Alberto Gonçalves
O pior da greve geral? Por
incrível que pareça, não foi a própria greve, pensada para recuperar a economia
e o emprego através da destruição abreviada da economia e do emprego. Durante o
PREC, Arménio Carlos, vestígio arqueológico que constitui o novo rosto da
Intersindical, combateria as paralisações e apelaria aos dias de trabalho em
prol da Nação. Sem uma ditadura que o motive ou sombra de juízo, o sr. Carlos
luta pelos propósitos inversos sob argumentos idênticos.
E não, o pior da greve geral
não foram os "piquetes", embora a respectiva contemplação (pelo
televisor, salvo seja) me provoque uma reacção semelhante à dos programas do
National Geographic sobre animais bizarros. Como classificar criaturas que não
só abdicam do direito ao trabalho em circunstâncias socialmente difíceis e
individualmente frágeis, mas vão ao ponto de usar uma opção que tomaram em
liberdade para limitar a liberdade dos restantes e, a bem ou a mal, impedi-los
de trabalhar? Os integrantes dos "piquetes" de greve não são apenas
um insulto ou um assalto explícito aos cidadãos que pretendem cumprir o seu
dever e que, graças à intervenção de milícias, não o conseguem: são um insulto
e um assalto à democracia.
O pior da greve geral também
não foi a quadrilha autodesignada 15, 17 ou 23 de Outubro, ainda que, ao invés
dos sindicatos que usurpam a representação de uns poucos para tentar prejudicar
a maioria, a quadrilha não represente ninguém. O trabalho da CGTP é a política:
a política do Não Sei Quantos de Outubro não apresenta qualquer nexo com o
trabalho. Na impossibilidade técnica de fazerem greve ao que nunca possuíram ou
desejaram, os sócios do Não Sei Quantos de Outubro fazem asneiras. Os dias de
protesto são os únicos em que semelhante rapaziada pratica alguma tarefa
aparentada com o esforço, se por esforço entendermos o lançamento de
pedregulhos e o ataque a propriedade alheia.
Por fim, o pior da greve geral
nem sequer foram as forças policiais, por muito que consentissem os pequenos e
médios crimes dos "piquetes" e do Não Sei Quantos de Outubro e se
dedicassem, mediante bastonadas preventivas, a orientar a actividade dos
repórteres de serviço.
O pior da greve geral foi, sem
me permitem a palavra, o povo, o exacto povo que tolera com excessiva paciência
as abjecções cometidas em seu nome e contra si. E o melhor da greve geral foi o
povo que a transformou num fiasco vergonhoso, isto na vaga hipótese de os
perpetradores da coisa estarem familiarizados com a vergonha.
Título e Texto: Alberto Gonçalves, Diário de Notícias, 25-03-2012
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