quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Ordens Superiores: Quem Tem Medo da Camponesa?

Rafael Marques de Morais


Encontro-me no aeroporto prestes a embarcar com destino a Lisboa. Viajo com o Regedor Capenda Camulemba e a camponesa Linda Moisés da Rosa (Deolinda Moisés Bungulo), para participarmos numa audição organizada pela eurodeputada Ana Gomes, com o tema “Diamantes, Milionários, Violência e Pobreza nas Lundas”.

Após o cumprimento das formalidades migratórias, sentámo-nos na sala de embarque a conversar tranquilos. Vários oficiais do Serviço de Migração e Estrangeiros (SME), apressados e diligentes, vieram buscar a camponesa munidos com uma fotocópia do seu bilhete de identidade e levaram-na, de imediato, sem prestar quaisquer explicações. Estavam vestidos com arrogância típica dos funcionários públicos que recebem ordens superiores de alguém que manda com toda a arbitrariedade.

Passada meia hora, telefonei à Rádio Despertar a denunciar a situação. Pouco tempo depois foi libertada. Contou sobre o interrogatório a que foi submetida, sobre a sua viagem a Portugal, e sobre a ordem que receberam para impedir a sua viagem.

Segundo Linda Moisés da Rosa, um dos funcionários disse-lhe que ‘só o chefe sabe a causa do impedimento da sua viagem”.

Na verdade, no dia anterior, alguns indivíduos realizaram um trabalho para corromper a camponesa, no sentido de evitar a sua viagem. De acordo com o seu depoimento, caso desistisse da viagem receberia US $10.000.

Quando cheguei ao aeroporto, recebi um telefonema sobre a desistência da camponesa. Telefonei-lhe e ela prontamente manifestou a seu disposição de viajar e os entraves que havia encontrado para chegar ao aeroporto.

A camponesa vai também prestar o seu depoimento à justiça portuguesa sobre a queixa apresentada contra mim, em Lisboa, pelos generais Manuel Hélder Vieira Dias “Kopelipa”, Carlos Hendrick Vaal da Silva, Adriano Makevela Mackenzie, João Baptista de Matos, Armando da Cruz Neto, António Faceira, Luís Faceira e António dos Santos França “Ndalu”.
Trata-se do caso sobre o livro Diamantes de Sangue: Corrupção e Tortura em Angola, que publiquei em 2011.

Linda Moisés da Rosa perdeu dois filhos no espaço de dois meses. O primeiro foi enterrado vivo com mais 44 garimpeiros, por soldados das FAA, enquanto o segundo foi morto à catanada por um guarda da Teleservice.

Os generais queixosos são sócios na Sociedade Mineira do Cuango, através da Lumanhe, e da Teleservice.

Bom, vamos embarcar.
Título e Texto: Rafael Marques de Morais, Maka Angola, 05-01-2014

Não ficou claro se, afinal, a Linda Moisés viajou para Lisboa...

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