sábado, 15 de dezembro de 2012

Sexta-feira do mal nos Estados Unidos da América

Francisco Vianna
Vinte e oito pessoas mortas em mais uma chacina cometida por um demente contra uma coletividade estudantil, desta vez na cidade de Newtown, na Escola de Primeiro Grau “Sandy Hook”, no pequeno estado nordestino de Connecticut, EUA.
Entre elas vinte crianças do jardim-de-infância e diversos funcionários e professores foram chacinados por um demente de vinte anos de idade, fortemente armado, que adentrou a escola e abriu fogo indiscriminadamente sobre tudo que se mexia que encontrou pela frente. O possuído pelo mal também foi declarado morto na cena da chacina.

Foto: AD
A sexta-feira de ontem tornou-se a mais sinistra e maligna do ano para os americanos. Acabou sendo um dia para que todos abraçassem suas crianças ou telefonassem para amigos e parentes, ou ainda fizessem algo que pudesse trazer algum conforto e um pouco de luz para aquele momento sombrio e assustador.
As notícias pioravam e chocavam mais a todos a cada novo relatório sobre o maligno incidente. A cada novo noticiário sobre o infausto, a cidade de Newtown se transformava em qualquer cidade americana disseminando o sentimento de tragédia e indignação por todo o país.
Na parte da tarde, a escala do horror se tornou clara: vinte crianças haviam sido chacinadas juntamente com mais seis profissionais que as protegiam. O crime ficou mais nauseabundo com a notícia de que o assassino era filho de uma das professoras que ele havia assassinado momentos antes em casa. Foi uma sexta-feira que seria apenas matricida, mas que degenerou para a chacina.
Tudo isso ocorreu durante uma época de festas e de dias santos, quando as pessoas em todo o país se preparam para um fim de semanas de grandes compras nos shoppings e se aprontam para passar o Natal, reunidas com suas famílias e com suas crianças entrando em férias de fim de ano. É um tempo para a família, para a alegria de estarem juntas, de acender velas e decorar árvores. A tragédia parece ter sido uma chocante premeditação do diabo, na sua inglória luta contra o bem e em busca da danação humana.

Foto: EFE
Embora tentemos medir e avaliar as tragédias, por meio de estatísticas e gráficos que comparam os números de mortos e feridos, elas nunca são facilmente analisadas e muito menos entendidas e aceitas como ocorrências casuais da vida em sociedade. A verdade é que essas ocorrências de assassinatos em massa, principalmente em escolas, estão começando a se situar num nível intolerável para uma nação desenvolvida.
Só no verão passado, os EUA tiveram que lidar com a tragédia da cidade de Aurora, no Colorado, quando outro demente disparou contra uma plateia de um cinema numa sessão da meia-noite. Ainda está na lembrança de todos os terríveis eventos na Escola de Segundo Grau e Técnica de Columbine, na Virgínia, açoitada por crimes em escala exagerada, saturados de ódio e insanidade. Os EUA se tornaram uma nação por demais acostumada com tais assassinatos em massa, a ponto de isso parecer ter se tornado num inextricável elemento da sociedade americana.
Todavia, nada poderia ter preparado o país para o que aconteceu na sexta-feira de ontem. O que ocorreu está sendo sentido de modo diferente, como se fora uma reação do mal – tido como uma entidade crível assim como Deus o é –, não apenas pela época, mas, principalmente pelo número de vítimas infantis.
“O silêncio dolorido é a resposta correta nessa hora”, como disse David Lantigua, um professor de teologia moral numa das muitas universidades católicas no país: “Nossa resposta inicial deve ser cuidadosa e não tentar explicar de pronto as causas para tal sofrimento”, escreveu ele num longo e angustiado texto sobre essa chacina de Connecticut. “Não estamos preparados como sociedade para enfrentar tamanho mal sem primeiro acudir as vítimas e as suas famílias. E isso nos pede ação social e silêncio. Apenas o silêncio nos tornará aptos a chorar, a sentir pesar e simplesmente agir para aliviar material e moralmente aqueles que estão chorando neste exato momento”.
O noticiário tomou grande parte da mídia ontem e ainda hoje, como os porta-vozes da polícia estadual usando linguagem padrão para descrever a integridade da cena do crime, as “diversas fatalidades” e o fato do “atirador ter falecido”. Não houve qualquer motive óbvio para um ato tão odioso, e o atirador foi erroneamente identificado pelas organizações midiáticas durante a maior parte do dia de ontem.

O QUE SE SABE ATÉ AGORA:
Ontem, os EUA testemunharam a segunda pior chacina na história americana, eclipsada apenas pela ocorrida naEscola Técnica Virgínia, em Columbine, em 2007.
Até a noite de ontem, eis o que era sabido a respeito da tragédia ocorrida na manhã:
· Adam Lanza, de 20 anos, abriu fogo contra os ocupantes de duas salas de aula na Escola de Primeiro Grau ‘Sandy Hook’ em Newtown, Connecticut, onde sua mãe, Nancy, era professora. Isso ocorreu aproximadamente às 9h e 30min da manhã.
· Lanza matou 20 crianças e 6 adultos na escola. Em seguida cometeu suicídio. Antes de sair de casa para a sua maligna e tresloucada ação, ele baleou e matou sua própria mãe, elevando o número de mortos para 28. A Polícia Estadual ainda está identificando as vítimas, mas é certo que o Diretor da Escola, Lafferty Hochsprung, está entre os mortos.
· O assassino em massa portava duas pistolas, uma Glock e uma Sig Sauer, e dirigiu o carro da sua mãe até a escola.
· Estudantes se esconderam dentro de armários e em outras salas de aula até que foram evacuados através de uma área de estacionamento.
· O irmão de Adam, de 24 anos, Ryan foi mantido sob custódia policial para interrogatório, mas não se acredita que esteja envolvido. Autoridades e muitas fontes da mídia se enganaram ao noticiarque Ryan tinha sido o autor dos disparos da chacina de hoje.
· A resposta do público à chacina tem sido forte, como esperada. O Presidente Obama derramou lágrimas numa declaração; os que advogam o controle de armas também iniciaram uma petição popular on-line e se juntaram numa manifestação pacífica em que portavam cartazes e velas acesas em frente à Casa Branca. Os governadores do Colorado e da Virgínia, bem como Mark Kelly, da Fundação Nacional de Tiro Esportivo também se manifestaram.
Título e Texto: Francisco Vianna (da mídia internacional), 15-12-2012

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