sábado, 3 de março de 2012

Contra o relativismo cultural


Há bons argumentos contra o relativismo ético, independente do fracasso dos argumentos a favor. Vamos destacar apenas três. Em primeiro lugar, o relativismo cultural torna impossível o julgamento de outras culturas, porque se uma cultura acredita que a ação A é moral, então não interessa se a nossa cultura acredita que A é imoral. Quando eu lecionava numa universidade pública, frequentemente me deparava nas aulas com alunos que se recusavam a julgar a Solução Final do Nazismo Alemão como imoral. “Bem”, eles diriam, “é claro que seria errado se nós fizéssemos isso, mas se eles não achavam que estavam errados, não era errado para eles.” E (assustadoramente) esses estudantes mantinham essa posição não importando qual fosse a questão: escravidão, sacrifício humano, mutilação genital feminina, tortura, terrorismo – nenhuma prática poderia estar errada se a cultura não achasse que estivesse errada. Mas é evidente que nós podemos fazer julgamentos sobre diferentes culturas. Não é preciso que sejamos uma sociedade perfeita antes que possamos criticar uma outra em questões morais. A Alemanha nazista estava errada, não importa o que sua cultura acreditava; a mutilação genital feminina é errada, não importa quão estabelecida seja essa tradição. (Assim alegamos, e mais adiante mostraremos como tais julgamentos podem ser apropriadamente fundamentados).

Em segundo lugar, o relativismo cultural torna imoral o reformador moral. Pois se o que uma cultura acredita que é moral é realmente moral, então qualquer um que desafiar as crenças dessa cultura é, por definição, um imoral. Torna-se impossível a crítica interna. O abolicionista William Wilberforce estava moralmente errado, assim como também estavam Mahatma Gandhi e Martin Luther King Jr. Mas isso simplesmente não pode estar certo. Se uma teoria moral produz resultados tão contra-intuitivos, pior para a teoria.

E pra terminar, o relativismo cultural está numa posição instável e acabará por se reduzir à anarquia moral. A razão é que não se é possível apresentar uma definição de cultura que não seja circular. O que constitui a cultura apropriada no que diz respeito ao julgamento moral? É a comunidade local específica? (A Suprema Corte afirmou que os padrões da comunidade local são relevantes ao se considerar o que constitui pornografia). Ou é um único estado? (A prostituição é legal em Nevada). Ou uma região? (O Sul, antes da Guerra Civil, consideraria a escravidão como moral.) Ou toda a nação? O chamado mundo Ocidental? Ou algo mais restrito – cristãos evangélicos, os grêmios estudantis da Ivy League, CEOs que ganham mais de US$ 10 milhões por ano? Mais cedo ou mais tarde, a definição de cultura precisará recorrer a crenças morais em comum como uma característica identificadora de uma cultura, resultando daí que uma “cultura” consiste em “aqueles que concordam entre si”. Mas isso não ajuda em nada. Isso equivale a dizer que algo é errado somente para aqueles que acreditam que é errado, o que acaba por equivaler ao relativismo ético individual ou à anarquia moral.
Título e Texto: Garrett J. DeWeese e J. P. Moreland, in “Filosofia Concisa”, tradução: Vitor Grando Pereira

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