Francisco Vianna
Vinte e oito pessoas mortas em
mais uma chacina cometida por um demente contra uma coletividade estudantil,
desta vez na cidade de Newtown, na Escola de Primeiro Grau “Sandy Hook”, no
pequeno estado nordestino de Connecticut, EUA.
Entre elas vinte crianças do jardim-de-infância
e diversos funcionários e professores foram chacinados por um demente de vinte
anos de idade, fortemente armado, que adentrou a escola e abriu fogo
indiscriminadamente sobre tudo que se mexia que encontrou pela frente. O
possuído pelo mal também foi declarado morto na cena da chacina.
Foto: AD |
A sexta-feira de ontem
tornou-se a mais sinistra e maligna do ano para os americanos. Acabou sendo um
dia para que todos abraçassem suas crianças ou telefonassem para amigos e
parentes, ou ainda fizessem algo que pudesse trazer algum conforto e um pouco
de luz para aquele momento sombrio e assustador.
As notícias pioravam e
chocavam mais a todos a cada novo relatório sobre o maligno incidente. A cada
novo noticiário sobre o infausto, a cidade de Newtown se transformava em
qualquer cidade americana disseminando o sentimento de tragédia e indignação
por todo o país.
Na parte da tarde, a escala do
horror se tornou clara: vinte crianças haviam sido chacinadas juntamente com
mais seis profissionais que as protegiam. O crime ficou mais nauseabundo com a
notícia de que o assassino era filho de uma das professoras que ele havia
assassinado momentos antes em casa. Foi uma sexta-feira que seria apenas matricida,
mas que degenerou para a chacina.
Tudo isso ocorreu durante uma
época de festas e de dias santos, quando as pessoas em todo o país se preparam
para um fim de semanas de grandes compras nos shoppings e se aprontam para
passar o Natal, reunidas com suas famílias e com suas crianças entrando em
férias de fim de ano. É um tempo para a família, para a alegria de estarem
juntas, de acender velas e decorar árvores. A tragédia parece ter sido uma
chocante premeditação do diabo, na sua inglória luta contra o bem e em busca da
danação humana.
Foto: EFE |
Embora tentemos medir e
avaliar as tragédias, por meio de estatísticas e gráficos que comparam os
números de mortos e feridos, elas nunca são facilmente analisadas e muito menos
entendidas e aceitas como ocorrências casuais da vida em sociedade. A verdade é
que essas ocorrências de assassinatos em massa, principalmente em escolas,
estão começando a se situar num nível intolerável para uma nação desenvolvida.
Só no verão passado, os EUA
tiveram que lidar com a tragédia da cidade de Aurora, no Colorado, quando outro
demente disparou contra uma plateia de um cinema numa sessão da meia-noite.
Ainda está na lembrança de todos os terríveis eventos na Escola de Segundo Grau
e Técnica de Columbine, na Virgínia, açoitada por crimes em escala exagerada,
saturados de ódio e insanidade. Os EUA se tornaram uma nação por demais
acostumada com tais assassinatos em massa, a ponto de isso parecer ter se
tornado num inextricável elemento da sociedade americana.
Todavia, nada poderia ter preparado
o país para o que aconteceu na sexta-feira de ontem. O que ocorreu está sendo
sentido de modo diferente, como se fora uma reação do mal – tido como uma
entidade crível assim como Deus o é –, não apenas pela época, mas,
principalmente pelo número de vítimas infantis.
“O silêncio dolorido é a resposta correta
nessa hora”, como disse David Lantigua, um professor de teologia moral numa das
muitas universidades católicas no país: “Nossa resposta inicial deve ser
cuidadosa e não tentar explicar de pronto as causas para tal sofrimento”,
escreveu ele num longo e angustiado texto sobre essa chacina de Connecticut.
“Não estamos preparados como sociedade para enfrentar tamanho mal sem primeiro
acudir as vítimas e as suas famílias. E isso nos pede ação social e silêncio.
Apenas o silêncio nos tornará aptos a chorar, a sentir pesar e simplesmente
agir para aliviar material e moralmente aqueles que estão chorando neste exato
momento”.
O noticiário tomou grande
parte da mídia ontem e ainda hoje, como os porta-vozes da polícia estadual
usando linguagem padrão para descrever a integridade da cena do crime, as
“diversas fatalidades” e o fato do “atirador ter falecido”. Não houve qualquer
motive óbvio para um ato tão odioso, e o atirador foi erroneamente identificado
pelas organizações midiáticas durante a maior parte do dia de ontem.
O QUE SE SABE ATÉ AGORA:
Ontem, os EUA testemunharam a
segunda pior chacina na história americana, eclipsada apenas pela ocorrida naEscola Técnica Virgínia, em Columbine, em 2007.
Até a noite de ontem, eis o
que era sabido a respeito da tragédia ocorrida na manhã:
· Adam Lanza, de 20 anos, abriu fogo
contra os ocupantes de duas salas de aula na Escola de Primeiro Grau ‘Sandy
Hook’ em Newtown, Connecticut, onde sua mãe, Nancy, era professora. Isso
ocorreu aproximadamente às 9h e 30min da manhã.
· Lanza matou 20 crianças e 6
adultos na escola. Em seguida cometeu suicídio. Antes de sair de casa para a
sua maligna e tresloucada ação, ele baleou e matou sua própria mãe, elevando o
número de mortos para 28. A Polícia Estadual ainda está identificando as
vítimas, mas é certo que o Diretor da Escola, Lafferty Hochsprung, está entre
os mortos.
· O assassino em massa portava duas
pistolas, uma Glock e uma Sig Sauer, e dirigiu o carro da sua mãe até a escola.
· Estudantes se esconderam dentro de
armários e em outras salas de aula até que foram evacuados através de uma área
de estacionamento.
· O irmão de Adam, de 24 anos, Ryan
foi mantido sob custódia policial para interrogatório, mas não se acredita que
esteja envolvido. Autoridades e muitas fontes da mídia se enganaram ao noticiarque
Ryan tinha sido o autor dos disparos da chacina de hoje.
· A resposta do público à chacina
tem sido forte, como esperada. O Presidente Obama derramou lágrimas numa
declaração; os que advogam o controle de armas também iniciaram uma petição
popular on-line e se juntaram numa manifestação pacífica em que portavam
cartazes e velas acesas em frente à Casa Branca. Os governadores do Colorado e
da Virgínia, bem como Mark Kelly, da Fundação Nacional de Tiro Esportivo também
se manifestaram.
Título e Texto: Francisco Vianna (da mídia
internacional), 15-12-2012
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