Há bons argumentos contra o
relativismo ético, independente do fracasso dos argumentos a favor. Vamos
destacar apenas três. Em primeiro lugar, o relativismo cultural torna impossível
o julgamento de outras culturas, porque se uma cultura acredita que a ação A é
moral, então não interessa se a nossa cultura acredita que A é imoral. Quando
eu lecionava numa universidade pública, frequentemente me deparava nas aulas
com alunos que se recusavam a julgar a Solução Final do Nazismo Alemão como
imoral. “Bem”, eles diriam, “é claro que seria errado se nós fizéssemos isso,
mas se eles não achavam que estavam errados, não era errado para eles.” E
(assustadoramente) esses estudantes mantinham essa posição não importando qual
fosse a questão: escravidão, sacrifício humano, mutilação genital feminina,
tortura, terrorismo – nenhuma prática poderia estar errada se a cultura não
achasse que estivesse errada. Mas é evidente que nós podemos fazer julgamentos
sobre diferentes culturas. Não é preciso que sejamos uma sociedade perfeita
antes que possamos criticar uma outra em questões morais. A Alemanha nazista
estava errada, não importa o que sua cultura acreditava; a mutilação genital
feminina é errada, não importa quão estabelecida seja essa tradição. (Assim
alegamos, e mais adiante mostraremos como tais julgamentos podem ser
apropriadamente fundamentados).
Em segundo lugar, o
relativismo cultural torna imoral o reformador moral. Pois se o que uma cultura
acredita que é moral é realmente moral, então qualquer um que desafiar as
crenças dessa cultura é, por definição, um imoral. Torna-se impossível a
crítica interna. O abolicionista William Wilberforce estava moralmente errado,
assim como também estavam Mahatma Gandhi e Martin Luther King Jr. Mas isso
simplesmente não pode estar certo. Se uma teoria moral produz resultados tão
contra-intuitivos, pior para a teoria.
E pra terminar, o relativismo
cultural está numa posição instável e acabará por se reduzir à anarquia moral.
A razão é que não se é possível apresentar uma definição de cultura que não
seja circular. O que constitui a cultura apropriada no que diz respeito ao
julgamento moral? É a comunidade local específica? (A Suprema Corte afirmou que
os padrões da comunidade local são relevantes ao se considerar o que constitui
pornografia). Ou é um único estado? (A prostituição é legal em Nevada). Ou uma
região? (O Sul, antes da Guerra Civil, consideraria a escravidão como moral.)
Ou toda a nação? O chamado mundo Ocidental? Ou algo mais restrito – cristãos
evangélicos, os grêmios estudantis da Ivy League, CEOs que ganham mais de US$
10 milhões por ano? Mais cedo ou mais tarde, a definição de cultura precisará
recorrer a crenças morais em comum como uma característica identificadora de
uma cultura, resultando daí que uma “cultura” consiste em “aqueles que
concordam entre si”. Mas isso não ajuda em nada. Isso equivale a dizer que algo
é errado somente para aqueles que acreditam que é errado, o que acaba por
equivaler ao relativismo ético individual ou à anarquia moral.
Título e Texto: Garrett J.
DeWeese e J. P. Moreland, in “Filosofia Concisa”, tradução: Vitor Grando
Pereira
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