João Bosco Leal
Em conversa com uma pessoa
muito querida, falávamos das dificuldades de relacionamento que possuímos,
muitas vezes até com pessoas extremamente próximas, com o mesmo sangue, como
pais e filhos, avós e netos, irmãos, primos e todos os outros tipos de
consanguinidade e cunhados e cunhadas, que mesmo não possuindo o mesmo sangue
um dia tornaram-se membros da nossa família ou entre amigos e amigas.
Soube da sua dificuldade com
sua mãe, que mesmo quando se tornou avó de suas filhas não havia lhe
acompanhado nos hospitais durante ou mesmo após seus partos, e não a tratava
com o carinho que normalmente uma mãe dedica a uma filha ou netas e netos.
Tenho visto muitos casos de
pais ou mães que demonstram claramente sua predileção por um filho ou uma filha
em detrimento dos outros e eu mesmo, sempre sinto essa diferença por haver sido
preterido. No caso dessa pessoa, era ainda pior, pois sua mãe não dedicava
carinho e amor de mãe a nenhuma de suas filhas ou netos.
Normalmente é mais fácil
conversarmos sobre nossos assuntos mais íntimos com pessoas estranhas ou recém-
chegadas ao nosso círculo de amizades, evitando esses temas com os mais
próximos, com que já temos menos tolerância e sempre, pensando que algum conflito
poderá ocorrer, deixamos o assunto para outra ocasião.
Mesmo assim, após décadas de
insatisfações, durante uma reunião familiar as filhas, agora já mães,
reclamavam do tratamento recebido da mãe e tentavam entender o motivo desse
comportamento quando uma delas se lembrou de sua avó materna, de como era dura
no tratamento das pessoas e esse deveria ser o motivo principal, a mãe não
sabia dar o que nunca havia recebido.
Apesar de guardarem profundas
mágoas, resolveram alterar radicalmente seu relacionamento com ela, tomando
desde atitudes mais simples, como abraços e beijos que entre eles nunca
ocorria, a telefonemas diários e visitas constantes, enfim, dando-lhe todo o
carinho que gostariam de haver recebido. A família passou então por uma
transformação nunca imaginada pelas filhas, que hoje convivem com a mãe como
sempre sonharam.
Quando nas relações não somos
tratados como imaginamos que deveríamos ser, a tendência é nos afastarmos
daquela pessoa sem procurar as origens de suas atitudes, como e onde nasceram,
foram alimentadas, educadas, estudaram e uma enorme quantidade de variáveis que
poderiam justificá-las.
Municiados dessas informações
provavelmente teríamos muito mais facilidade em nos relacionarmos com outras
pessoas, pois mais facilmente poderíamos entender muitas de suas atitudes e
relevá-las, assim como muito provavelmente outros, na mesma condição, fariam
conosco.
Em uma de suas citações,
amplamente divulgadas o padre Fábio de Mello disse: “Já que não tenho o dom de
modificar uma pessoa, vou modificar aquilo que eu posso: o meu jeito de olhar
para ela!”.
De fato, a solução mais fácil
para as mais diversas dificuldades de relacionamento depende da nossa
maturidade e humildade, de darmos o primeiro passo em busca de uma melhoria,
procurando ouvir, saber dos motivos e mostrando àquela pessoa que mesmo nunca
tendo recebido, de você ela terá o que lhe faltou.
Em qualquer relacionamento,
social, de amizade, familiar ou amoroso, incompreensões, faltas, acertos e
erros poderão ocorrer, mas antes de julgarmos ou tomarmos decisões
precipitadas, deveríamos refletir sobre a origem dos motivos que levaram ao
acontecimento.
Além de não cobrarmos de uma pessoa o que ela não possui, devemos
dar-lhe o que nunca teve.
Título, Imagem e Texto: João
Bosco Leal, jornalista, escritor e produtor rural
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