sábado, 17 de março de 2012

Guia Politicamente Incorreto da América Latina


Folha de S. Paulo
Assim como seu antecessor, o novo livro de Leandro Narloch (dessa vez, em companhia de Duda Teixeira) "Guia Politicamente Incorreto da América Latina" (LeYa), analisa histórias de heróis e revoluções talvez um pouco exageradas, equivocadas ou mentirosas mesmo, só que em um cenário um pouco mais extenso, porém, do mesmo modo controverso e mítico dos países latinos.
A expressão "é tudo farinha do mesmo saco" cai muito bem nesse caso, pois como explicam os autores, as línguas, culturas e costumes podem ser muito diferentes, mas curiosamente, o passado, decerto é sempre o mesmo: sofrido.
"Talvez a principal semelhança entre os latino-americanos não seja algo que venha de nossos longínquos antepassados, como a língua, e sim em um traço recente, forjado lentamente ao longo de séculos. Bolivianos, mexicanos, brasileiros e todos os demais, quando vislumbram o próprio passado, contam exatamente a mesma história."
Logo de saída, Narloch e Teixeira apresentam um guia básico que "define" os latino-americanos. A partir disso, as próximas páginas vão esmiuçar os fatos e as vidas de grandes personagens, como Che Guevara, Perón e Evita, Astecas, Mais e Incas, Salvador Allende e Pancho Villa, sempre com bom humor e referências de dezenas de artigos de estudiosos que apontam possibilidades para se pensar as histórias, tão recalcadas nos tradicionais livros de história, sob novos pontos de vista.
Antes de desmascarar os personagens, leia a fórmula básica para ser um bom latino-americano:

1. Lamentar. Todo latino-americano nutre uma obsessão por episódios tristes de sua história: o massacre dos índios, os horrores da escravidão, a violência das ditaduras. Além dessas histórias de opressão, nada de bom aconteceu.

2. Encarar a cultura local como uma forma de resistência. Fica proibido ligar na tomada instrumentos musicais típicos e populares e passa a ser um requisito moral usar ponchos e saias coloridas - ou pelo menos desfilar com um colar de artesanato indígena.

3. Condenar o capitalismo. O latino-americano que honra o nome acredita que o comunismo foi uma ideia boa, só que mal implantada. E, se já não luta para implantar esse falido modelo por aqui, ao menos defende sistemas mais "sociais", "solidários", "justos" e "comunitários".

4. Denunciar a dominação externa. Se a responsabilidade pelos problemas do continente não pode ser atribuída à Espanha, à França ou a Portugal, então certamente tem alguma mão da Inglaterra ou dos Estados Unidos. Ou, como prega o livro As Veias Abertas da América Latina, clássico desse pensamento simplista, "a cada país dá-se uma função, sempre em benefício do desenvolvimento da metrópole estrangeira do momento".

5. Cultuar heróis perversos. Quanto mais bobagens eles falarem e quanto mais sabotarem seu próprio país, mais estátuas equestres e estampas em camisetas serão feitas em sua homenagem.

Tudo neste livro é contra essas regras tão batidas para se contar a história da América Latina. Não nos sentimos representados por guerrilheiros ou por indignados líderes andinos e suas roupas coloridas. Não há aqui destaque para veias abertas do continente, mas para feridas devidamente tratadas e curadas com a ajuda de grandes potências. Conhecemos bem as tragédias que nossos antepassados índios e negros sofreram, mas, honestamente, estamos cansados de falar sobre elas.
E acreditamos que todos os povos passaram por desgraças semelhantes, inclusive aqueles que muitos de nós adoramos acusar. Por isso, quando vítimas da história aparecerem nesta obra, é para revelarmos que elas também mataram e escravizaram - e como elas se beneficiaram com
ideias e costumes vindos de fora.
Figuras ilustres da América Latina também passam neste livro, mas longe de nós mostrar somente que elas não são tão admiráveis quanto se diz. Na história de quase todo país, é comum abrilhantar as palavras de figuras públicas e até inventar virtudes de seu caráter - e não passa de chatice ficar insistindo numa realidade menos interessante.
Acontece que na América Latina se vai além: escolhem-se como heróis justamente os homens que mais atrapalharam a política, mais arruinaram a economia, mais perseguiram os cidadãos. Não importam as tragédias que Salvador Allende, Che Guevara e Juan Perón tenham tornado possíveis.
Importantes são o carisma, o rosto fotogênico, a morte trágica, os discursos inflamados contra estrangeiros. Por isso, não há como escapar: é ele, o falso herói latino-americano, o principal alvo deste livro.
Texto: Folha de S. Paulo, 08-08-2011

Leandro Narloch e Duda Teixeira, foto: Divulgação
Edição: JP

Não é só na América Latina que se encontram esses falsos heróis e/ou esses falsos inimigos, não, não é só!!

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