis há comentadores que são diária ou semanalmente municiados com os ‘factos’ e os ‘argumentos’ que interessa pôr a circular. A máquina está bem montada – e é quase imbatível. Torna--se muito difícil desmontar as contracampanhas que ela põe em marcha.

Chega a ser impiedosa, mesmo contra os ‘camaradas’, e não tem limites nem recua perante nada. Teixeira dos Santos, o ministro das Finanças, andou durante anos a servir de para-choques a Sócrates – e, nos últimos meses, andou mesmo a servir-lhe de tapete. Pois bem: há uma semana, reagindo a uma notícia segundo a qual Teixeira dos Santos recusara integrar as listas de deputados, veio o PS esclarecer que não o convidara, como quem diz: «Não foi ele que não aceitou, fomos nós que não o quisemos!». É muito feio!

Voltando ao princípio desta crónica e a Manuela Ferreira Leite, pouco depois de ela ser eleita líder do PSD convidei-a para almoçar num restaurante do Terreiro do Paço. Antes de nos sentarmos à mesa, falei-lhe acerca do pessimismo reinante, que também não ajudaria à resolução dos problemas. Ela, cortante, disse-me apenas:

– É preciso falar verdade às pessoas!

E não saiu da sua. Achava que o Governo estava a enganar os cidadãos sobre a situação económica e financeira e que alguém lhes tinha de dizer a verdade. Os argumentos que adiantei sobre os malefícios do pessimismo esbarraram sempre contra um muro intransponível: Ferreira Leite repetia que o Governo não podia continuar a vender ilusões e a mentir às pessoas.

Penso que a então líder do PSD se sentia investida dessa obrigação de ‘dizer a verdade aos portugueses’. Até porque, achava ela, mais tarde ou mais cedo a realidade haveria de se impor – e o país revoltar-se-ia contra a classe política por ter andado a enganá-lo. Manuela Ferreira Leite acreditava que as pessoas acabariam por lhe dar razão. E, sobretudo, deitar-se-ia de consciência tranquila.

O certo é que, na altura, ninguém quis ouvi-la. E hoje, quereriam? Ou prefeririam continuar a ouvir cantos de sereia?

Se fosse hoje, Manuela Ferreira Leite ganharia as eleições ou voltaria a perdê-las?

Inclino-me mais para a segunda hipótese. Os mensageiros das más notícias nunca foram apreciados – e em várias épocas da história humana eram mesmo mortos. Todos querem ouvir boas notícias, ainda que não sejam verdadeiras. É esse o segredo dos sedutores: dizer mentiras que agradam aos que as ouvem, mesmo sabendo que estão a ser enganados.

Por isso, insisto: sabendo o povo o que sabe hoje, se Sócrates e Ferreira Leite voltassem agora a defrontar-se ela provavelmente voltaria a perder. E Passos Coelho?
José António Saraiva, Sol, maio de 2011

Sobre a história de Catão, o Velho (ou o Censor), e o famoso fechamento de todos os seus discursos:

Relacionados:


E esta aqui embaixo, hein?

José Sócrates pretendia privatizar a Águas de Portugal quando era ministro do Ambiente, no ano 2000 e 2001. A estratégia de privatização da empresa foi pensada, na altura, por Mário Lino, então presidente do grupo águas de Portugal, e por Sócrates.

De acordo com vários documentos confidenciais a que o Público teve acesso, a privatização assentava em duas fases. Num primeira que passava pela venda de uma fatia do capital da águas de Portugal até 30% à EDP que depois venderia essa parte a uma das grandes companhias do sector, a Thames Water.


A segunda parte do negócio consistia na abertura, em bolsa, do capital da Águas de Portugal a privados. Além dos documentos, o jornal cita uma entrevista dada por Mário Lino a uma publicação nacional a dizer que “já se está a privatizar” a Águas de Portugal.


E em algumas situações também José Sócrates afirma que vê “a abertura [da Águas de Portugal] a capitais privados a acontecer dentro de alguns anos.

Etc, etc…
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