segunda-feira, 16 de maio de 2011

Este é o Sócrates (o José). Por estas e por outras…


… que, tanto estas, como outras e aqueloutras que me descobri, um dia, acometido por visceral aversão ao senhor engenheiro, atualmente primeiro-ministro de Portugal. E só tenho um sonho: sabê-lo reformado numa cidade d’além-mar, com nome de santo e de campo, São Bernardo do Campo. Well…
Pois bem, ou mal, consoante o ângulo e a intenção da leitura, recebi hoje, por e-mail, o artigo abaixo, em arquivo PDF, de autoria de Eduardo Cintra Torres, publicado no jornal “Público” de 6 de maio. Apressei-me em digitá-lo no meu teclado QWERTY, por três motivos:
1)      Por concordância;
2)      Por vontade em divulgá-lo;
3)   Por inveja: não conseguiria jamais traduzir tão bem o que senti ao avistar aquele discurso.
Encaminhei e-mail ao Sr. Eduardo informando-o desta (re)publicação.
Antes de ler o excelente artigo, por favor, reveja o vídeo do discurso do senhor engenheiro.



Inovação retórica: inventar para desmentir
(Obs: mantive os sublinhados que estão no arquivo que me chegou)

O discurso de Sócrates na terça-feira (3 de maio) sobre o acordo com o triunvirato BCE-FEEF-FMI teve um caráter absolutamente singular na história da comunicação política portuguesa, porventura mundial e até histórica. Desde os discursos políticos de Péricles e o último do verdadeiro Sócrates, na versão de Platão, nunca antes um dirigente nacional, a quem coube anunciar uma acordo que moldará a vida colectiva nos anos seguintes, teve a cobardia política de esconder o que realmente o documento estabelece e a ousadia de inventar o que o documento não diz.
A retórica do primeiro-ministro foi delirante: o acordo não prevê a revisão constitucional, o fim da escola pública, não prevê crocodilos a voar, nem terramotos às segundas, quartas e sextas. O acordo não prevê nada disso. Nos manuais de retórica, procurei, entre as figuras de estilo registadas pelos peritos da linguagem desde Roma antiga, uma que se assemelhasse a este ilusionismo, como lhe chamou Helena Matos (Público, 05/05). Não encontrei. Há figuras de estilo em que se nega uma coisa para afirmar outra, mas nenhum autor, desde há mais de dois milénios, parece ter previsto esta velhacaria política de omitir a realidade concreta (má) substituindo-a por invenções concretas (boas).
Ao pé deste recurso discursivo, espelho de uma governação limitada ao “luzes-câmaras-acção!” e o país que se dane, o resto do que aconteceu na terça-feira não passou de detalhes, mas vale a pena registar.

§  Sócrates chamou “conferência de imprensa” à declaração sem direito a perguntas.
§  Semanas depois de desaparecido da vida pública, como um ministro de Estaline ou Brejnev, Teixeira dos Santos marcou inusitada presença espectral atrás do líder.
§  O Governo agendou a declaração para as 20h30, coincidindo com o intervalo do habitual “serviço público” da bola na RTP1, mas atrasou para as 20h40, dificultando à RTP1 ouvir a oposição em directo, o que esta preferiu não fazer, mesmo quando Catroga já estava no ar na TVI e na SIC às 20h47. A RTP1 deu anúncios e voltou ao futebol, que recomeçou às 20h50.
A central de propaganda é tão boa a criar imagens como a proibi-las: impediu aos repórteres de imagem fotografar a declaração; só houve as imagens oficiais da TV e dum fotógrafo do Governo. A preocupação de Sócrates em controlar ao máximo a visão de si que sai nos media motivou este acto de censura, por receio da liberdade do olhar dos repórteres fotográficos, que sempre ultrapassa a rigidez das câmaras de TV.
O objectivo desta operação de desinformação visou enganar os cidadãos mais ingénuos, que não acompanham as manobras políticas e propagandísticas em detalhe ou que são crédulos em relação aos governantes. A acção foi planeada ao pormenor. Durante semanas, a central de propaganda e até o próprio Sócrates conseguiram endrominar alguma imprensa, passando-lhe falsas medidas, que nunca estiveram previstas, para assustar os portugueses. “Houve desinformação gritante nos últimos dias, com exagero claro de medidas de austeridade”, escreveu Pedro Santos Guerreiro no Jornal de Negócios (05/05). Beneficiário único da desinformação: o Governo. Que desinformação perversa esta de inventar mentiras para que o primeiro-ministro as possa depois desmentir.
Os media que serviram de mensageiros das falsas medidas de austeridade deveriam pedir desculpa aos seus leitores ou espectadores. Os proprietários e os jornalistas destes media deviam perguntar a si mesmos se as baixas vendas de jornais não estarão relacionadas com uma persistente subserviência à mentira e à amplificação da propaganda do poder. Como escrevia Pedro Guerreiro, ou se está a serviço de fontes mentirosas, ou ao serviço dos leitores.
Texto: Eduardo Cintra Torres, Público, 06-05-2011
Digitação e Edição: JP

Um comentário:

  1. E-mail do autor de "Inovação retórica: inventar para desmentir":

    Caro Sr Jim Pereira,
    Agradeço triplamente a sua atenção: por citar o meu artigo, pelo comentário e pelo seu pedido de publicação.
    Disponha sempre.
    Saudações cordiais,
    Eduardo CT

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