terça-feira, 27 de março de 2012

Nós, e as lições ao mundo

Alberto de Freitas
O tesoureiro do Partido Conservador Britânico, Peter Cruddas, foi “apanhado” a propor favores em troca do habitual: dinheiro. Nada de nos fazer abrir a boca de espanto, sendo mais interessante a “deslocalização” do assunto para Portugal.
Pegando em experiência anterior, a comunicação social amiga estaria em polvorosa denunciando a tramoia. Uma cabala, utilizando o termo em moda. De imediato o PGR e o presidente do STJ levantariam as suas vozes determinadas: “que se destrua o vídeo. E já!”. Talvez o visionassem primeiro, para que, conscientemente, concluíssem não ter matéria de facto; que não era do interesse público e que feria a Constituição numa carrada de alíneas.
Os jornalistas amigos, os politólogos – também amigos – sempre presentes em todos os canais de televisão e as eminências pardas (pais incluídos) da democracia vigente, tratariam de imediato de considerar tal informação, manobra de uma qualquer “agenda”. Jurisconsultos com avença estatal, apontariam de imediato a ilegalidade, pois a vítima – o tesoureiro partidário – não tinha sido previamente avisado que a conversa iria ser gravada em vídeo. Que como toda a gente sabe, nisso, Portugal é o campeão dos direitos: para se gravar um crime, deve pedir-se autorização prévia ao criminoso. Caso contrário, não vale. Invertem-se mesmo os papéis, a testemunha passa a criminoso e o dito a vítima… com direito a indemnização.
Os políticos do partido visado apontariam o bota abaixismo da ação. Os jornalistas responsáveis, como não-jornalistas, ou mesmo travestidos de jornalistas. E a “vítima”, ou seja, o tesoureiro partidário: o tesoureiro mais perseguido de sempre.
Porém, numa demonstração de democracia imatura, o primeiro-ministro do partido do tesoureiro partidário pediu desculpa. Prova que é um frouxo, fazendo lembrar a triste figura que em Portugal também tem essa mania: pedir desculpa. E demitem o tesoureiro – a verdadeira vítima – sem, ao que se saiba, lhe tenham reservado um lugarzinho numa administração de uma empresa amiga, ou na União Europeia… ou mesmo no BCE – sítio para onde enviamos as nossas mais competentes personagens.
Portugal nesta matéria mais uma vez dá lições ao mundo. 
Título e Texto: Alberto de Freitas

O primeiro-ministro David Cameron classificou a acção do tesoureiro do seu partido como “completamente inaceitável”. Foto: Olivia Harris/Reuters

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