quinta-feira, 1 de março de 2012

De Pinheirinho a INSS

Carlos Lúcio Gontijo
Pobre no Brasil tem uma vida cercada de dificuldades e desrespeito a seus direitos, conforme nos provou, de maneira explícita, a ação dos poderes públicos no desmonte da comunidade Pinheirinho, em São José dos Campos, no Estado de São Paulo, onde um enorme contingente de pessoas foi massacrado, em nome da defesa do instituto da propriedade particular, ainda que seu proprietário nem IPTU tivesse o hábito de pagar e esteja às voltas com imbróglios judiciais, por peripécias e falcatruas no mundo do capitalismo desenfreado e descompromissado com os interesses coletivos.
Montar operação de guerra para destruir Pinheirinho é fácil, queremos ver é atacar, por exemplo, a grilagem em terras públicas, perpetrada por gente graúda e rica aos redores de Brasília, às portas do Palácio do Planalto, onde são muitas as mansões e áreas de convescote e lazer erguidas de forma irregular e “surrupiadamente”.
Folha de São Paulo
Infelizmente, como tudo no Brasil, o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), não consegue livrar-se dessa sina do tratamento diferenciado, construindo uma estrutura que se mantém prisioneira da cultura lastreada na visão de que há cidadãos mais brasileiros que os outros, o que rebaixa alguns cidadãos à condição de estrangeiro indesejável, ao qual o proclamado direito à cidadania não é estendido, como se deu em Pinheirinho.
Todos os dados referentes ao INSS, independentemente da fonte ou origem das pesquisas, revelam uma constrangedora desigualdade na distribuição de renda entre os aposentados. O Brasil paga aos 60% de seus beneficiários mais pobres a mesma quantia que destina aos 10% mais ricos. Dessa forma, enquanto a maioria sofre nas filas para receber rendimentos insuficientes, alguns poucos, bafejados pela sorte, abocanham boa parte do montante que o país arrecada.

Nada mais estarrecedor que a constatação de que os que mais recebem e conseguem pagar previdência privada – para lhes garantir atendimento médico-hospitalar a tempo e hora – permaneçam na condição de beneficiados pelo governo, que comete o desatino de imprimir renúncia fiscal, conceder isenções e ainda permitir que as empresas privadas de saúde usem os aparelhos públicos do INSS, sem a devida contrapartida remuneratória.
Da nossa parte, dói-nos a observação de que a classe política e demais autoridades constituídas não se unam em torno da efetiva democratização do sistema previdenciário público brasileiro, tornando-o tanto equânime quanto enxuto e desprovido de privilégios, que criam a monstruosa existência de cidadãos de segunda categoria ou, ainda pior, sem categoria alguma. Quem sabe agora, com a aprovação da exigência de “ficha limpa” para quem abriga a pretensão de obter mandato político, numa esdrúxula declaração de que a honestidade é mesmo instituto constitucional, surja um novo tempo na administração pública brasileira!
Título e Texto: Carlos Lúcio Gontijo, Poeta, escritor e jornalista,29-02-2012
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