sábado, 3 de março de 2012

Tolerância

Vê-se que a maneira mais óbvia de se formular um argumento a favor do relativismo moral é um fracasso. Por que outra razão, então, alguém aceitaria a conclusão? Talvez a principal razão hoje seja uma visão equivocada do conceito de tolerância. Pergunte a um universitário qualquer ou a um morador progressista ou liberal de cidade grande (pessoas do interior costumam ser mais conservadoras, tanto politicamente quanto eticamente) e eles lhe responderão que é de algum modo errado julgar alguém ou alguma ação como imoral. Por quê? Porque devemos ser tolerantes. E o oposto do tolerante é o fanático. E é moralmente errado ser um fanático. A tolerância se tornou a virtude suprema na nossa cultura, de tal forma que a única coisa que não pode ser tolerada é a intolerância (e esqueça o fato de isso ser auto-refutável).
Ora, é evidente que a recusa em fazer um julgamento sobre a moralidade de uma ação não é tolerância genuína; é covardia moral, ou preguiça intelectual ou uma completa confusão. A verdadeira tolerância é a concepção de que mesmo se eu acreditar que você está errado, eu não vou usar de coerção para impor minha crença. (Agora é evidente que há exceções, como no caso de ações que causem dano a outrem). Uma pessoa realmente tolerante não vai se abster de fazer julgamentos, em vez disso abster-se-á de usar da força para fazer com que os outros mudem suas crenças, para, em vez disso, fazer uso apenas da persuasão.
Deste modo a tolerância como um argumento para o relativismo ético também fracassa, visto que se apoia numa noção equivocada de tolerância. Mas então se ambos os argumentos do relativismo descritivo e o argumento da tolerância fracassam, e é relativamente fácil perceber seu fracasso, por que tantas pessoas persistem em defender uma visão relativista de moralidade? Talvez não esteja muito longe da verdade sugerir que na nossa sociedade, com sua ênfase no individualismo, nos direitos e nas liberdades, um novo contrato social implícito surgiu: eu não te julgo, se você não me julgar. Isso parece especialmente verdadeiro nos chamados crimes sem vítimas, em particular nos relacionados a sexo.
Título e Texto: Garrett J. DeWeese e J. P. Moreland, in “Filosofia Concisa”, tradução: Vitor Grando Pereira
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