Valmir Azevedo
Todos, salvo raríssimas exceções, já tivemos aquela dorzinha chata que
não passa, não tem remédio ou benzedura que dê jeito, e nem sabemos exatamente
do que se trata.
Dói aqui e ali, mas passar, não passa.
Um belo dia, um luminar deu nome ao indigesto incômodo, é o tal de
DESCONFORTO muscular.
Mas a dorzinha dá na cabeça, e no cérebro, também. No cérebro deve ser o
DESCONFORTO CEREBRAL.
Sentimos o desconforto cerebral aumentando desde que passamos a ouvir uma
vozinha insinuante a sussurrar, “ESQUECE”.
Mas esquecer o quê? “O passado”, respondeu a melíflua. Mas que
passado? O da subversão, o do terrorismo, o do revanchismo? “Sim, e deixa de
ser chato”, respondeu a donzela.
Mas por quê? “Meu caro irmão”, prosseguiu a maviosa sereia, “porque
agora, eles estão no poder, eles estão no governo”.
“Mas esquecer como?” “As
feridas não estão na carne, elas estão no coração, na dignidade maculada, na
injustiça, no revanchismo sem quartel, no salário miserável, na perda de
soberania, no loteamento da Nação”.
“Mas meu amigo, não olhe o retrovisor”, avisa a lânguida figura. “Não
leva a nada. Esqueça o passado, viva a nova realidade, não chie, não reclame,
de preferência não viva, e não perturbe os superiores”.
Ouvindo sem cessar estes conselhos que recrudesceram atualmente, o meu
DESCONFORTO CEREBRAL, e creio que o de muitos tem aumentado,
significativamente.
Ao que parece uma insinuação está sendo plantada nos corações e mentes
dos desavisados, de forma a desarmar espíritos, e aceitar por cooptação de
autoridades uma passividade perigosa.
Particularmente, preferimos ficar com as barbas de molho. É
preciso olhar o presente, o passado, no mais distante, e no recente, para
verificarmos que estamos num ninho de cobras.
A passividade pode atender a algumas autoridades, mas temos experiências
funestas de que o que as atende significa apenas a quebra de galho, delas, que
se deleitam com a abdicação da vontade livre e racional, com o silêncio e a
pusilanimidade; quanto ao restante, em particular para os “agentes da
repressão”, não significou nada, nem mesmo o menor apoio.
Não consta que a Comissão da Verdade será encerrada, que não serão
proibidas as comemorações de 31 de março, e que as ações revanchistas terão
fim, muito pelo contrário, elas prosseguirão, nos salários, nos equipamentos
sucateados, nos baixos orçamentos, etc.
Por isso, encarecemos que as melosas vozinhas se calem, e de preferência
nos esqueçam, pois muito aprendemos com o passado, que vivemos entre cobras
peçonhentas, e a qualquer momento, elas darão o seu bote e, então, será muito
pior, pois ao conviver com tal corja, padeceremos, eternamente de DESCONFORTO
MORAL.
Título e Texto: Gen. Bda Rfm Valmir Fonseca Azevedo Pereira, Brasília, DF, 24 de março de
2012
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